domingo, 29 de dezembro de 2013

Estado de atenção


Como membro da Pequena Companhia de Teatro, estou sempre a matutar sobre as maneiras de exceder as fronteiras da província. A incredulidade gerada pelo fato de nossa Cia. ser sediada no estado mais pobre da federação brasileira se apresenta como uma das principais barreiras para a nacionalização das nossas ações – fator fundamental para a sustentabilidade do nosso grupo. Nos últimos anos participamos de festivais pelo Brasil afora, circulamos através de projetos nacionais, ganhamos prêmios federais, contudo, não estamos integrados ao país; estamos encerrados em um estado de miséria, atraso, descaso, descuido e desatenção. Certamente, ninguém se lembra de nós. A referência não se estabelece, por maior qualidade que você imprima à sua obra. A pergunta mais recorrente será: que aporte pode dar ao nosso projeto uma Cia. vinda de um estado desses? Ouvimos isso com frequência em nossas viagens: da surpresa com a qualidade artística das nossas atividades por sermos do Maranhão. Mas a surpresa não serve, porque vem posterior ao fato. Preconceito? Não, realidade. Sem o estofo de um estado produtor, com políticas culturais eficientes, uma produção contundente e gestores públicos sérios, não será possível se integrar ao Brasil, estar presente no inconsciente coletivo dos atores que comandam os destinos culturais deste país (mote para uma reflexão futura). O curador, o parecerista, o crítico, o conselheiro, o produtor, o selecionador, jamais atribuirá um valor prévio endossado pelo entorno produtivo e criativo do nosso estado; nos olhará sempre
com desconfiança e indagará: do-ma-ra-nhão? Soma-se ao fato, a incapacidade “lobística” dos membros da Pequena Companhia de Teatro. Fora do nosso estado, temos algumas poucas e sinceras amizades que nos auxiliam na oxigenação do nosso fazer, porém, não temos a habilidade necessária para a articulação. Falando em primeira pessoa do singular, escolhi a arte por acreditar que estaria isento de certos males que assolam o mundo, dentre eles, a influência, a negociata, os interesses, a adulação. Ledo engano. Como todos, o meio artístico é habitado por humanos e, como tais, dedicam-se aos conchavos, acertos e toda sorte de idiossincrasias que extrapolam o interesse artístico e que não fazem parte da minha formação. Não é a regra, nem a exceção. Careço desse tipo de habilidade e o meu estomago não digere qualquer situação que não seja espontânea, orgânica ou fortuita. Pois é, um romântico. Em minha defesa posso dizer que comecei fazendo teatro amador nos anos 80, no interior do Maranhão. Apesar de a miséria ser a mesma, o espírito era diferente. As coisas eram simples, bonitas e honestas.  Hoje, creio ser a obra de arte o que menos importa. Não é a exceção, nem a regra.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Os números não vendem

Enquanto aguardamos o encerramento da estreia estadual de Velhos caem do céu como canivetes, que acontecerá nesta terça (18h30 e 20h30) e quarta (19h), em Imperatriz (Teatro Ferreira Gullar), faço um exercício matemático e apresento os números  de Pai & Filho, após o encerrarmos do projeto Viagem Teatral, do SESI, que visitou as cidades de São Bernardo do Campo, Botucatu, Rio Claro, Franca, Marília, Piracicaba e Campinas, no estado de São Paulo.

O espetáculo sustenta 3 anos e 8 meses de trajetória desde sua estreia em abril de 2010. Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz 2009 e 2010, Palco Giratório 2012/SESC e Viagem Teatral 2013/SESI. Foram 109 apresentações e seus respectivos debates para um público de 8.001 pessoas. 56 cidades visitadas de 19 estados brasileiros – MA, PI, CE, RN, PE, AL, BA, AP, PA, TO, MT, ES, RJ, SP, RS, SC, PR, MG, RO. Estados como Alagoas (4 cidades), São Paulo (10 cidades), Santa Catarina (7 cidades) e Rio Grande do Sul (5 cidades) foram percorridos com maior intensidade e profundidade, além do Maranhão (8 cidades), claro. Atenção produtores de plantão: ainda faltam Amazonas, Sergipe, Paraíba, Goiás, Mato Grosso do Sul, Roraima, Acre e o Distrito Federal. Participamos de 30 festivais ou mostras de teatro. Atenção curadores de plantão: ainda faltam um monte! O espetáculo se apresentou em 44 teatros e 17 espaços alternativos e 97 récitas foram gratuitas. Em 2014 Pai & Filho retornará à sua terra natal e fará temporada regular na sede da Pequena Companhia de Teatro para que o espectador ludovicense possa prestigiá-lo – das 109 apresentações, apenas 5 aconteceram em São Luís. As apresentações farão parte da programação do projeto TETRALIDADES, Prêmio Myriam Muniz 2013, que contempla temporada regular do repertório, oficinas, leituras dramáticas, fóruns etc. O que me leva à indagação final: não fosse a trajetória nacional de Pai & Filho, haveriam 8.001 espectadores em São Luís dispostos a assisti-lo ou o espetáculo morreria na estreia? Respondam durante as apresentações que faremos em 2014.




domingo, 1 de dezembro de 2013

Não, querido, não se voa colocando aspas no verbo "voar"

Fotos de Ayrton Valle
Crítica de Igor Nascimento
 
Convém-se que a Tragédia é a derrota do Homem diante da vontade divina. Não se luta contra o que foi preestabelecido pelos “Céus”.  Por mais cruel que o destino possa parecer, o Homem é regido por estas convenções de ordem divina e/ou social e deve respeitá-las. O ato que vai de encontro àquilo que lhe foi conferido pelos deuses ou/e pela sociedade culminará em um terrível fim. Seu caráter transgressor, que parecia sua maior qualidade, será o responsável por sua queda. Mesmo arrependido, continuará caindo até se chocar contra um sólido fundo trágico...
 
Nós, do lado de cá, sentindo terror e piedade, nos purgamos daquele defeito de caráter que parecia tentador em um primeiro momento, pois deu ao Herói toda glória que possuía; mas, depois, tornou-se indigesto, daí a purgação. Essa é a catarse, grosseiramente resumida e efetivamente útil quando se trata de adaptar o sujeito às convenções:
 
 “Aristóteles formulou um poderosíssimo sistema purgatório, cuja finalidade é eliminar tudo que não seja comumente aceito, legalmente aceito, inclusive a revolução, antes que aconteça. O seu Sistema aparece dissimulado na TV, no cine, nos circos e nos teatros. Mas a sua essência não se modifica. Trata-se de frear o indivíduo, de adaptá-lo ao que pré-existe.” (BOAL, 1931).
 
Em Velhos Caem do Céu como Canivetes, da Pequena Companhia de Teatro, temos uma montagem que vai de encontro a todo esse sistema coercitivo que é denunciado por Augusto Boal em Teatro do Oprimido. A Tragédia é posta ao avesso. O que sim vemos é um drama com ares trágicos, ou, uma “antitragédia”. Já explico...


O “Ser Alado” (Jorge Choairy) desce na Terra e encontra o “Ser Humano” (Claúdio Marconcine). Quando as luzes acendem, o cenário é um ambiente caótico, onde tudo parece desconexo. A unidade desses objetos em desordem se dá na movimentação do Ser Humano: sua rotina, aparentemente, é pôr tudo em ordem para, depois, tudo desfazer. Aquele terreno é um produto de suas ações sob a natureza. Não temos uma ligação com a ação-texto. Não se opta por um texto dito com nuances bem definidas. Parece que tudo que se fala é amortizado por esta natureza solidificada pelos elementos dispostos em cena e pelas ações-físicas que fazem com que os personagens interajam com os objetos e entre si. Seus corpos são anormais. O andar, a postura e a voz fogem do corpo cotidiano. O contraponto é este: um corpo fora do padrão executando ações que revelam um determinado padrão (determinado): o Extracotidiano Vs Cotidiano vivendo num espaço mínimo. No primeiro encontro entre os dois personagens esse jogo logo se revela: o estranhamento causado pela insólita visita não se dá pelo encanto, ou pela admiração de ver um ser de asas. É, antes, um “que diabo é isso...”.
 
Ambos são apresentados. Conhecem-se. Interpelam-se. Coabitam. Convivem. O Ser Alado tem uma missão: fazer com que o Ser Humano acredite em algo para além daquele plano terreno (questão que fica em aberto), mas, em suma, significa que ele quer persuadir o homem a se mover, evoluir, a sair dali, daquele jogo repetitivo. O Ser Humano, contudo, é imóvel. Ele se atém às necessidades da vida. Luta, mesmo que de forma parcimoniosa, contra fome e contra a sede. Ao mesmo tempo, ele cria engenhocas para passar o tempo, inventando outras necessidades - necessidades fabricadas - como a de ficar tonto através de um pequeno aparelho feito com a peça central de um ventilador de teto. O Ser Alado tenta se adaptar, construir uma rotina dentro daquele plano, enquanto “convence”, inutilmente o Ser Humano a se mover. Seu gesto, que antes se baseava na ação de mexer os ombros, repelindo as asas, acaba ganhando os ares daquela rotina. Ele, inclusive, testa a máquina de ficar tonto e se mostra curioso em relação às engenhocas produzidas pelo Outro, como o Manifesto à Eletricidade. Há uma mudança em seu corpo e a dramaturgia do ator ganha um significado na trama e conta algo também. 
 
Os dois planos: o que está dentro (a realidade) e o que está fora (o além) se confrontam através dos corpos dos dois atores encerrados naquele universo retratado, cenograficamente, com materiais retirados do lixo.
 
Ao final, o Ser Alado desiste. Voltaria para o lugar de onde veio, mas eis que vem o golpe da outra dramaturgia, aquela, do velho dramaturgo, aqui, Marcelo Flecha: o Ser Humano mata o Ser Alado com uma cacetada! O elemento textual decisivo se revela através de uma didascalia, provavelmente: Ser Humano defere uma boa e segura bordoada no Ser Alado, matando-o (sic). A grande catástrofe é um ato físico. Novamente o corpo e o movimento. Aqui, finalmente, o orgânico, o indeterminado, o transcendente se junta ao material, ao concreto, ao plano terreno prático, rotineiro, que fará do Ser Alado a refeição, a galinha do Almoço - o resto é para Janta.


Onde está a tragédia? Ou a “antitragédia”, como disse antes?  Como um Sistema Coercitivo, como alude Augusto Boal, a catarse visa purgar o homem de algum defeito que não é adequado para o Sistema. Normalmente, representado por um oráculo ou pelos deuses, esse Sistema se apresenta com ares superiores, com as pompas do Além e do Supremo. Em Velhos Caem do Céu como Canivetes, essa lógica se inverte. Lá, a realidade pré-estabelecida é a miséria, é a fome, é a vida do homem presa a uma rotina que gira em torno do material, do imediato, do mecânico.  Não há um “fora”, um “macrocosmo”, aquilo é o tudo. Nesse novo sistema entra o Ser Alado pretendendo a mudança. As asas significam a possibilidade do livre deslocamento. Não há revolução sem movimento. E é aqui que o Ser Alado sofre o grande golpe trágico, não dado pelos deuses ou pelo Estado, mas por um simples mortal e cidadão comum. O fim: a morte. As luzes: vermelhas. O que era para ser purgação se torna refluxo. Volta para as tripas, ou seja, para o chão do corpo, para o jogo maçante das necessidades diárias.
 
O Destino é, nesse caso, a sobrevivência. Na tragédia, tudo volta a ser como antes através do terror e da piedade que sentimos pelo herói - basta não seguirmos o seu exemplo e não achar precioso o seu defeito (Hamartia), afora isso, tudo está perfeito. No quadro dramático “antitrágico” de Velhos Caem do Chão como Canivetes tudo volta a ser como era antes, ou seja: terror e piedade; pois, apesar da refeição garantida, outros dias de míngua e desumanidade hão de continuar. Sentimos terror da miséria e piedade daqueles que vivem nessas situações, tais sentimentos estão em nosso cotidiano - basta assistir aos jornais e ver que embrulho isso dá. O que há de ser “purgado” aqui é a nossa ingênua crença de que isso, um dia, pode ser mudado, ou seja, que um dia a pobreza ganhará asas e sairá voando de nossa realidade.
 
“É pensando que a porta é alta que batemos nossa cabeça na parede”

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Um outra experiência

Bate-papo na sede d'A Outra... (SSA-BA)

Faço parte da Pequena Companhia de Teatro há 4-5 anos. Preconizamos o Quadro de Antagônicos como ferramenta de preparação para o ator, e é ele que norteia a pesquisa que fazemos. Somos um grupo de teatro que pesquisa, e os espetáculos são o resultado disso.

Sentencio que, gente de teatro se conhece, se entende, se reencontra, se celebra e se constrói, juntos, a identidade do teatro na contemporaneidade; múltiplos teatros, formas de fazer, maneiras de articular. Quando nos profissionalizamos, acabamos por nos distanciar de algumas práticas por questões financeiras e de agenda. Articulação, debates e partilhas deixaram de existir em detrimento de montagens, de circulação, de apresentações, do ofício. Nossas ações se colam e se plastificam através de editais – públicos ou privados. Se fugirmos disso, seremos sentenciados ao fracasso, à mudez dos palcos, à surdez das plateias. Teatro de grupo, hoje, existe pelo querer fazer e pela busca incessante de recursos que esses editais disponibilizam.

Assim, tivemos a oportunidade de conhecer A Outra Companhia de Teatro a ponto de criar vínculos, estreitar relações. Crescemos e produzimos conhecimento a partir do diálogo. Em Salvador não foi diferente. A oportunidade de reencontro para compartilhar o nosso fazer, conjugado ao fazer dos outros, recupera o entendimento que tenho do corpo formalizado que temos a partir dos nossos processos. É nessa perspectiva que o corpo precisa de outras alternativas e possibilidades para se desconstruir e se ressignificar permanentemente. O corpo deve se arriscar a encontrar outros percursos além do que segue confiante.

O projeto aprovado pela A Outra Companhia de Teatro, o Troca-troca Nordeste, através do Programa BNB/BNDES de Cultura, possibilitou a privilegiados grupos de teatro sediados na região Nordeste do Brasil um espaço de mostragem de suas técnicas/formas e modos de fazer; partilha de processos de organização; formação em outros procedimentos que não os habituais utilizados pelas companhias/grupos de teatro participantes.

Sou daqueles que, movidos pela urgência das coisas, contamina e deixa-se contaminar. É que a entrega é pré-requisito para a aceitação, compreensão e diálogo com outros fazeres e outros pares. Secularmente estamos ilhados pelo fracasso das conquistas; é que no Maranhão a riqueza é para poucos e as desventuras para os que sobram – e esses são muitos. Há um exílio forçado pela conjuntura político-financeira que é quebrada com ações de generosidade e troca entre gentes que se afinam – um exemplo é a proposta d’A Outra...

Um discurso recorrente é que as dificuldades encontradas para a manutenção das atividades de um grupo são semelhantes quer de um existente em São Paulo, quer de um das Alagoas. Não deixa de ser verdade, mas as maneiras de driblar essas armadilhas são inúmeras e fenomenalmente diferentes. São esses diálogos que dão lampejos de sensatez para situações típicas de um grupo de teatro que ama o que se faz e busca imprimir sua identidade nos espetáculos que monta e apresenta. Mas, objetivamente, a troca, a compra, a observação, o diálogo, ele é referenciado comumente quando se tem um foco específico para tal, e aqui não pertine em se tratando da Pequena Companhia de Teatro, mas sim do ator que se fez presente. A escolha de meu nome pelos meus pares (Katia Lopes, Jorge Choairy e Marcelo Flecha) se deu pela minha afetiva aproximação com a mímica corporal dramática, de Etienne Decroux, que dialoga com a proposta de formação da etapa na qual eu participaria (biomecânica de Meyerhold), e também por estar em processo de pesquisa para a montagem de um espetáculo-solo para as ruas.

Minha compreensão acerca das influências sofridas são mais amplificadas, e assim, tudo o que fazemos ou deixamos de fazer influi e influencia nas nossas vidas e na vida da comunidade. Presença ou ausência repercutem, sempre. Enquanto ator, quando em processo, as informações e transformações pela qual o corpo passou, vai reverberar na composição, na cena. O senso comum não conseguirá identificar, mas a plateia especializada, certamente o fará. Conseguirá perceber na ação da personagem, a formação do ator, as influências que sofreu durante sua jornada, que não se esgota, mesmo com a chegada da “indesejada das gentes”.

Meu corpo recupera o que minha memória acata. Quando não, os espasmos incompreensíveis podem dar sustentação a uma ação cênica. Não sei, mas está aí; apareceu, mas não sei sua gênese – e funciona. O que fica tem autoridade para tal. O que quer ir, a gente deixa o vento levar. Assim são as coisas.

domingo, 24 de novembro de 2013

Velhos caem, nós também.


Plateia em Balsas
A proposta de interiorização das ações da Pequena Companhia de Teatro no estado do Maranhão existe desde sua origem, e sempre representou um posicionamento político. De 2005 para cá, O Acompanhamento, Entre Laços, Pai & Filho, Velhos caem do céu como canivetes, e ainda, Medéia e Deus Danado – espetáculos da eterna parceira, Cia A Máscara de Teatro –, tiveram passagem por cidades do interior, assim como oficinas, performances literárias, lançamento de livros, participação em fóruns, palestras, debates, organização de mostras de teatro; tudo com a convicção de estar contribuindo de alguma maneira para o desenvolvimento sociopolítico-cultural do estado mais pobre da federação brasileira, e sensibilizando o poder publico municipal para a importância dessas ações. Balsas, Imperatriz, Bacabal, Caxias, Santa Inês, Riachão, São José de Ribamar, Timon, São Bento, Fortaleza dos Nogueiras, Itapecuru-mirim. Mais de cinquenta apresentações de espetáculos, todas gratuitas (não podemos pretender que comunidades que não te acesso a teatro tenham a sensibilidade e predisposição de pagar por ele nas pouquíssimas vezes em que a oportunidade aparece), e seus respectivos debates. e, em todos, o reconhecimento e a cobrança dos espectadores quanto à importância dessas iniciativas.
 
Oficina em Caxias
Nessa trajetória conseguimos sensibilizar o poder publico municipal? Não. Todos os projetos de circulação realizados pela Pequena Companhia de Teatro foram patrocinados pelo Governo Federal ou pelo SESC, com o apoio cultural local de pizzarias, amigos, universidades, parentes, colégios, restaurantes, ou a intervenção de amigos-secretários de cultura/presidentes de fundações. Nas poucas ocasiões em que as prefeituras se sensibilizaram com nossas ações, o apoio cultural se restringiu a uma hospedagem aqui, uma refeição acolá, mas jamais qualquer prefeitura maranhense desembolsou um centavo com qualquer despesa mais significativa. Depois de oito anos de ações ininterruptas, nunca recebemos por parte de nenhuma prefeitura o convite espontâneo para a realização de algum tipo de atividade cultural que demandasse do município o desembolso de recursos para pagamento de cachê, transporte de cenário e equipe, compra de livros etc. – nosso último projeto já distribuiu gratuitamente mais de cinquenta livros. O que sim vimos foi o quanto as prefeituras buscam capitalizar politicamente nossas ações. Nosso único retorno vem sempre do público. Nos depoimentos constantes, cortantes e emocionados dos espectadores que reforçam a importância dessas ações. Será suficiente? Com um diagnóstico desses fica muito difícil convencer os pares quanto à efetiva necessidade da interiorização, porque o reconhecimento merecido vem de quem frui, mas nunca vem de quem deveria ajudar a pagar a conta com políticas públicas culturais efetivas que desvinculassem suas ações do óbvio e árido calendário carnaval-São João-verão-pátria-natal-férias. Sou do interior do estado. Depois de vinte e tantos anos de labuta, nada mudou. O público merece nosso esforço, só não sei se a ranhetice da velhice que se assoma respeitará nossa vontade.
 
Debate em Fortaleza dos Nogueiras
 
 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Em cena


Li, dia desses, uma matéria que tratava sobre um bate-boca na plateia de uma apresentação teatral do Marco Nanini. Noutro, vi uma tratando acerca de celulares atendidos em plateias de teatro.

Ator não é mentiroso e as pessoas confundem. Manifestação artística é uma coisa. Vida real é outra. Lembro-me de dois casos, sendo que um eu presenciei e outro ouvi dizer: dois atores pararam o espetáculo. Um deles desistiu da apresentação não se sentindo capaz de continuar. O outro, para calar a boca dos que insistentemente atrapalhavam a cena. 

Na Pequena Companhia de Teatro já tivemos duas situações em que o corpo reagiu às demandas da cena: em Pai & Filho, a porta caiu sobre mim por causa da ruptura parcial dos ligamentos do joelho direito no aquecimento (o diagnóstico só veio posteriormente), e a perfuração da membrana que protege o tímpano da orelha esquerda de Jorge C. em Velhos Caem do Céu como Canivetes. 

A partir dessa última, eu e Jorge C. começamos a brincar o que faria com que a gente interrompesse a apresentação, o que seria profissional ou suicídio diante de determinadas situações, como por exemplo, jogarem um tomate sobre nossas cabeças, falta de energia elétrica...

Esse limite não é determinado pelos cânones. Assim, imagino que o ator seja sacrificado por tomar a iniciativa da contenda entre o planejado e o imprevisto. Depois, vira história.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ecos espontâneos – Balsas/MA

Imagem da oficina em Caxias
Cheguei há pouco da apresentação teatral “Velhos caem do céu como canivetes”, no auditório do Colégio São Pio X. Numa produção de Kátia Lopes, Atuação de Jorge Choairy e Cláudio Marconcine, encenação, figurino, cenário, iluminação e texto de Marcelo Flecha, a peça traz reflexões, entre tantas, sobre um “eu” ao mesmo tempo coletivo que, apesar de limitado fisicamente por uma situação determinista e... de resistente ao diferente, é ao mesmo tempo exótico, fluido e rende-se aos “estados de coisa” que permeiam a nossa vida; à realização onírica de nossos desejos, enfim, sobre um chão ou céu movediço em que pisamos ou onde voamos. O diálogo, de cunho filosófico, reflete uma profunda preocupação com o homem e com a crise moral e social dos tempos atuais, certamente ocasionada pelas diferenças sociais, pelas mudanças de tempo e pelos tempos de mudança, e satiriza este homem moderno, que se afoga num consumismo desenfreado. A mim, encantou-me mais o fato de a peça ter recuperado a metáfora da Torre de Babel, da criação e da difusão das línguas no mundo, com que sempre trabalho com meus alunos, e a ênfase na relação existente entre a linguagem, a cultura e o pensamento. A Secretaria Municipal de Cultura está de parabéns pela valorização desta modalidade de espetáculo público, o teatro, trabalho artístico criado para instruir sobre certos princípios, valores, e que realmente geram o crescimento intelectual dos jovens.
Maria Célia Dias de Castro
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Esqueci

Foto de Ayrton Valle

Estamos circulando com o novo espetáculo "Velhos caem do céu como canivetes", dentro da temporada de estreia, patrocinado pelo Governo Federal, através do Prêmio Myriam Muniz de Teatro, que agrega as cidades de São Luís, Caxias, Balsas, Fortaleza dos Nogueiras e Imperatriz na circulação pelo interior do Maranhão, depois de termos viajado o Brasil inteiro com Pai & Filho pelo SESC (Palco Giratório/2012) e SESI (Viagem Teatral/2013). Lugares diferentes, dificuldades diferentes, prazeres diferentes. Inegável a sensação de conforto dos hotéis existentes no Sudeste, seus teatros equipados, suas plateias atentas e especializadas. Inegável o contraste com o interior de nosso estado. Recupero um dos objetivos primeiros da Pequena Companhia de Teatro que é a interiorização de nossas produções: poucas pessoas, poucos recursos financeiros, iluminação artesanal, cenário passível de montar em espaços alternativos e a certeza da qualidade da obra. O contraste das acomodações e da recepção do público por vezes provoca um ruido no ser humano que, com alguma idade nas costas, começa a se perceber desejoso de um certo conforto, um certo reconhecimento. Proporcionalmente às conquistas, aumenta-se o nível de exigência. Assim, os objetivos primeiros ficam carecendo de reflexão e análise. Gosto da ideia da mutação, da mudança, da falha, da queda, do precipício. 

Ano que vem, teremos o conforto do nosso lar como abrigo, já que estaremos com nosso repertório em cartaz, na sede na Pequena, resultado de mais um Prêmio Myriam Muniz de Teatro da FUNARTE/MINC. Antevejo os rumores desejosos de outras viagens. É que somos assim, eternos insatisfeitos. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nem que chova canivete

A estreia de "Velhos caem do céu como canivetes" em São Luís encerrou ontem, com a nossa participação na 8ª Aldeia SESC Guajajara de Artes. Agora nos preparamos para sair da ilha. O desafio a se encarar nas cidades que compõem a temporada de estreia estadual patrocinada pela FUNARTE, através do prêmio Myriam Muniz, é perceber como o espetáculo se comporta fora do espaço onde foi criado. Claro que a nossa política de montar peças que se adaptem a qualquer espaço físico (seja palco italiano ou alternativo) permanece, assim como reproduzir a estética das encenações de maneira idêntica, independentemente de espaço, mas, os detalhes, só podem ser verificados in loco. Apresentaremos em dois espaços alternativos (Caxias e Fortaleza dos Nogueiras) e dois teatros convencionais (Balsas e Imperatriz). A principal preocupação cênica é a dispensa da caixa preta nos espaços alternativos, assim como ocorre com Pai & Filho. O receio é que nesta encenação a atmosfera dependa mais desse fechamento, e a interferência do exterior possa comprometer a ambiência. Não acredito nisso, porque o entorno reforçaria o caos, mas me preocupo. A jornada de estreia estadual será de carro, com o reboque transportando o cenário, como costuma acontecer quando as apresentações são próximas (?) e possibilitam uma sequência de deslocamento. Antes, um breve intervalo para a conclusão do Viagem Teatral do SESI, quando nos apresentaremos em Piracicaba (31/10 e 01/11) e Campinas (02 e 03/11) com Pai & Filho. Como diria Riobaldo “O diabo na rua, no meio do redemoinho...”.
 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A carreira e o reconhecimento

Foto de Ayrton Valle
No mesmo caminho de Pai & Filho, Velhos Caem do Céu Como Canivestes participará da 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes, na sede da Pequena Companhia, domingo, dia 27, às 19h, com distribuição gratuita de ingressos a partir das 18h.

Da mesma maneira, circularemos por algumas das cidades do interior do estado, concluindo assim a temporada de estreia do espetáculo. Depois, ainda nos restará participar da Semana de Teatro do Maranhão. Além disso, o mundo.

Esse reconhecimento reforma uma ideia antiga da necessidade da aceitação dos outros, que conjugada ao desejo de compartilhar o nosso fazer/dizer, faz do nosso tempo um tempo de colheita. A safra será recorde, pois cremos estar no caminho adequado à nossa proposta.

Entre o desejo e a obrigação, o público acolhe, reconhece, se diverte e fortalece o teatro produzido no estado. Não dá para ficar indiferente.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Pequena máscara


As parcerias são um importante mecanismo para o surgimento, amadurecimento e consolidação de coletivos teatrais. Na estreia de “Velhos caem do céu como canivetes” tivemos a grata surpresa de receber a Cia. A Máscara de Teatro e alguns integrantes da Cia. Pão Doce, ambas de Mossoró. A Máscara é uma velha parceira nossa, para ela dirigi Medeia e Deus Danado, espetáculos que já se apresentaram em Imperatriz e São Luís, respectivamente.  A parceria se estabeleceu pela espontânea empatia com seus membros atuais – Tony, Luciana Jeyzon e Damásio – e outros parceiros que trilharam caminhos diferentes. Intercâmbio entre amigos que tem o amor como alicerce. Estabelecido o vínculo, os ecos de qualquer parceria permanecerão reverberando ad infinitum. Não foi diferente nesta fabulosa visita. Junto com a surpresa – parece que fui o único verdadeiramente surpreendido, pois Katia, Morgana e Neto conspiravam sob minhas narinas, e Jorge e Cláudio desconfiavam da visita – veio a notícia de que A Máscara está em processo de montagem do espetáculo “Dois”, texto meu que consta na dramaturgia reunida disponível para a venda neste blog. Esse mesmo texto já havia sido objeto de uma leitura dramática para um projeto dos queridos Clowns de Shakespeare. Será o segundo texto meu encenado por outra Cia. – o primeiro é “Memórias de um mau-caráter”, com César Boaes, que consta no repertório da Santa Ignorância Cia. de Artes. Parceiros, companheiros de luta, amigos. Encontros são o alimento do fazer teatral. Artistas que se retroalimentam para fortalecer a teimosa decisão de continuar criando. Aproveitando o centenário: a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
 
P.S.: Os detalhes sobre a montagem de "Dois" (direção, elenco etc.) você pode ler nos comentários que a Cia. deverá escrever nesta postagem, pois não tenho informações suficientes. Escrevam, amigos!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre o velho

Foto de Ayrton Valle
Ensaios, estreia e algumas apresentações para concluir mais um projeto. O terceiro que monto com direção de Marcelo F., utilizando o Quadro de Antagônicos como procedimento metodológico para composição de personagens. Algumas lições e muitas dúvidas e inquietações. É que o ser não se esgota, e a construção do conhecimento passa por uma série de ações em sequência. E quando não se está satisfeito com o seu trabalho enquanto ator? Qual é a medida? Talvez a percepção que temos do nosso trabalho carrega um acentuado "quê" de exigência desnecessária que acaba por minar as relações internas. 

Sempre gostei de projetos porque eles têm começo, meio e fim. Só que o ser permanece, e mais um processo se avizinha. Ofício, prazer, desejo, sentido de existir, disciplina do método, foco. 

E tudo recai sobre o dia e a noite e a ilusão de que tudo vai bem. Caminhamos em direção à morte e no percurso simulamos o gozo. Ator, aluno, pesquisador (sic), voluntário para a vida. Síndrome de final de ano que chega mais cedo ou resquícios de uma noite mal dormida? Madrugada, percorreremos mais algumas horas de voo para fazermos o que gostamos: teatro. 

Foucaut me aguarda.

domingo, 13 de outubro de 2013

Anjos destroçados entre sonhos de salvação

Foto de Ayrton Valle

Por Sandro Fortes
 
A peça "Velhos caem do céu como canivetes", de Marcelo Flecha, que vi recentemente encenada por Jorge Choairy e Cláudio Marconcine, esses enormes atores no palco da Pequena Companhia de Teatro, toca em tantos temas atuais que se torna uma metáfora singular, e incontornável, a respeito de nós mesmos e de nossa época.
A peça se inspira, com ampla liberdade, num conto de Gabriel Garcia Marquez, e mostra basicamente a dicotomia entre duas personagens antagônicas num cenário arruinado que me lembrou a terra devastada do famoso poema de T. S. Eliot, pano de fundo escolhido para sugerir a tenebrosa miséria humana que será exibida em cena, e tanto a peça quanto aquele poema mostram-nos um mundo em que a cultura humanista da nossa civilização cedeu lugar ao vazio existencial da barbárie contemporânea na qual sobrevivemos sabe Deus como. Um detalhe curioso sobre este cenário de cacarecos e de restos empilhados é que quase tudo nele sutilmente sugere o formato de asas.
Pois asas são aquilo que um dos personagens deseja recuperar. Trata-se de uma figura patética que desabou na terra (como um canivete?) e boa parte da peça desenrola-se sobre a dúvida que a sua figura desperta (é um anjo? um pássaro? um super-homem? Um pobre-diabo?) ao dialogar com outro personagem patético, igualmente decaído, um homem que se afastou da chamada civilização, um ex-artista, que se tornou um esfarrapado faminto remexendo no lixo e que se alimenta de caranguejos ou do que mais aparecer na sua frente. Os questionamentos existenciais das personagens são endereçados também aos distintos membros da plateia e a miséria ali mostrada é, também ela, legítima cosa nostra.
O tema principal é o da queda, em todos os sentidos. Da degradação espiritual, econômica, social, pessoal, civilizatória. Tanto o homem quanto o "anjo" ali expostos são seres que chegaram ao fundo do poço. Anjos caídos, na tradição gnóstica, ou na literatura de um John Milton (Paraíso Perdido), ou num filme como Asas do Desejo, de Wim Wenders, não são mais anjos coisa nenhuma, ou são demônios ou agora meros homens.
E homens, o que somos? Seríamos nós anjos caídos também, vivendo na terra uma condição infernal de degradação material e espiritual, como uma cena de sonambulismo do personagem "humano" sugere? Tais questionamentos parecem ser o propósito das várias hipóteses levantadas e descartadas com muita ironia no jogo travado entre as duas personagens.
Anjos aparecem para nos salvar ou, como escreveu Rilke, "todo anjo é terrível"? Mas que tipo de salvação é possível num mundo dominado pela fome, pela miséria, pela brutalidade, que perdeu toda conexão com o sagrado? Sobreviver em meio à penúria total, junto com a mulher e os filhos, que receberam o legado de nossa miséria? Salvação aqui é escapar da morte de fome.
Neste sentido, a peça de Marcelo Flecha se situa quase como uma alegoria da "morte em vida" nordestina (ou antes, da vida e morte severina), apesar de ser uma obra que aspira ao universal, o autor toca com as duas mãos no regional: sua peça é cara e clara demais como metáfora da penúria própria de quem vive em terras devastadas pela miséria, uma gente como a maranhense, que há tempos amarga as esperanças de melhorias (políticas, econômicas, sociais), mas que ainda sonha, tem fé, aspira à salvação, o que a torna presa fácil do oportunismo político messiânico de alguns, enquanto é assolada e acossada pela precariedade e pela fome de viver.
"Velhos Caem do Céu Como Canivetes" é incisiva e fere fundo ao mostrar a existência como uma queda, um rebaixamento do humano. Como reagiremos, se é que reagiremos, é a grande questão que deixa no ar.

Para as pequenas...

(Pequena Companhia de Teatro e Petite Mort Teatro).
 
Foto de Ayrton Valle
 
Como dois e dois a teatralidade movimenta a cena local

Como num "tempo de alegria, como dois e dois são quatro, sei que a arte vale a pena, mesmo que o pão seja caro e a liberdade pequena". Com esses versos de Ferreira Gullar, referencio dois acontecimentos, duas estreias, dois atores, dois diretores, dois dramaturgos, duas obras.

Em meio à realização da calorosa e bem sucedida edição da Feira do Livro, 2013, duas grandes estreias marcaram a cena teatral: Dona Derrisão, do Petite Mort Teatro e Velhos Caem do Céu como Canivetes, da Pequena Companhia de Teatro.
Com dramaturgia original, ambas escritas pelos próprios dramaturgos-diretores dos espetáculos, Igor Nascimento e Marcelo Flecha, a temática, falas e diálogos, inspiradas em contos, cotidiano e inspirações diversas, reverberam no público, que reage seja com um sorriso de identificação da causa, seja com associação de imagens mentais que relacionam a voz poética dos atores com fatos reais e luta diária pela sobrevivência, pela valorização da arte, pelo respeito ao outro, pela criação de um sentido para a vida e principalmente, pela aceitação de um fim, de uma inevitável morte como etapa da vida.
Assim compactuam Igor Nascimento e Marcelo Flecha nas suas mais recentes inaugurações. Os dois diretores – dramaturgos colocam em cena dois atores que fazem uso de uma poética do corpo e da voz, através da construção de uma corporeidade teatral fundada nos opostos, contenção e expansão, vigor e suavidade, que na pesquisa da Pequena Companhia segue o caminho dos antagonismos como procedimento criativo e na Petite Mort, dos afastamentos e aproximações.
Dois atores dialogam entre si. Em Velhos Caem do Céu como canivetes, os diálogos concentram-se entre os dois personagens, o humano e o alado, sem falas diretas para a plateia que assiste a tudo pelo “buraco da fechadura”. Em Dona Derrisão, os diálogos são compartilhados com o público, na proposta de aproximação e deslocamento por meio dos personagens variados, velho, pop star, velha, paciente, médico, outro, através do jogo de revezamento do ator narrador.
A plasticidade em cena cria uma justaposição do real com o teatral por meio dos elementos utilizados para compor o cenário nos dois espetáculos, fazendo uso da exploração dos elementos da luz, como cor, direção e intensidade assim como da ressignificação de objetos utilitários, domésticos e cotidianos. O ambiente domiciliar e secreto, no espaço íntimo do mendigo, artista e humano, em Velhos Caem do Céu como Canivetes, se contrapõe ao ambiente público, cheios de interrupções, ruídos e interferências da parada de ônibus, em Dona Derrisão.
Diante da teatralidade visual, textual e expressiva, agradeço a essas companhias (Pequena Companhia de Teatro e Petite Mort Teatro), por movimentar um tempo de alegria, um tempo quando a arte vale a pena, mesmo que o pão seja caro e a liberdade Pequena/Petite.
 Gisele Vasconcelos
 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ecos espontâneos, caem...


Mais uma surpresa! Só vocês mesmo. Obrigado pelo espetáculo, desde o texto à interpretação dos atores, direção sem comentários e Kátia parabéns também pela produção. Gosto desse barato de entender, achar que entendeu, não entender e depois entender tudo do seu jeito. Muito bom! Quero mais!!!!!!
Laerth Garcez
 
Uma maravilha ver a estreia do novo espetáculo, Flecha! Obrigado pela recepção e parabéns pela plasticidade e pesquisa, evidentes no trabalho! A sede é linda! Abraço à Pequena Companhia de Teatro. EVOÉ!
Raphael Brito
 
Acho que amadureço como espectador, graças a vocês. Tu especialmente foi muito generoso nesta encenação. Mesmo com um grau de dificuldade a mais, a peca permitiu um envolvimento maior de nós por meio de cada personagem...
Hamilton Oliveira
 
Vera Leite resiste às redes sociais, mas me pediu pra transmitir a mensagem de muito obrigado, por ter proporcionado a ela tamanha emoção em assistir seu novo espetáculo.
Vanessa Leite

O olhar de quem nos viu...

Fotos dos debates.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ecos espontâneos

por Ayrton Valle

“Assisti no sábado passado ao excelente espetáculo “Velhos caem do céu como canivetes”, nova montagem da Pequena Companhia de Teatro. Com texto e direção de Marcelo Flecha, inspirado no conto de Gabriel García Márquez, Um señor muy viejo con unas alas enormes", a peça aborda temas como o conflito entre a fé, a miséria, o exílio, além da questão das diferenças.
No elenco, Cláudio Marconcine e Jorge Choairy fazem uma performance soberba, onde vivem um ser humano e um ser alado. O cenário é belo e criativo, todo feito de material reciclado e a trilha sonora é suave e envolvente. Vale ressaltar que, não por acaso, a peça ganhou o Prêmio Funarte Myriam Muniz de Teatro.
Outra coisa boa é o surgimento de um novo espaço para pequenas montagens, como esta nova sede da Pequena Companhia de Teatro, Rua do Giz, 295, Praia Grande, Centro.
Grande. Bravo a todos!” 
Márcio Vasconcelos
 
“Parabéns à Pequena Companhia de Teatro, pelas múltiplas sensações, pelo Thaumázein luminoso e das sensações que penetraram minha alma, meio “anoréxica” . Um texto desértico, porque no deserto me encontrei com fome e com sede, onde a dúvida me mantinha viva; perdão, confundi-me com o personagem. A instauração da dúvida, do encontro dúbio, da sonoridade, do grito daquela alma seca, doída. Senti fome, não sei se ele se saciou com o banquete, mas eu o devorei, como comi as imagens que vieram surgindo, com um cenário onde o espaço e o tempo foram sendo descontruídos, onde se externalizou todo o sentido e o não sentido, o véu de maia foi se desvelando mas não queria, eu não queria, mas ele se desfez. O riso, todo o meu riso foi de dor por ver quão miserável somos, carentes de sentimentos, ele quis te tornar mais humano e conseguiu, somos restos de gente, do que sobrou de humanidade. Obrigada pela obra prima, textual e imagética, à qual consegui me transpor. Meus sinceros parabéns!”
Nina Valentina

domingo, 29 de setembro de 2013

Ingressos disponíveis!

Foto de André Lucap

Definida a distribuição de ingressos, explico tudo, tintim por tintim:
Rua do Giz (o nome oficial é Vinte e Oito de Julho), 295, Praia Grande, 04 (20h), 05 e 06 (19h) de outubro – próxima sexta, sábado e domingo. Essas são as datas, horários e local da estreia do espetáculo Velhos caem do céu como canivetes, nova montagem da Pequena Companhia de Teatro.
Os ingressos são gratuitos, isso você já sabia. São poucos lugares, cinquenta por récita. Serão disponibilizados antecipadamente, para evitar tumultos (risos). Estarão disponíveis para retirada durante esta semana, de segunda (amanhã, 30/set) a sexta (04/out), das 10h às 14h, na sede da Pequena Companhia de Teatro – mesmo endereço das apresentações. Bastará ao interessado passar aqui, bater na porta (tem um batedor de ferro que golpeia a madeira da porta) e pegar o seu ingresso comigo, Katia ou Morgana. O ingresso retirado antecipadamente só terá validade até quinze minutos antes do início do espetáculo, para que o ingresso daquele que eventualmente não pode comparecer possa ser disponibilizado para outro interessado: é o que chamaremos de Lista de espera.
Certamente, os ingressos não serão esgotados durante a distribuição antecipada. Então, aos que não puderam pegar seu ingresso antecipadamente, bastará comparecer no dia e hora das apresentações e o acesso será por ordem de chegada. Se não quiser arriscar, bastará ligar para a Pequena Companhia de Teatro (3232-6054) e confirmar como está a procura, para não dar viagem de balde.
Pode acontecer o milagre de termos alguma sessão esgotada. Nesse caso entra a Lista de espera. Se você tiver muuuuuita vontade de ver, pode esperar pela desistência daqueles que pegaram o ingresso antecipadamente e não compareceram. Quinze minutos antes do início do espetáculo, esses lugares serão disponibilizados para as pessoas que aguardaram na Lista de espera. Entendeu, Gilberto?
É isso. Quanto mais eu falo mais confuso fica. Na dúvida ligue, ou escreva uma mensagem no Blog, Face, Twitter ou e-mail que eu explico tudo de novo. O importante é não perder. Acho que vai valer a pena. No mínimo, você identificará no espetáculo e no espaço o cuidado e respeito que temos pelo espectador.
 

domingo, 15 de setembro de 2013

Votos, tiros e uma penca de questões...


Em processo de montagem, alguns votos seriam, para mim, brincadeira de criança: clausura, jejum, castidade, pobreza, silêncio. Sem fazê-los, pratico-os com uma fidelidade digna de um sacerdócio – o que para um ateu é uma prática, no mínimo, constrangedora.
Esse sacerdócio me trouxe ao ponto em que estou, e onde sempre quis estar. O que sempre quis da vida foi ser respeitado como ser humano. O teatro me proporcionou isso. Nunca fui popular. Nunca desejei fama. O que tenho é o respeito pelo nosso trabalho, a admiração de alguns exagerados amigos, o reconhecimento de uma parcela significativa de pessoas que acompanham nossa trajetória. Essa é a maior fortuna da minha vida, e creio ser fruto desse sacerdócio.
O resultado é sempre o mesmo: um novo espetáculo e uma nova oportunidade para refletir sobre a humanidade. Exílio, miséria, fé... É o cardápio de Velhos caem do céu como canivetes. Ou nenhuma dessas opções, e o espectador, escolha degustar a intolerância, a desesperança. Coautor criativo, prefira a natureza autodestrutiva da humanidade. Ou nada. Leituras... Camadas... Entrelinhas... Signos... A arte é a metralhadora do mundo: dá muitos tiros para acertar pouca gente.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pensar


Quando se reinventar?

Abujamra ainda diz fazer teatro, ficando por detrás de uma mesa lendo textos, ou sendo servido por ele através de um ponto eletrônico. 

Zé Celso permanece fazendo as mesmas coisas alegóricas de sempre.

Ronaldinho, o fenômeno, aposentou-se depois de ser espinafrado pelo seu péssimo desempenho.

AYrton Senna morreu prematuramente.

Renato Gaúcho de jogador passou a técnico.

E eu?

Já assinei algumas direções de espetáculos, mas não é a minha.

Antes de tudo, para ser ator, no teatro que faço, você precisa ser atleta. Já se foram 3 anos da montagem de Pai & Filho, e a piada de que as pessoas acima dos 40 falam de dores e dissabores é autêntica... 

Na Pequena Companhia somos em quatro. Tem vezes que fico a imaginar uma ruptura drástica de parte dela (qualquer que seja). Como suportar? Como é submeter os seus sonhos em conformidade com os sonhos dos outros? Somos casados. Não praticamos sexo (ao menos os quatro juntos).

E se morrer? E se parar? E se separar? E se matar... de ódio? Antes de tudo, nosso contrato é com a nossa felicidade. Bom seria se morrêssemos todos juntos, ou mudássemos para algum país não tão distante, em que, de fato, um dependesse do outro. 

Não vejo problemas quanto às dependências... 

...contanto que não sejam de empregados.