domingo, 28 de julho de 2013

Olho por olho


 
Experiência & exigência caminham juntas e a passos largos. É fácil notar o quanto os três anos que separam Pai & Filho de Velhos Caem do Céu como Canivetes acentuaram nosso nível de exigência. Homens mais maduros, artistas mais exigentes. Exigência aguçada, tempo dilatado: de 1° de abril para cá, vão-se quatro meses de ensaio e este processo de montagem já deixou claro que exige mais. Os sessenta e sete ensaios necessários para a estreia de Pai & Filho já foram ultrapassados e a modelagem continua, como falei aqui. O binômio (experiência + exigência) deveria resultar em competência, mas a arte não permite fórmulas, por isso a dúvida, a ansiedade e o fracasso de que Cláudio fala logo abaixo desta postagem. Vejo este momento com serenidade e alegria, porque o nível de exigência que os atores da Pequena atingiram é o desejo de consumo de qualquer diretor de teatro, sempre e quando este tenha calos suficientes como para maturar a exigência necessária para o desafio proposto.  O que tento dizer é que a sensação de dificuldade nada mais é do que uma consequência do nível de exigência adquirido. De gentes [sic] tão preocupadas, comprometidas e exigentes porcaria não pode sair. Pode, mas não é o caso. Por isso minha serenidade.  Gostaria que pudessem ver o que vejo, particularizar o olhar de cada um dos leitores deste blog para cada nuance, cada gesto, cada suspiro que constrói um espetáculo. Suspeito que o momento mais rico do teatro fique para o encenador, aquele primeiro espectador que vê o que ninguém verá – sutilezas de qualquer processo. Por isso a segurança, a certeza. Se meu olhar não anda falhando ou fiquei estrábico e não percebi, creio que ofereceremos um bom espetáculo. Palavra de caolho.

 
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Sobre dúvidas, ansiedade e fracassos

O céu está uma só coisa cinza...
Estaremos iniciando a circulação de Pai & Filho pelos SESI-SP, a partir do dia 01 de agosto de 2013. Por isso, este mês tivemos que abrir um espaço na jornada de ensaios de Velhos... para um reencontro entre Próspero e seu filho. Constamos, mais uma vez, que o Quadro de Antagônicos funciona. As personagens continuam a existir. Agora, faço parênteses (há uma certa aura de expectativa na montagem de Velhos... por ene motivos: eu e Jorge C. contracenando em duas montagens seguidas, isto é, a Companhia de fato está formando repertório com seu elenco; distanciamento das personagens entre o Pai/Ser Humano & Filho/Ser Alado; constatação da competência ou "in" de seu núcleo artístico em distanciar uma obra pronta (sic) de outra em processo, e por aí vai).
Azul. O céu está azul.
Aqui começa a residir a ansiedade...

Minha vida está se resumindo a contar: conto as páginas que faltam para decorar; as horas de ensaios; as viagens que temos que fazer; os dias para o resultado dos projetos; as repetições dos exercícios na academia; os beijos dados; as horas de sono que passo; as idas ao banheiro nas madrugadas; os litros de água sorvidos durante os dias; os orgasmos. Dia desses me peguei contando as batidas do meu coração... achei-as descompassadas. A prioridade sempre foi respirar teatro, não me asfixiar nele. Refletirei sobre isso.

Em tempo: As fotos são de Marcelo F., e ele vai achar que pretendo desistir de algo.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O dia é hoje

Foto de Marcelo F.
Enquanto não tomarmos para nós a cronologia das horas, o mundo será o que é. Meu hoje é carregado de repetições com sentido, que fazem de mim um ser identitário. As segundas-feiras são abarrotadas de terças, de quartas, de quintas e de sextas. Os finais de semana são os dias do lixo. Paulinho Moska ainda faz um sucesso com a música "O último dia". Meus dias são sempre "o último dia", e não tenho como correr disso. A pulsação, o respirar e transpirar, as relações e os conflitos são característicos de quem vive seu derradeiro momento. Tudo é sempre, sempre e sempre muito, muiiiiiiiiiiiiito urgente. O teatro não me enternece. Talvez, no instante do gozo, eu me sinta um pouco deslocado do calendário das horas e me percebo um pouco na onda das ruas, no oba oba, na felicidade de um instante. Tirando a exceção, é regra: o dia é hoje. 

Ensaios são urgentes. Apresentações, não. Mas, os orgasmos são surpreendentemente necessários ao azeitamento das engrenagens. Um homem feliz é aquele que transa e faz teatro. Minha vida deveria ser regra; o que sobra é exceção.

domingo, 7 de julho de 2013

Argila no trono

 
 
Amigos de plantão, não esperem a estreia de Velhos Caem do Céu como Canivetes antes do final de agosto. Estamos no sexagésimo ensaio e tudo indica que esta montagem demandará uns noventa, próximo do exigido em Deus Danado – espetáculo que mais tempo de montagem demandou usando o Quadro de Antagônicos, com cento e dois ensaios. É a argilosidade do fazer teatral que o torna tão encantador. Pouco nele é concreto. Pai & Filho estreou com sessenta e sete ensaios, Medeia com uns quarenta e cinco (?), Entre Laços com trinta e sete, d’O Acompanhamento não lembro bem. Argila. Em todos os casos foi adotada a mesma prática metodologia – não necessariamente os mesmos procedimentos. Todos seguiram trilhos semelhantes e todos aceleraram, descarrilaram, dobraram, estancaram, desenfrearam e chegaram de acordo com suas necessidades e especificidades. Argila. Cada processo dita uma nova máxima, faz suas próprias exigências, postula novos dilemas, revela  curiosos caprichos, camufla grandes desafios, apresenta surpresas ou surpreende por não apresentar problemas; cada montagem é única e múltipla. Como falei, teatro é argila, e meter a mão na massa é muito bom. A presença diária do Ser Alado e do Ser Humano na sala de ensaios apresenta alguns sinais do espetáculo que vocês verão: o tom, suas temperaturas, a atmosfera, as ambiências de conflito, a paleta de cores, os ritmos, os ritos... Para tudo aparecer se precisa de tempo, e o tempo de um espetáculo não pode ser medido cronologicamente. Como poderia dizer o Ser Alado, o que determina o tempo de uma nova montagem são as nossas sensações.