quinta-feira, 29 de abril de 2010

Qual é mesmo a questão?

Parece-me ser um assunto recorrente, que vem sempre à tona, a necessidade de identificação nossa com alguma coisa, algo ou alguém. É como se isso moldasse o nosso pensamento, estabelecesse relações com a sociedade, com as instituições, com os outros.

Ser ou estar? Eis a minha verdadeira questão. Não é uma angústia que mata, mas provoca uma boa discussão. Coloquemos o teatro na berlinda. Já fiz teatro de todo o tipo e gosto, performances, e algumas coisas que não posso classificar – poderia, se fosse menos exigente.

Hoje tenho alguns outros que pensam comigo, teatro de grupo... A Pequena Companhia de Teatro ainda está em processo e vai sempre estar, pois é isso que faz com que a vida se estabeleça.

Quando da vivência no dia seguinte da apresentação do espetáculo Entrelaços, na Semana de Teatro do Maranhão/2010, eu utilizei a terminologia teatro físico, mas no sentido de um teatro que exige do físico do ator, e somente. Só que alguém levantou algo acerca da esterilidade proveniente do Teatro Físico, relacionado com a mímica contemporânea.

Nunca havia me aprofundado sobre o Teatro Físico. Na penúltima vez que estive em São Paulo, tive a oportunidade de fazer duas atividades na Cia. Luís Louis. E aproveitei para comprar a dissertação de mestrado dele pela PUC/SP, que trata sobre “A comunicação do corpo na mímica e no teatro físico”. Mesmo sabendo que uso a mímica no espetáculo Entrelaços e no Pai & Filho (quase ninguém percebe, mas alguns movimentos são muito pontuados), alguns pontos levantados pelo Luís têm um sentido enorme no que trabalhamos e pensamos. Nem ouso perguntar se o que fazemos é Teatro Físico, não é isso. O que insisto em questionar é essa necessidade monstruosa de ter que identificar algo com alguma coisa. Parece-me que as relações que fazemos são mais amplas, mais rizomáticas, e com isso, nossos pontos de contato são múltiplos, não dá para fechar em um único pensar, em uma única escola. Um teatro pequeno e múltiplo, talvez.

Essa conversa rende muito. Aqui é só um compartilhamento do que estou lendo e refletindo. Mesmo com alguns dias sem subir nos palcos, parece-me uma eternidade. Talvez o meu ser saiba o que sou, de fato, e esse conflito seja somente a repercussão de minha ansiedade para com o próximo ano.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Quanto vale ou é por quilo?


Inúmeros leitores cobrando o meu atraso. É que ontem foi o ensaio pré-geral e hoje o ensaio geral da Tosca. Muita correria. Na quinta a estreia e na sexta embarco para Buenos Aires, aí sim, uma semana para descansar da montagem de Pai e Filho, conhecer minha sobrinha e pensar na eterna questão: nosso teatro é viável? Falo financeiramente mesmo! Quais são os mecanismos e instrumentos que as companhias de teatro têm para poder sustentar o seu dizer?

“...Obra de arte não é produto (afirmação herética para os liberais de plantão). Torna-se produto dependendo de uma série de fatores e circunstâncias que dialoguem com o mercado vigente. Se uma obra, posteriormente à sua criação, polariza opiniões acaba afugentando os investimentos que tem por prática valorizar o consenso. Porém uma obra digna não deve abrir concessões no momento da formulação do seu dizer: está aí a origem que incompatibiliza obra e mercado. Para uma opção artística que não vise lucro o único caminho é o subsídio (palavra maldita se o dicionário for neoliberal) - sempre e quando a pesquisa invista em dizeres outros que aqueles consensualmente assimilados pelos espectadores acostumados ao entretenimento ou aqueles disseminados pela cultura popular. Essas atividades garantem bilheteria no primeiro caso e recursos públicos no segundo...”

Lendo esse fragmento de um manifesto jamais publicado me pergunto: serão sempre trabalhos artísticos outros e paralelos que aportarão recursos para a sustentação do meu viver e, por consequência, meu fazer? Nesse caso, não é a mesma coisa que vender pizza? (risos) Conflito de um homem de meia idade (nunca soube, efetivamente, que idade é essa).

quinta-feira, 22 de abril de 2010

3D: Dificuldade - Distância - Dor

Marcelo Flecha está em Sâo Paulo. Jorge Choairy em São Luís. Eu, em Imperatriz (ainda esta semana indo para Palmas-To ficar 45/50 dias desenvolvendo um projeto). Antes de nos separarmos, consignamos que faríamos manutenção do espetáculo, cada um em sua cidade, para que, quando nos reencontrássemos em Imperatriz, para as apresentações em junho), pudéssemos estar menos frios. Essa manutenção, seria: alongamento diário; outra atividade física qualquer; uma origem semanal para, inclusive, fazer uma espécie de mímica dos movimentos da personagem no espaço, e bater o texto.

Agora, vamos ao 3D:

A diificuldade - Uma casa em reforma. Parte dela ocupada. Sem espaço para concentrar-se. Ninguém que possa bater o texto comigo. Um desejo enorme de nada fazer. Outros pensamentos. Outras canções.

A Distância - Tudo parece não existir. A sensação é de que não estou aqui, que não tenho espetáculo para apresentar, que não faço teatro. Entendem exílio? Se em São Luís eu discutia e fazia teatro diariamente, aqui não falo sobre isso. É como se me fosse proibido refletir, dissertar sobre. Tudo é muito confuso e desnecessário. 

A Dor - Parece que estou aqui faz uma eternidade. Demorei dias para desfazer as malas, começar a limpar uma casa engraçada meio que abandonada e suja. As roupas ainda não foram lavadas. Ontem tive o cuidado de fazer minha primeira refeição digna. O desamparo é e-nor-me. Esta não é minha cidade. Este não é meu espaço. Sempre me queixo da inexistência de pertencimento para com o espaço que vivo. Acho que encontrei o meu, e não é esta cidade. Essa dor me consome a ponto de tentar amenizá-la fazendo o mínimo de esforço possível com o corpo, como se ele quisesse hibernar pela ausência de comida, como se não tivesse forças, como se meu espírito estivesse doente...

Decidi fazer alongamento hoje à tarde (ainda estamos nas primeiras horas do dia). Vou colocar uma música, me forçar a isso. Bater o texto sozinho... 

Quando o caminhar requer companhias e quando a temos, deixamos de sentir o prazer do sozinho. Sinto falta da sala de ensaio.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mudança radical


Depois do processo de montagem de Pai e Filho que levou cinco meses, me encontro em São Paulo fazendo a assistência de direção da ópera Tosca de Puccini dirigida por Fernando Bicudo. É inevitável que comparações aconteçam na minha cabeça. Sempre me inquietou e incomodou o tratamento que a ópera dá à representação ou à interpretação, como preferem os profissionais da área. A música e o canto centralizam a comunicação, o que é normal. Mas o que poderia gerar um grau de modernização e aproximação de um novo público para a ópera seria uma construção dramática mais contundente e convincente das personagens. A formula aplicada hoje é antiga. O fato de não haver escolas de ópera no Brasil faz com que seus intérpretes dediquem longas jornadas a aulas de música e canto e muito pouco tempo ao trabalho dramático. Tudo fica quase intuitivo. Remonta à idéia do teatro em prosa de meados do século passado, quando a boa interpretação dependia somente do talento, do dom, e não do exercício. Uma atenção a esse ponto e teríamos pessoas se aproximando dessa linguagem, que, salvo detalhes, é bela.

Por outro lado a ópera nos ensina. Nós, que fazemos e pesquisamos teatro, lutamos desesperadamente para tentar sistematizar um fazer que nós leve à realização da obra. A ópera faz isso há séculos. Vinte dias. É o tempo de montagem da Tosca em que estou trabalhando. Tudo está sistematizado. Tudo está codificado: canto, música, cena, movimento, partitura, cronogramas de ensaio, tempo, necessidades físicas de repouso para a voz, etc. É claro que não dá para comparar, apesar de estar comparando, mas conseguir um mínimo de aproximação na qualidade de sistematização que a ópera tem tornaria o nosso fazer teatral muito mais sólido, objetivo, seguro... Ouvindo essas três últimas palavras, não sei bem se conseguiríamos conviver tão bem com elas, afinal, nosso fazer sempre beira o abismo.

sábado, 17 de abril de 2010

Deixe que digam, que pensem, que falem - 7

Sandro Fortes, em seu blog - O estranho mundo de San -, postou uma crítica sobre o espetáculo. Clique aqui para lê-la.


Abaixo, o texto na íntegra.

Teatralidades

Existem peças que são verdadeiras peça-para-cair-fora! Mas a montagem de "Pai e Filho", inspirada na "Carta ao pai", de Kafka, pelo Pequeno Grupo de Teatro, aqui do Maranhão, ao contrário, mantém você preso à cadeira, atento a palavras, sons e aos menores gestos.

É sempre bom destacar quem tem feito algo por aqui, levando em conta nossas iniciativas "culturais" sorumbáticas. A adaptação de um Kafka monologal de uma carta jamais enviada ao seu pai que, encenada, ganhou a forma de diálogo (arrasador) entre pai e filho, ficou a cargo do sempre produtivo Marcelo Flecha.

O resultado é brilhante: falas cortantes e contraditórias, que se anulam e desarmam umas às outras criando uma situação inescapavelmente conflitante num espaço de confinamento sepulcral. É preciso prestar atenção ao jogo cênico entre os atores, que estão perpetuamente labutando dentro de casa, o que faz pensar na obrigação moral do trabalho como parte da mentalidade burguesa. A casa dos dois é escura e triangular, a porta se transforma em mesa e escada, os livros e as roupas são costuradas pelos atores. O que se vê e ouve é um rompante desafiador (entre os atores Cláudio Marconcine e Jorge Choairy) como aquele estabelecido entre os mendigos de Beckett (autor altamente influenciado por Kafka), e fica estabelecido um jogo de gato e rato - negativo, sinistro, e terrivelmente irônico: ou seja, o universo de Kafka traduzido e revivido com direito a alusões a outras de suas obras, como A Metamorfose ou O Julgamento. Na peça, o filho é como um inseto prestes a ser esmagado pela presença atemorizante do pai. Mas cabe a ele desfiar a voz desafiadora (do escritor), embora essa voz apenas ressalte a própria derrota, a impotência e o fracasso.

Esta é - inegavelmente - a melhor peça de Flecha até aqui, a mais madura, e com uma característica impactante: a precisão. Não há improvisos, palavras deslocadas ou gestos gratuitos em cena - coisa que já vi em tantas outras montagens pra lá de amadorísticas por nossas terrinhas.

O espetáculo tem uma espécie de formato pocket: junta o público e a dupla de atores no mesmo palco. Foi a primeira vez que subi ao palco do Teatro Arthur Azevedo, embora a platéia elevada ao palco não interaja com o que veja (apesar da mania boba de alguns de fotografar os atores com seus celulares)! Uma sensação de claustrofobia e perigosa proximidade toma conta da plateia silenciosa. Há momentos de tanto silêncio tenso que tive a sensação de que se caísse um alfinete no chão este seria ouvido por todos.

E pra terminar, acho muito importante ressaltar: não presenciei bocejos nem ouvi reclamações do público ao fim da apresentação. Todos aplaudiram de pé. Este foi um grande milagre do Pequeno Grupo de Teatro.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Que tempo é esse?

Tempo de colher. Tempo de plantar - não nesta ordem. O processo de montagem se estabeleceu. O espetáculo foi posto à cena. Um pequeno recesso. Manutenção das personagens. Viagem. Saudades. Alguma coisa se partiu - e não foi a ponte. O corpo exige um preparo que o tempo distante não requer. A ansiedade residente é a resposta do espírito à mudança do cotidiano. Minha rotina não está sendo a mesma. Já em Imperatriz, a cidade me consome o resto de ar. É que preciso respirar e a cidade provinciana não me permite. E dizem que aqui nada acontece, e que as pessoas são apáticas frente a um teatro que não se sustenta, que não nos envolve. Eu sou avesso a isso. Sinto saudades da dor do corpo, do suor do Jorge Choairy no meu e da ladeira que dividia meu caminho. E de outras coisas e pessoas não menos importantes. Mas, não quero elencar. Este tempo não é de fotografias. Estou percebendo que agora sou ainda o mesmo ser de antes. Distancia-se da cena, mas o ator fica, eufórico ou anestesiado mediante o tempo que não retorna e não passa. Sinto-me estanque, como se fosse um couro de boi a ser curtido para virar cinto e sapatos. Essa sensação se contrapõe a uma ânsia de ser abatido. Hoje, sou somente mais um. Não sei se isso é bom ou se é ruim. - "Vou dormir".

 Quarto vídeo do processo


terça-feira, 13 de abril de 2010

Vida longa!


Fazemos teatro. Com tudo o que isso representa. O espetáculo apresentado neste último fim de semana mostrou o nosso fazer. Revelou como construímos a nossa jornada. Cada gesto, cada gota de suor, cada elemento, cada ação ali exposta serviu para presentificar o nosso querer. Nossas aflições e desejos se mesclaram para formar a argamassa que sustenta a cena. Nosso teatro é o que vocês viram. Foi bom. Casa cheia. Tudo caminhou bem, mas é só o começo. A vida de um espetáculo começa na sua estréia. A preparação é apenas a gestação. Vida mesmo, só agora: primeiro engatinhando para poder caminhar e depois correr. A maturidade vem com o exercício. Nós mesmos, pais e mãe desta proposta, não conhecemos ainda muito bem o resultado. Vamos avançar nos surpreendendo com cada mudança, cada correção, cada alteração necessária para que a maturidade chegue. Na verdade, acho que nem nós nos conhecemos, e esse conhecimento é fundamental para que o espetáculo sobreviva. As apresentações em Imperatriz, Balsas e Riachão serão os primeiros passos de uma longa vida. É o que todos desejamos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quando estamos prontos?

- Não reclame da comida!

Esta semana é a da estreia. Depois de uma boa jornada de ensaios - estamos nessa desde início de janeiro -, estamos prontos. Estamos? 

Ensaiar equivale a ficar trancafiado em uma sala com um outro ator - neste caso -, e com o encenador. O ator tem as sensações. O encenador detém a visão do todo. E o público, o que cabe a ele? 

A partir da primeira apresentação, o espetáculo é dos atores. É uma outra etapa. O público se fará presente - presumimos nós. As interferências são inevitáveis. Como se outros estivessem na sala de ensaio além dos atores e do encenador. O diferencial é que não mais interromperemos o ensaio. Pau dentro, como chamam. Prazer garantido? Eu já disse que gosto mais do processo? Gosto de ficar nas preliminares eternamente. A penetração é meio irrelevante. Não que eu despreze o público. Não é isso. Só que o prazer é menor.

O tempo da costura acaba. Inicia-se a etapa do uso

Mudando de assunto... O ritmo, em função da estreia, está alterado, fazendo com que a nossa rotina seja mais flexível. Anteontem e ontem a imprensa se fez presente nos ensaios. Ontem, só passamos uma vez o espetáculo na íntegra. Hoje, chovendo ou fazendo sol, mais imprensa, agora fora do espaço de ensaio. Mais tarde, ensaio técnico e geral, já no palco do Arthur Azevedo. 

Pareço mais concentrado, tentando perceber melhor a energia a ser modulado e os detalhes. Hoje é um bom dia. Dias contados na Ilha. Depois, uma pausa, e o retorno para a temporada de Imperatriz, Balsas e Richão. Mas, os encontros das quintas-feiras por aqui permanecem.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Deixe que digam, que pensem, que falem - 6

Alex Palhano comenta sobre o espetáculo. Para acessar o blog e ler a matéria, clique aqui.



Abaixo, a íntegra dela.

O FILHO

Quem ainda não conhece a faceta de ator do DJ Jorge Choairy terá não uma, mas três oportunidades no próximo fim de semana. É que junto com Cláudio Marconcine, sob direção de Marcelo Flecha, ele volta aos palcos após um hiato de quatro anos com o espetáculo “Pai & Filho”, baseado na obra “Carta ao Pai” do tcheco Franz Kafka, autor, também, do perturbador “A Metamorfose”.

“Carta ao Pai” será encenada no palco do Teatro Arthur Azevedo nos dias 09 (sexta), 10 (sábado) e 11 (domingo), às 20h. Todas as apresentações terão entrada gratuita, e os ingressos poderão ser retirados uma hora antes da cortina se abrir.

A última fez que o DJ mais cult de São Luís mostrou seu trabalho como ator foi entre os anos de 2005 e 2006, no peça “O Acompanhamento”, em que dividiu a cena com César Boaes, em mais uma trabalho da Pequena Companhia de Teatro.

Site AP deseja uma boa estreia para a trupe.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O panfleto

Deixe que digam, que pensem, que falem - 5

Zema Ribeiro publicou em seu blog. Clique aqui para conferir.

Deixe que digam, que pensem, que falem - 4

O portal Praça da Cultura publicou matéria sobre o espetáculo no dia 11 de março de 2010. Para ter acesso, clique aqui


Abaixo, matéria na íntegra.

Espetáculo 'Pai e Filho' será apresentado em Imperatriz


A obra foi produzida partir do livro "Carta ao pai", de F. Kafka e terá temporada de estreia nas cidades de São Luís, Imperatriz, Balsas e Riachão, com entrada gratuita, graças ao prêmio Miryam Muniz da Funarte/Minc/governo federal. 

Segundo o ator Claudio Marconcine "estamos postando nossas impressões sobre o processo de montagem no blog (ver link abaixo) seja um seguidor e garanta sua senha para assistir a uma das sessões nas cidades contempladas na temporada de estréia"

No orkut tambem você encontra a comunidade é so procurar por "pequena companhia de teatro."

Serviço

No elenco, Cláudio Marconcine e Jorge Choairy. Na direção, Marcelo Flecha. Na produção, Kátia Lopes.

As cidades contempladas com a temporada de estreia, são: Imperatriz, São Luís, Balsas e Riachão, num total de 15 apresentações, todas gratuitas.


O treinamento dos atores já teve início, e está acontecendo de segunda a sexta, das 16 às 20h, na Sala do Coro, no teatro Arthur Azevedo.


Durante todo o processo estaremos postando fotos, vídeos e impressões sobre a montagem, que tem previsão de estreia no mês de abril deste ano.

Clike em: http://pequenacompanhiadeteatro.blogspot.com/

De novo o olhar


É minha última postagem antes da estreia. Venham ver. Ficou bom. É sexta-feira agora, no Arthur Azevedo. Dúvidas? Nenhuma (risos). Só fico me perguntando se as coisas vão bem mesmo ou se estou “torcendo” para que estejam bem. Se o olhar não está contaminado pelo entusiasmo ou pela necessidade de acreditar. Friamente consigo identificar pequenos ruídos que estamos corrigindo nesses últimos dias, mas nada que comprometa efetivamente o todo. O olhar virginal, aquele do espectador real, não é tão severo e, nesse caso, o espetáculo como um todo me parece contundente. Por isso me pergunto: posso estar tão seduzido a ponto de não ver? Tento me responder distanciando ainda mais o olhar e chego a ser cruel, o que também é perigoso. Um olhar pode se enganar tanto? Creio que não. Nesta reta final continuarei atento à procura da verdade, torcendo para que meu olhar continue sóbrio, já que, para estar bem como diretor, preciso gostar do que vejo sem o entusiasmo do espectador, este seria nocivo para a encenação. Se bem que entusiasmo não é lá uma palavra muito comum na nossa companhia. Somos mais pela acidez, pela crueldade, pela aspereza, pela ironia... Elogios são a conta-gotas. Não digo que isso seja bom. Também não digo que seja ruim. Apenas nos ajuda a manter um olhar crítico e distanciado de tudo o que fazemos: se algo passa incólume pelo crivo dos quatro membros desta companhia, o perigo de errar se reduz a quase zero (risos). Confesso que sinto uma certa inveja desses coletivos de artistas que se festejam entre si, onde a rasgação de seda é uma constante, mas, como diria Zaqueu na espetáculo Entre laços, cada um com cada uma.

P. S.: Acrescento os parênteses com a palavra risos apenas para que saibam que era para ser engraçado (risos).

Deixe que digam, que pensem, que falem - 3

Pedro Sobrinho publicou em seu blog matéria sobre o espetáculo. Para ter acesso, clique aqui, ou leia a transcrição abaixo. Eu e Jorge Choairy participamos do programa comandado por Pedro Sobrinho no domingo, dia 04 de abril de 2010, na rádio Mirante FM.


A pequena companhia de teatro estreia nesta sexta-feira, dia 9, sua mais nova produção, “Pai & Filho” – a partir da obra “Carta ao Pai” de Franz Kafka. No elenco, Cláudio Marconcine e Jorge Choairy vivem respectivamente o pai e o filho. A direção é de Marcelo Flecha. O trio participa da edição deste domingo, 4, do Plugado, na Mirante FM. O programa vai ao ar, a partir das 19h.

A temporada se estende pelos dias 10 e 11 no palco do teatro Arthur Azevedo sempre às 20h. A entrada é franca.

Única produção teatral maranhense a ser contemplada no Prêmio Miryan Muniz 2010 – FUNARTE de montagem de espetáculo, “Pai & Filho” também vai percorrer em sua temporada por três cidades do interior maranhense, Imperatriz, Balsas e Riachão.

A idéia é ampliar esse número de cidades pelo interior maranhense, assim como buscar visibilidade também fora do estado, participando de festivais e mostras – diz o diretor Marcelo Flecha.

O espetáculo “Pai & Filho” mais uma vez traz em sua bagagem a marca registrada deste diretor. Marcelo vem experimentando em seus últimos trabalhos o que ele denomina de teatro mínimo. Um teatro cru, onde o ator reina em cena, sem virtuoses, na busca de composições mais orgânicas em prol de uma boa história.

Seus últimos trabalhos têm em comum exatamente essa pretensão. Entrelaços (MA – 2009), Deus Danado (RN – 2007), O Acompanhamento (MA- 2005) e Medéia (RN – 2005). Espetáculos que definem muito bem o que Marcelo Flecha entende como seu fazer teatral . “Nossa arte é feita de vísceras, calos, dores musculares, cortes nos dedos, ossos quebrados e a utópica fantasia de conseguir dizer tudo de uma vez, para nunca mais ter que fazer”.

Com este novo trabalho não poderia ser diferente. A encenação de “Pai & Filho” desenvolverá uma linguagem crua e visceral para discutir a relação entre poder e submissão, originada na estrutura familiar e disseminada na estrutura sóciocultural contemporânea.

Na peça, um homem aprisionado e oprimido pelo poder do pai, procura enfrentá-lo, mas o discurso se reflete no pai como espelho, retornando para si e afastando a possibilidade da quebra hierárquica familiar para que o diálogo se estabeleça.

A reflexão funciona como um instrumento claro de amadurecimento social, sobre o conflito de gerações e a dependência econômica utilizada no seio familiar como instrumento de poder.
Na tentativa de diminuir a distância entre o espetáculo e a plateia e auxiliar a companhia na avaliação da montagem, será realizado um debate no final de cada apresentação, estabelecendo um diálogo com o espectador sobre a encenação e a sistematização das ações da companhia. Esta democratização de informações também pode ser acompanhada na página eletrônica da companhia (http://www.pequenacompanhiadeteatro.blogspot.com/), onde os membros da companhia relatam suas impressões desde o processo de ensaios até a montagem da peça.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O teatro é sempre um primeiro de abril?

Já ouvi muita coisa a respeito do teatro. Desde a "incorporação de personagens," passando por "o teatro imita a vida" e o "no teatro tudo é falso".

Meu teatro é extracotidiano. Foge aos padrões. Ele não imita a vida, mas sim faz uma releitura dela. E personagem não se incorpora, se representa. E se falarmos sobre obra de ficção, digo que o buraco inexiste. Teatro é vida. Há uma outra realidade modificada no palco (ou na área de jogo).

Terceiro vídeo do processo

Personagens se tornam reais a partir da verdade cênica do ator. Emoções são possíveis quando a organicidade se estabelece entre a cena que se mostra e quem especta. O ato de se ir ao teatro tem que ser ums ato de vida ou de morte. Não dá para ir comer pizza depois (meu amigo chama a isso de teatro gastronômico). Se for, vai ter uma indigestão. Teatro reflexivo é o mote. 

Teatro não tem a ver com primeiro de abril. Tem a ver com dias 09, 10 e 11... de abril. A vida se redesenha nas interfaces do ator, do encenador e do seu público - que, no nosso caso, não passará de 150 por récita.

Não sei mentir. Por isso, faço teatro. Do contrário, faria televisão ou cinema/vídeo. Meu tempo é o agora. O devir é passadista. Moderno de menos (risos).