Experiência
& exigência caminham juntas e a passos largos. É fácil notar o quanto os três
anos que separam Pai & Filho de Velhos Caem do Céu como Canivetes
acentuaram nosso nível de exigência. Homens mais maduros, artistas mais
exigentes. Exigência aguçada, tempo dilatado: de 1° de abril para cá, vão-se
quatro meses de ensaio e este processo de montagem já deixou claro que exige mais.
Os sessenta e sete ensaios necessários para a estreia de Pai & Filho já foram
ultrapassados e a modelagem continua, como falei aqui. O binômio (experiência +
exigência) deveria resultar em competência, mas a arte não permite fórmulas,
por isso a dúvida, a ansiedade e o fracasso de que Cláudio fala logo abaixo
desta postagem. Vejo este momento com serenidade e alegria, porque o nível de
exigência que os atores da Pequena atingiram é o desejo de consumo de qualquer
diretor de teatro, sempre e quando este tenha calos suficientes como para
maturar a exigência necessária para o desafio proposto. O que tento dizer é que a sensação de
dificuldade nada mais é do que uma consequência do nível de exigência adquirido.
De gentes [sic] tão preocupadas, comprometidas e exigentes porcaria não pode sair.
Pode, mas não é o caso. Por isso minha serenidade. Gostaria que pudessem ver o que vejo,
particularizar o olhar de cada um dos leitores deste blog para cada nuance,
cada gesto, cada suspiro que constrói um espetáculo. Suspeito que o momento
mais rico do teatro fique para o encenador, aquele primeiro espectador que vê o
que ninguém verá – sutilezas de qualquer processo. Por isso a segurança, a
certeza. Se meu olhar não anda falhando ou fiquei estrábico e não percebi,
creio que ofereceremos um bom espetáculo. Palavra de caolho.
domingo, 28 de julho de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Sobre dúvidas, ansiedade e fracassos
O céu está uma só coisa cinza... |
Estaremos iniciando a circulação de Pai & Filho pelos SESI-SP, a partir do dia 01 de agosto de 2013. Por isso, este mês tivemos que abrir um espaço na jornada de ensaios de Velhos... para um reencontro entre Próspero e seu filho. Constamos, mais uma vez, que o Quadro de Antagônicos funciona. As personagens continuam a existir. Agora, faço parênteses (há uma certa aura de expectativa na montagem de Velhos... por ene motivos: eu e Jorge C. contracenando em duas montagens seguidas, isto é, a Companhia de fato está formando repertório com seu elenco; distanciamento das personagens entre o Pai/Ser Humano & Filho/Ser Alado; constatação da competência ou "in" de seu núcleo artístico em distanciar uma obra pronta (sic) de outra em processo, e por aí vai).
Azul. O céu está azul. |
Aqui começa a residir a ansiedade...
Minha vida está se resumindo a contar: conto as páginas que faltam para decorar; as horas de ensaios; as viagens que temos que fazer; os dias para o resultado dos projetos; as repetições dos exercícios na academia; os beijos dados; as horas de sono que passo; as idas ao banheiro nas madrugadas; os litros de água sorvidos durante os dias; os orgasmos. Dia desses me peguei contando as batidas do meu coração... achei-as descompassadas. A prioridade sempre foi respirar teatro, não me asfixiar nele. Refletirei sobre isso.
Em tempo: As fotos são de Marcelo F., e ele vai achar que pretendo desistir de algo.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
O dia é hoje
Foto de Marcelo F. |
Enquanto não tomarmos para nós a cronologia das horas, o mundo será o que é. Meu hoje é carregado de repetições com sentido, que fazem de mim um ser identitário. As segundas-feiras são abarrotadas de terças, de quartas, de quintas e de sextas. Os finais de semana são os dias do lixo. Paulinho Moska ainda faz um sucesso com a música "O último dia". Meus dias são sempre "o último dia", e não tenho como correr disso. A pulsação, o respirar e transpirar, as relações e os conflitos são característicos de quem vive seu derradeiro momento. Tudo é sempre, sempre e sempre muito, muiiiiiiiiiiiiito urgente. O teatro não me enternece. Talvez, no instante do gozo, eu me sinta um pouco deslocado do calendário das horas e me percebo um pouco na onda das ruas, no oba oba, na felicidade de um instante. Tirando a exceção, é regra: o dia é hoje.
Ensaios são urgentes. Apresentações, não. Mas, os orgasmos são surpreendentemente necessários ao azeitamento das engrenagens. Um homem feliz é aquele que transa e faz teatro. Minha vida deveria ser regra; o que sobra é exceção.
domingo, 7 de julho de 2013
Argila no trono
Amigos
de plantão, não esperem a estreia de Velhos Caem do Céu como Canivetes antes do
final de agosto. Estamos no sexagésimo ensaio e tudo indica que esta montagem
demandará uns noventa, próximo do exigido em Deus Danado – espetáculo que mais
tempo de montagem demandou usando o Quadro de Antagônicos, com cento e dois
ensaios. É a argilosidade do fazer teatral que o torna tão encantador. Pouco
nele é concreto. Pai & Filho estreou com sessenta e sete ensaios, Medeia
com uns quarenta e cinco (?), Entre Laços com trinta e sete, d’O Acompanhamento
não lembro bem. Argila. Em todos os casos foi adotada a mesma prática metodologia –
não necessariamente os mesmos procedimentos. Todos seguiram trilhos semelhantes
e todos aceleraram, descarrilaram, dobraram, estancaram, desenfrearam e
chegaram de acordo com suas necessidades e especificidades. Argila. Cada
processo dita uma nova máxima, faz suas próprias exigências, postula novos dilemas,
revela curiosos caprichos, camufla grandes desafios, apresenta surpresas ou surpreende
por não apresentar problemas; cada montagem é única e múltipla. Como falei, teatro
é argila, e meter a mão na massa é muito bom. A presença diária do Ser Alado e do
Ser Humano na sala de ensaios apresenta alguns sinais do espetáculo que vocês
verão: o tom, suas temperaturas, a atmosfera, as ambiências de conflito, a
paleta de cores, os ritmos, os ritos... Para tudo aparecer se precisa de tempo,
e o tempo de um espetáculo não pode ser medido cronologicamente. Como poderia
dizer o Ser Alado, o que determina o tempo de uma nova montagem são as nossas sensações.
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