Apesar de abrir as portas da sua sede em
2013, o ano de 2015 está oferecendo uma experiência inédita para a Pequena
Companhia de Teatro: a de abrir a casa para outros grupos se apresentarem –
experiência iniciada no dia 31 de outubro, com o espetáculo “Para uma avenca
partindo”, de Josué Redentor.
Agora, durante a 10ª Aldeia Sesc
Guajajara de Artes, nossa sede está sendo ocupada com diversas atividades:
ontem as palestras “Ser indígena hoje em contexto urbano, desafios e
resistência” e “Ocupa árvore”; amanhã o lançamento da revista “Palavra”, às
19h, e “Para uma avenca partindo”, às 20h30; terça o espetáculo “A escrita do
Deus”, às 19h; e quarta “Velhos caem do céu como canivetes”, às 19h.
Essas experiências embrionárias servirão
para fazer uma avaliação detalhada, e definirmos os rumos que tomaremos em 2016
no que se refere à cessão do nosso espaço para atividades outras que não
aquelas desenvolvidas pela Pequena Companhia de Teatro.
"O fato, como tudo o que se refere ao universo teatral, me faz refletir, indagar, arguir, questionar, e escrever para você, meu discreto confidente."
Nós quatro, membros da companhia, temos
a certeza de que não queremos que nossa sede se torne uma casa de aluguel, e
que, como várias experiências que conhecemos, tenhamos limitado nosso
desenvolvimento artístico por comprometermos nosso espaço de trabalho com
pautas, locações, agenda, calendário.
Daí em diante ainda não definimos que
tipo de regimento ordenará essa demanda, portanto, enquanto a discussão interna
se desenvolve, empresto minhas impressões e reflexões iniciais a este blog,
instrumento onde despejo minhas opiniões, surtos, desatinos, problematizações e
devaneios.
Penso que o ideal seria que tivéssemos
muita vontade de abrir nossas portas para outras produções, mas que nossa
própria produção fosse tão intensa – com temporadas regulares de espetáculos,
oficinas, vivências, treinamentos, processos, seminários – que se encarregaria
de atrapalhar essa vontade, e só disponibilizaríamos as fendas que surgissem na
agenda durante o ano. Seria o melhor dos mundos, tendo em vista que tanto
trabalho nos tornaria abastados, e eu esbanjaria dinheiro para minimizar minha
dificuldade em lidar com ele.
Não sendo essa a realidade – e creio que
jamais será, mesmo fazendo um esforço
para me livrar da pecha de pessimista contumaz –, acredito que a linha
curatorial da cessão do nosso espaço deveria obedecer critérios que
identificassem o diálogo entre o nosso fazer e a produção que se apresentasse
aqui; dessa forma, ofereceríamos ao nosso espectador um recorte específico de
produção teatral (ou musical, literária etc.), focalizado na pesquisa, no
desenvolvimento de pensamento, na valorização da arte como instrumento
provocador.
A única certeza que me impregna é que
essa disponibilização deveria ser secundária. Durante sete anos sonhamos com a
possibilidade de ter uma sede para conquistarmos independência criativa,
autonomia espacial, alargamento técnico, desopressão financeira. Esse foi, é, e
deveria continuar sendo o nosso foco – você, leitor tenaz que chegou até este
ponto da postagem, não sabe a satisfação que dá ter o espaço que se quer para
se produzir o que quer que seja sem a pressão de ter que produzir dinheiro para
pagar o aluguel.
Como sempre digo, somos privilegiados, e
temos que ter o cuidado para que nosso privilégio não se torne uma prisão
pautada pelos outros, como quando precisávamos pedir para poder experimentar,
pedir para poder ensaiar, pedir para poder apresentar – condição que durante
sete anos vivemos e que, sabemos, não queremos iterar.