domingo, 13 de março de 2016

O que você está fazendo com a sua vida?


Contam que o Rei Alexandre, ao ser inquirido pelo filósofo Aristóteles com a pergunta “– O que queres ser quando crescer?”, teria respondido, num rompante premonitório, “– Quero ser Grande!”. Claro que a anedota foi inventada por mim, e o trocadilho infame é mero preâmbulo para dar consistência histórica à tese que a seguir desenvolvo, pois depende da sua atenção para que não se torne lixo eletrônico.
A grande pergunta da vida é: o que você quer ser quando crescer? Agora, o caro leitor, pensa-me caçoador, mas não brinco; a mais importante resposta que um ser vivente deve se responder antes de morrer é: o que é mesmo que eu quero ser? A resposta a essa pergunta pode ser dada na infância, na juventude. Contudo, a grande maioria das pessoas só consegue respondê-la na maturidade e outras, passam a vida sem encontrar a resposta.
A fortuna contida nessa resposta, quando elucidada a tempo de poder prosseguir por um resquício de vida, consolida o foco de toda uma conduta e, concomitantemente, aguça a construção de um futuro para essa vida, a partir de ações presentes capitaneadas pela objetividade oferecida pela resposta.
Para dar generalidade à tese, usarei como exemplo uma vida qualquer: a minha. Quando consegui responder que queria ser um encenador, fazer teatro, ser um homem de teatro – isso aconteceu no século passado –, antepararam-se, na minha trajetória, toda sorte de enlaces que desviariam minha caminhada e afetariam o futuro, que é meu presente hoje.
Ao recusar os vários convites para ser diretor do Teatro Arthur Azevedo (não se espantem, o primeiro ocorreu há mais de uma década), se aparentemente eu desprezava uma oportunidade única, o envolvimento com essa jornada me levaria, no mínimo, três ou quatro anos de serviço público e, consequentemente, amortizaria a atenção dada ao que considerava o principal projeto da minha vida, e que hoje atende pela alcunha de Pequena Companhia de Teatro.
Ao responder à pergunta do milhão, também respondia que não desejava ser funcionário público. As coisas são excludentes? Não. Contudo, temos de convir que a divisão de foco e atenção tendem a modorrar uma ou outra opção, alargando o tempo necessário para a conquista dos dois objetivos. Ao responder à pergunta a tempo, eu concentrei esforços, e jamais me afligiram o músico que não fui, o jogador que ficou, o chef que não cozinhou, o poeta que não publicou, o motorista de ônibus que não dirigiu – sim, na infância, quando inquirido com a peremptória pergunta, eu respondia: Quero ser jogador de futebol e motorista de ônibus.
Toda essa pluralidade, contida em qualquer ser humano inquieto, permaneceu e foi exercitada como instrumento de aperfeiçoamento do meu oficio – ser encenador –, mesmo as atividades que aparentemente não tivessem maior relação, como o motorista que sou nas viagens da Pequena Companhia de Teatro pelo país afora. Entretanto, não absorveram maior tempo que o necessário a qualquer atividade paralela, imprescindível para a distração, o entretenimento, o relaxamento.
Ao me apresentar como cobaia, ofereço uma alternativa de reflexão sobre o quanto o permanente titubeio pode ser lesivo para a nossa passagem pela vida, tendo em conta que o que fazemos é mero passatempo de existência, até chegar o momento de poder responder à segunda e derradeira pergunta mais importante: o que fiz da minha vida?