Como membro
da Pequena Companhia de Teatro, estou sempre a matutar sobre as maneiras de exceder
as fronteiras da província. A incredulidade gerada pelo fato de nossa Cia.
ser sediada no estado mais pobre da federação brasileira se apresenta como uma
das principais barreiras para a nacionalização das nossas
ações – fator fundamental para a sustentabilidade do nosso grupo. Nos últimos
anos participamos de festivais pelo Brasil afora, circulamos através de
projetos nacionais, ganhamos prêmios federais, contudo, não estamos integrados
ao país; estamos encerrados em um estado de miséria, atraso, descaso, descuido
e desatenção. Certamente, ninguém se lembra de nós. A referência não se
estabelece, por maior qualidade que você imprima à sua obra. A pergunta mais
recorrente será: que aporte pode dar ao nosso projeto uma Cia. vinda de um
estado desses? Ouvimos isso com frequência em nossas viagens: da surpresa com a
qualidade artística das nossas atividades por sermos do Maranhão. Mas a
surpresa não serve, porque vem posterior ao fato. Preconceito? Não, realidade. Sem
o estofo de um estado produtor, com políticas culturais eficientes, uma
produção contundente e gestores públicos sérios, não será possível se integrar
ao Brasil, estar presente no inconsciente coletivo dos atores que comandam os
destinos culturais deste país (mote para uma reflexão futura). O curador, o
parecerista, o crítico, o conselheiro, o produtor, o selecionador, jamais
atribuirá um valor prévio endossado pelo entorno produtivo e criativo do nosso
estado; nos olhará sempre
com desconfiança e indagará: do-ma-ra-nhão? Soma-se
ao fato, a incapacidade “lobística” dos membros da Pequena Companhia de Teatro.
Fora do nosso estado, temos algumas poucas e sinceras amizades que nos auxiliam
na oxigenação do nosso fazer, porém, não temos a habilidade necessária para a
articulação. Falando em primeira pessoa do singular, escolhi a arte por
acreditar que estaria isento de certos males que assolam o mundo, dentre eles,
a influência, a negociata, os interesses, a adulação. Ledo engano. Como todos,
o meio artístico é habitado por humanos e, como tais, dedicam-se aos conchavos,
acertos e toda sorte de idiossincrasias que extrapolam o interesse artístico e
que não fazem parte da minha formação. Não é a regra, nem a exceção. Careço
desse tipo de habilidade e o meu estomago não digere qualquer situação que não
seja espontânea, orgânica ou fortuita. Pois é, um romântico. Em minha defesa
posso dizer que comecei fazendo teatro amador nos anos 80, no interior do
Maranhão. Apesar de a miséria ser a mesma, o espírito era diferente. As coisas
eram simples, bonitas e honestas. Hoje,
creio ser a obra de arte o que menos importa. Não é a exceção, nem a regra.
domingo, 29 de dezembro de 2013
domingo, 15 de dezembro de 2013
Os números não vendem
Enquanto
aguardamos o encerramento da estreia estadual de Velhos caem do céu como
canivetes, que acontecerá nesta terça (18h30 e 20h30) e quarta (19h), em Imperatriz
(Teatro Ferreira Gullar), faço um exercício matemático e apresento os números de Pai & Filho, após o encerrarmos do
projeto Viagem Teatral, do SESI, que visitou as cidades de São Bernardo do
Campo, Botucatu, Rio Claro, Franca, Marília, Piracicaba e Campinas, no estado
de São Paulo.
O espetáculo
sustenta 3 anos e 8 meses de trajetória desde sua estreia em abril de
2010. Prêmio FUNARTE de Teatro Myriam Muniz 2009 e 2010, Palco Giratório 2012/SESC
e Viagem Teatral 2013/SESI. Foram 109 apresentações e seus respectivos debates para
um público de 8.001 pessoas. 56 cidades visitadas de 19 estados brasileiros – MA,
PI, CE, RN, PE, AL, BA, AP, PA, TO, MT, ES, RJ, SP, RS, SC, PR, MG, RO. Estados
como Alagoas (4 cidades), São Paulo (10 cidades), Santa Catarina (7 cidades) e
Rio Grande do Sul (5 cidades) foram percorridos com maior intensidade e
profundidade, além do Maranhão (8 cidades), claro. Atenção produtores de
plantão: ainda faltam Amazonas, Sergipe, Paraíba, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Roraima, Acre e o Distrito Federal. Participamos de 30 festivais ou mostras de
teatro. Atenção curadores de plantão: ainda faltam um monte! O espetáculo se
apresentou em 44 teatros e 17 espaços alternativos e 97 récitas foram
gratuitas. Em 2014 Pai & Filho retornará à sua terra natal e fará temporada
regular na sede da Pequena Companhia de Teatro para que o espectador ludovicense
possa prestigiá-lo – das 109 apresentações, apenas 5 aconteceram em São
Luís. As apresentações farão parte da programação do projeto TETRALIDADES,
Prêmio Myriam Muniz 2013, que contempla temporada regular do repertório,
oficinas, leituras dramáticas, fóruns etc. O que me leva à indagação final: não
fosse a trajetória nacional de Pai & Filho, haveriam 8.001 espectadores em
São Luís dispostos a assisti-lo ou o espetáculo morreria na estreia? Respondam durante
as apresentações que faremos em 2014.
domingo, 1 de dezembro de 2013
Não, querido, não se voa colocando aspas no verbo "voar"
Fotos de Ayrton Valle |
Crítica de Igor Nascimento
Convém-se que
a Tragédia é a derrota do Homem diante da vontade divina. Não se luta contra o
que foi preestabelecido pelos “Céus”.
Por mais cruel que o destino possa parecer, o Homem é regido por estas
convenções de ordem divina e/ou social e deve respeitá-las. O ato que vai de
encontro àquilo que lhe foi conferido pelos deuses ou/e pela sociedade
culminará em um terrível fim. Seu caráter transgressor, que parecia sua maior
qualidade, será o responsável por sua queda. Mesmo arrependido, continuará
caindo até se chocar contra um sólido fundo trágico...
Nós, do lado
de cá, sentindo terror e piedade, nos purgamos daquele defeito de caráter que
parecia tentador em um primeiro momento, pois deu ao Herói toda glória que
possuía; mas, depois, tornou-se indigesto, daí a purgação. Essa é a catarse,
grosseiramente resumida e efetivamente útil quando se trata de adaptar o
sujeito às convenções:
Em Velhos
Caem do Céu como Canivetes, da Pequena Companhia de Teatro, temos uma montagem que
vai de encontro a todo esse sistema coercitivo que é denunciado por Augusto
Boal em Teatro do Oprimido. A Tragédia é posta ao avesso. O que sim vemos é um
drama com ares trágicos, ou, uma “antitragédia”. Já explico...
O “Ser Alado”
(Jorge Choairy) desce na Terra e encontra o “Ser Humano” (Claúdio Marconcine).
Quando as luzes acendem, o cenário é um ambiente caótico, onde tudo parece
desconexo. A unidade desses objetos em desordem se dá na movimentação do Ser
Humano: sua rotina, aparentemente, é pôr tudo em ordem para, depois, tudo
desfazer. Aquele terreno é um produto de suas ações sob a natureza. Não temos
uma ligação com a ação-texto. Não se opta por um texto dito com nuances bem
definidas. Parece que tudo que se fala é amortizado por esta natureza
solidificada pelos elementos dispostos em cena e pelas ações-físicas que
fazem com que os personagens interajam com os objetos e entre si. Seus corpos
são anormais. O andar, a postura e a voz fogem do corpo cotidiano. O
contraponto é este: um corpo fora do padrão executando ações que revelam um
determinado padrão (determinado): o Extracotidiano Vs Cotidiano vivendo num
espaço mínimo. No primeiro encontro entre os dois personagens esse jogo logo se
revela: o estranhamento causado pela insólita visita não se dá pelo encanto, ou
pela admiração de ver um ser de asas. É, antes, um “que diabo é isso...”.
Ambos são
apresentados. Conhecem-se. Interpelam-se. Coabitam. Convivem. O Ser Alado tem
uma missão: fazer com que o Ser Humano acredite em algo para além daquele plano
terreno (questão que fica em aberto), mas, em suma, significa que ele quer
persuadir o homem a se mover, evoluir, a sair dali, daquele jogo repetitivo. O
Ser Humano, contudo, é imóvel. Ele se atém às necessidades da vida. Luta, mesmo
que de forma parcimoniosa, contra fome e contra a sede. Ao mesmo tempo, ele
cria engenhocas para passar o tempo, inventando outras necessidades - necessidades
fabricadas - como a de ficar tonto através de um pequeno aparelho feito com a
peça central de um ventilador de teto. O Ser Alado tenta se adaptar, construir
uma rotina dentro daquele plano, enquanto “convence”, inutilmente o Ser Humano
a se mover. Seu gesto, que antes se baseava na ação de mexer os ombros,
repelindo as asas, acaba ganhando os ares daquela rotina. Ele, inclusive, testa
a máquina de ficar tonto e se mostra curioso em relação às engenhocas
produzidas pelo Outro, como o Manifesto à Eletricidade. Há uma mudança em seu
corpo e a dramaturgia do ator ganha um significado na trama e conta algo
também.
Os dois
planos: o que está dentro (a realidade) e o que está fora (o além) se
confrontam através dos corpos dos dois atores encerrados naquele universo
retratado, cenograficamente, com materiais retirados do lixo.
Ao final, o
Ser Alado desiste. Voltaria para o lugar de onde veio, mas eis que vem o golpe
da outra dramaturgia, aquela, do velho dramaturgo, aqui, Marcelo Flecha: o Ser
Humano mata o Ser Alado com uma cacetada! O elemento textual decisivo se revela
através de uma didascalia, provavelmente: Ser Humano defere uma boa e segura
bordoada no Ser Alado, matando-o (sic). A grande catástrofe é um ato físico.
Novamente o corpo e o movimento. Aqui, finalmente, o orgânico, o indeterminado,
o transcendente se junta ao material, ao concreto, ao plano terreno prático,
rotineiro, que fará do Ser Alado a refeição, a galinha do Almoço - o resto é
para Janta.
Onde está a
tragédia? Ou a “antitragédia”, como disse antes? Como um Sistema Coercitivo, como alude
Augusto Boal, a catarse visa purgar o homem de algum defeito que não é adequado
para o Sistema. Normalmente, representado por um oráculo ou pelos deuses, esse
Sistema se apresenta com ares superiores, com as pompas do Além e do Supremo.
Em Velhos Caem do Céu como Canivetes, essa lógica se inverte. Lá, a realidade
pré-estabelecida é a miséria, é a fome, é a vida do homem presa a uma rotina
que gira em torno do material, do imediato, do mecânico. Não há um “fora”, um “macrocosmo”, aquilo é o
tudo. Nesse novo sistema entra o Ser Alado pretendendo a mudança. As asas
significam a possibilidade do livre deslocamento. Não há revolução sem
movimento. E é aqui que o Ser Alado sofre o grande golpe trágico, não dado
pelos deuses ou pelo Estado, mas por um simples mortal e cidadão comum. O fim:
a morte. As luzes: vermelhas. O que era para ser purgação se torna refluxo.
Volta para as tripas, ou seja, para o chão do corpo, para o jogo maçante das
necessidades diárias.
O Destino é,
nesse caso, a sobrevivência. Na tragédia, tudo volta a ser como antes através
do terror e da piedade que sentimos pelo herói - basta não seguirmos o seu
exemplo e não achar precioso o seu defeito (Hamartia), afora isso, tudo está
perfeito. No quadro dramático “antitrágico” de Velhos Caem do Chão como
Canivetes tudo volta a ser como era antes, ou seja: terror e piedade; pois,
apesar da refeição garantida, outros dias de míngua e desumanidade hão de
continuar. Sentimos terror da miséria e piedade daqueles que vivem nessas
situações, tais sentimentos estão em nosso cotidiano - basta assistir aos
jornais e ver que embrulho isso dá. O que há de ser “purgado” aqui é a nossa
ingênua crença de que isso, um dia, pode ser mudado, ou seja, que um dia a
pobreza ganhará asas e sairá voando de nossa realidade.
“É pensando
que a porta é alta que batemos nossa cabeça na parede”
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Um outra experiência
Bate-papo na sede d'A Outra... (SSA-BA) |
Faço
parte da Pequena Companhia de Teatro há 4-5 anos. Preconizamos o
Quadro de Antagônicos como ferramenta de preparação para o ator, e
é ele que norteia a pesquisa que fazemos. Somos um grupo de teatro
que pesquisa, e os espetáculos são o resultado disso.
Sentencio
que, gente de teatro se conhece, se entende, se reencontra, se
celebra e se constrói, juntos, a identidade do teatro na
contemporaneidade; múltiplos teatros, formas de fazer, maneiras de
articular. Quando nos profissionalizamos, acabamos por nos distanciar
de algumas práticas por questões financeiras e de agenda.
Articulação, debates e partilhas deixaram de existir em detrimento
de montagens, de circulação, de apresentações, do ofício. Nossas
ações se colam e se plastificam através de editais – públicos
ou privados. Se fugirmos disso, seremos sentenciados ao fracasso, à
mudez dos palcos, à surdez das plateias. Teatro de grupo, hoje,
existe pelo querer fazer e pela busca incessante de recursos que
esses editais disponibilizam.
Assim,
tivemos a oportunidade de conhecer A Outra Companhia de Teatro a
ponto de criar vínculos, estreitar relações. Crescemos e
produzimos conhecimento a partir do diálogo. Em Salvador não foi
diferente. A oportunidade de reencontro para compartilhar o nosso
fazer, conjugado ao fazer dos outros, recupera o entendimento que
tenho do corpo formalizado que temos a partir dos nossos processos. É
nessa perspectiva que o corpo precisa de outras alternativas e
possibilidades para se desconstruir e se ressignificar
permanentemente. O corpo deve se arriscar a encontrar outros
percursos além do que segue confiante.
O
projeto aprovado pela A Outra Companhia de Teatro, o Troca-troca
Nordeste, através do Programa BNB/BNDES de Cultura, possibilitou a
privilegiados grupos de teatro sediados na região Nordeste do Brasil
um espaço de mostragem de suas técnicas/formas e modos de fazer;
partilha de processos de organização; formação em outros
procedimentos que não os habituais utilizados pelas
companhias/grupos de teatro participantes.
Sou
daqueles que, movidos pela urgência das coisas, contamina e deixa-se
contaminar. É que a entrega é pré-requisito para a aceitação,
compreensão e diálogo com outros fazeres e outros pares.
Secularmente estamos ilhados pelo fracasso das conquistas; é que no
Maranhão a riqueza é para poucos e as desventuras para os que
sobram – e esses são muitos. Há um exílio forçado pela
conjuntura político-financeira que é quebrada com ações de
generosidade e troca entre gentes que se afinam – um exemplo é a
proposta d’A Outra...
Um
discurso recorrente é que as dificuldades encontradas para a
manutenção das atividades de um grupo são semelhantes quer de um
existente em São Paulo, quer de um das Alagoas. Não deixa de ser
verdade, mas as maneiras de driblar essas armadilhas são inúmeras e
fenomenalmente diferentes. São esses diálogos que dão lampejos de
sensatez para situações típicas de um grupo de teatro que ama o
que se faz e busca imprimir sua identidade nos espetáculos que monta
e apresenta. Mas, objetivamente, a troca, a compra, a observação, o
diálogo, ele é referenciado comumente quando se tem um foco
específico para tal, e aqui não pertine em se tratando da Pequena
Companhia de Teatro, mas sim do ator que se fez presente. A escolha
de meu nome pelos meus pares (Katia Lopes, Jorge Choairy e Marcelo
Flecha) se deu pela minha afetiva aproximação com a mímica
corporal dramática, de Etienne Decroux, que dialoga com a proposta
de formação da etapa na qual eu participaria (biomecânica de
Meyerhold), e também por estar em processo de pesquisa para a
montagem de um espetáculo-solo para as ruas.
Minha
compreensão acerca das influências sofridas são mais amplificadas,
e assim, tudo o que fazemos ou deixamos de fazer influi e influencia
nas nossas vidas e na vida da comunidade. Presença ou ausência
repercutem, sempre. Enquanto ator, quando em processo, as informações
e transformações pela qual o corpo passou, vai reverberar na
composição, na cena. O senso comum não conseguirá identificar,
mas a plateia especializada, certamente o fará. Conseguirá perceber
na ação da personagem, a formação do ator, as influências que
sofreu durante sua jornada, que não se esgota, mesmo com a chegada
da “indesejada das gentes”.
Meu
corpo recupera o que minha memória acata. Quando não, os espasmos
incompreensíveis podem dar sustentação a uma ação cênica. Não
sei, mas está aí; apareceu, mas não sei sua gênese – e
funciona. O que fica tem autoridade para tal. O que quer ir, a gente
deixa o vento levar. Assim são as coisas.
domingo, 24 de novembro de 2013
Velhos caem, nós também.
Plateia em Balsas |
A proposta de
interiorização das ações da Pequena Companhia de Teatro no estado do Maranhão
existe desde sua origem, e sempre representou um posicionamento político. De
2005 para cá, O Acompanhamento, Entre Laços, Pai & Filho, Velhos caem do
céu como canivetes, e ainda, Medéia e Deus Danado – espetáculos da eterna
parceira, Cia A Máscara de Teatro –, tiveram passagem por cidades do interior,
assim como oficinas, performances literárias, lançamento de livros,
participação em fóruns, palestras, debates, organização de mostras de teatro; tudo com a convicção de estar
contribuindo de alguma maneira para o desenvolvimento sociopolítico-cultural do
estado mais pobre da federação brasileira, e sensibilizando o poder publico
municipal para a importância dessas ações. Balsas, Imperatriz, Bacabal, Caxias,
Santa Inês, Riachão, São José de Ribamar, Timon, São Bento, Fortaleza dos Nogueiras,
Itapecuru-mirim. Mais de cinquenta apresentações de espetáculos, todas
gratuitas (não podemos pretender que comunidades que não te acesso a teatro
tenham a sensibilidade e predisposição de pagar por ele nas pouquíssimas vezes
em que a oportunidade aparece), e seus respectivos debates. e, em todos, o
reconhecimento e a cobrança dos espectadores quanto à importância dessas
iniciativas.
Oficina em Caxias |
Nessa trajetória conseguimos
sensibilizar o poder publico municipal? Não. Todos os projetos de circulação
realizados pela Pequena Companhia de Teatro foram patrocinados pelo Governo
Federal ou pelo SESC, com o apoio cultural local de pizzarias, amigos,
universidades, parentes, colégios, restaurantes, ou a intervenção de amigos-secretários
de cultura/presidentes de fundações. Nas poucas ocasiões em que as prefeituras
se sensibilizaram com nossas ações, o apoio cultural se restringiu a uma
hospedagem aqui, uma refeição acolá, mas jamais qualquer prefeitura maranhense
desembolsou um centavo com qualquer despesa mais significativa. Depois de oito
anos de ações ininterruptas, nunca recebemos por parte de nenhuma prefeitura o
convite espontâneo para a realização de algum tipo de atividade cultural que demandasse
do município o desembolso de recursos para pagamento de cachê, transporte de
cenário e equipe, compra de livros etc. – nosso último projeto já distribuiu gratuitamente
mais de cinquenta livros. O que sim vimos foi o quanto as prefeituras buscam
capitalizar politicamente nossas ações. Nosso único retorno vem sempre do
público. Nos depoimentos constantes, cortantes e emocionados dos espectadores
que reforçam a importância dessas ações. Será suficiente? Com um
diagnóstico desses fica muito difícil convencer os pares quanto à efetiva necessidade da interiorização, porque o reconhecimento merecido vem de quem
frui, mas nunca vem de quem deveria ajudar a pagar a conta com políticas
públicas culturais efetivas que desvinculassem suas ações do óbvio e árido calendário
carnaval-São João-verão-pátria-natal-férias. Sou do interior do estado. Depois
de vinte e tantos anos de labuta, nada mudou. O público merece nosso esforço,
só não sei se a ranhetice da velhice que se assoma respeitará nossa vontade.
Debate em Fortaleza dos Nogueiras |
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Em cena
Li, dia desses, uma matéria que tratava sobre um bate-boca na plateia de uma apresentação teatral do Marco Nanini. Noutro, vi uma tratando acerca de celulares atendidos em plateias de teatro.
Ator não é mentiroso e as pessoas confundem. Manifestação artística é uma coisa. Vida real é outra. Lembro-me de dois casos, sendo que um eu presenciei e outro ouvi dizer: dois atores pararam o espetáculo. Um deles desistiu da apresentação não se sentindo capaz de continuar. O outro, para calar a boca dos que insistentemente atrapalhavam a cena.
Na Pequena Companhia de Teatro já tivemos duas situações em que o corpo reagiu às demandas da cena: em Pai & Filho, a porta caiu sobre mim por causa da ruptura parcial dos ligamentos do joelho direito no aquecimento (o diagnóstico só veio posteriormente), e a perfuração da membrana que protege o tímpano da orelha esquerda de Jorge C. em Velhos Caem do Céu como Canivetes.
A partir dessa última, eu e Jorge C. começamos a brincar o que faria com que a gente interrompesse a apresentação, o que seria profissional ou suicídio diante de determinadas situações, como por exemplo, jogarem um tomate sobre nossas cabeças, falta de energia elétrica...
Esse limite não é determinado pelos cânones. Assim, imagino que o ator seja sacrificado por tomar a iniciativa da contenda entre o planejado e o imprevisto. Depois, vira história.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Ecos espontâneos – Balsas/MA
Imagem da oficina em Caxias |
Cheguei há pouco da apresentação teatral “Velhos caem do céu como canivetes”, no auditório do Colégio São Pio X. Numa produção de Kátia Lopes, Atuação de Jorge Choairy e Cláudio Marconcine, encenação, figurino, cenário, iluminação e texto de Marcelo Flecha, a peça traz reflexões, entre tantas, sobre um “eu” ao mesmo tempo coletivo que, apesar de limitado fisicamente por uma situação determinista e... de resistente ao diferente, é ao mesmo tempo exótico, fluido e rende-se aos “estados de coisa” que permeiam a nossa vida; à realização onírica de nossos desejos, enfim, sobre um chão ou céu movediço em que pisamos ou onde voamos. O diálogo, de cunho filosófico, reflete uma profunda preocupação com o homem e com a crise moral e social dos tempos atuais, certamente ocasionada pelas diferenças sociais, pelas mudanças de tempo e pelos tempos de mudança, e satiriza este homem moderno, que se afoga num consumismo desenfreado. A mim, encantou-me mais o fato de a peça ter recuperado a metáfora da Torre de Babel, da criação e da difusão das línguas no mundo, com que sempre trabalho com meus alunos, e a ênfase na relação existente entre a linguagem, a cultura e o pensamento. A Secretaria Municipal de Cultura está de parabéns pela valorização desta modalidade de espetáculo público, o teatro, trabalho artístico criado para instruir sobre certos princípios, valores, e que realmente geram o crescimento intelectual dos jovens.
Maria Célia Dias de Castro
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Esqueci
Foto de Ayrton Valle |
Estamos circulando com o novo espetáculo "Velhos caem do céu como canivetes", dentro da temporada de estreia, patrocinado pelo Governo Federal, através do Prêmio Myriam Muniz de Teatro, que agrega as cidades de São Luís, Caxias, Balsas, Fortaleza dos Nogueiras e Imperatriz na circulação pelo interior do Maranhão, depois de termos viajado o Brasil inteiro com Pai & Filho pelo SESC (Palco Giratório/2012) e SESI (Viagem Teatral/2013). Lugares diferentes, dificuldades diferentes, prazeres diferentes. Inegável a sensação de conforto dos hotéis existentes no Sudeste, seus teatros equipados, suas plateias atentas e especializadas. Inegável o contraste com o interior de nosso estado. Recupero um dos objetivos primeiros da Pequena Companhia de Teatro que é a interiorização de nossas produções: poucas pessoas, poucos recursos financeiros, iluminação artesanal, cenário passível de montar em espaços alternativos e a certeza da qualidade da obra. O contraste das acomodações e da recepção do público por vezes provoca um ruido no ser humano que, com alguma idade nas costas, começa a se perceber desejoso de um certo conforto, um certo reconhecimento. Proporcionalmente às conquistas, aumenta-se o nível de exigência. Assim, os objetivos primeiros ficam carecendo de reflexão e análise. Gosto da ideia da mutação, da mudança, da falha, da queda, do precipício.
Ano que vem, teremos o conforto do nosso lar como abrigo, já que estaremos com nosso repertório em cartaz, na sede na Pequena, resultado de mais um Prêmio Myriam Muniz de Teatro da FUNARTE/MINC. Antevejo os rumores desejosos de outras viagens. É que somos assim, eternos insatisfeitos.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Nem que chova canivete
A
estreia de "Velhos caem do céu como canivetes" em São Luís encerrou ontem, com a
nossa participação na 8ª Aldeia SESC Guajajara de Artes. Agora nos preparamos
para sair da ilha. O desafio a se encarar nas cidades que compõem a temporada
de estreia estadual patrocinada pela FUNARTE, através do prêmio Myriam Muniz, é
perceber como o espetáculo se comporta fora do espaço onde foi criado. Claro
que a nossa política de montar peças que se adaptem a qualquer espaço físico
(seja palco italiano ou alternativo) permanece, assim como reproduzir a
estética das encenações de maneira idêntica, independentemente de espaço, mas,
os detalhes, só podem ser verificados in loco.
Apresentaremos em dois espaços alternativos (Caxias e Fortaleza dos Nogueiras)
e dois teatros convencionais (Balsas e Imperatriz). A principal preocupação cênica
é a dispensa da caixa preta nos espaços alternativos, assim como ocorre com Pai
& Filho. O receio é que nesta encenação a atmosfera dependa mais desse
fechamento, e a interferência do exterior possa comprometer a ambiência. Não
acredito nisso, porque o entorno reforçaria o caos, mas me preocupo. A jornada
de estreia estadual será de carro, com o reboque transportando o cenário, como
costuma acontecer quando as apresentações são próximas (?) e possibilitam uma
sequência de deslocamento. Antes, um breve intervalo para a conclusão do Viagem
Teatral do SESI, quando nos apresentaremos em Piracicaba (31/10 e 01/11) e
Campinas (02 e 03/11) com Pai & Filho. Como diria Riobaldo “O diabo na rua,
no meio do redemoinho...”.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
A carreira e o reconhecimento
Foto de Ayrton Valle |
No mesmo caminho de Pai & Filho, Velhos Caem do Céu Como Canivestes participará da 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes, na sede da Pequena Companhia, domingo, dia 27, às 19h, com distribuição gratuita de ingressos a partir das 18h.
Da mesma maneira, circularemos por algumas das cidades do interior do estado, concluindo assim a temporada de estreia do espetáculo. Depois, ainda nos restará participar da Semana de Teatro do Maranhão. Além disso, o mundo.
Esse reconhecimento reforma uma ideia antiga da necessidade da aceitação dos outros, que conjugada ao desejo de compartilhar o nosso fazer/dizer, faz do nosso tempo um tempo de colheita. A safra será recorde, pois cremos estar no caminho adequado à nossa proposta.
Entre o desejo e a obrigação, o público acolhe, reconhece, se diverte e fortalece o teatro produzido no estado. Não dá para ficar indiferente.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Pequena máscara
As parcerias são um importante
mecanismo para o surgimento, amadurecimento e consolidação de coletivos teatrais.
Na estreia de “Velhos caem do céu como canivetes” tivemos a grata surpresa de
receber a Cia. A Máscara de Teatro e alguns integrantes da Cia. Pão Doce, ambas
de Mossoró. A Máscara é uma velha parceira nossa, para ela dirigi Medeia e Deus
Danado, espetáculos que já se apresentaram em Imperatriz e São Luís,
respectivamente. A parceria se
estabeleceu pela espontânea empatia com seus membros atuais – Tony, Luciana
Jeyzon e Damásio – e outros parceiros que trilharam caminhos diferentes. Intercâmbio
entre amigos que tem o amor como alicerce. Estabelecido o vínculo, os ecos de
qualquer parceria permanecerão reverberando ad
infinitum. Não foi diferente nesta fabulosa visita. Junto com a surpresa –
parece que fui o único verdadeiramente surpreendido, pois Katia, Morgana e Neto
conspiravam sob minhas narinas, e Jorge e Cláudio desconfiavam da visita – veio
a notícia de que A Máscara está em processo de montagem do espetáculo “Dois”,
texto meu que consta na dramaturgia reunida disponível para a
venda neste blog. Esse mesmo texto já havia sido objeto de uma leitura
dramática para um projeto dos queridos Clowns de Shakespeare. Será o segundo
texto meu encenado por outra Cia. – o primeiro é “Memórias de um mau-caráter”, com
César Boaes, que consta no repertório da Santa Ignorância Cia. de Artes. Parceiros,
companheiros de luta, amigos. Encontros são o alimento do fazer teatral.
Artistas que se retroalimentam para fortalecer a teimosa decisão de continuar
criando. Aproveitando o centenário: a vida é a arte do encontro, embora
haja tanto desencontro pela vida.
P.S.: Os detalhes sobre a montagem de
"Dois" (direção, elenco etc.) você pode ler nos comentários que a Cia. deverá escrever
nesta postagem, pois não tenho informações suficientes. Escrevam, amigos!
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Sobre o velho
Foto de Ayrton Valle |
Ensaios, estreia e algumas apresentações para concluir mais um projeto. O terceiro que monto com direção de Marcelo F., utilizando o Quadro de Antagônicos como procedimento metodológico para composição de personagens. Algumas lições e muitas dúvidas e inquietações. É que o ser não se esgota, e a construção do conhecimento passa por uma série de ações em sequência. E quando não se está satisfeito com o seu trabalho enquanto ator? Qual é a medida? Talvez a percepção que temos do nosso trabalho carrega um acentuado "quê" de exigência desnecessária que acaba por minar as relações internas.
Sempre gostei de projetos porque eles têm começo, meio e fim. Só que o ser permanece, e mais um processo se avizinha. Ofício, prazer, desejo, sentido de existir, disciplina do método, foco.
E tudo recai sobre o dia e a noite e a ilusão de que tudo vai bem. Caminhamos em direção à morte e no percurso simulamos o gozo. Ator, aluno, pesquisador (sic), voluntário para a vida. Síndrome de final de ano que chega mais cedo ou resquícios de uma noite mal dormida? Madrugada, percorreremos mais algumas horas de voo para fazermos o que gostamos: teatro.
Foucaut me aguarda.
domingo, 13 de outubro de 2013
Anjos destroçados entre sonhos de salvação
Foto de Ayrton Valle |
Por Sandro Fortes
A
peça "Velhos caem do céu como canivetes", de Marcelo Flecha, que vi
recentemente encenada por Jorge Choairy e Cláudio Marconcine, esses enormes
atores no palco da Pequena Companhia de Teatro, toca em tantos temas atuais que
se torna uma metáfora singular, e incontornável, a respeito de nós mesmos e de
nossa época.
A
peça se inspira, com ampla liberdade, num conto de Gabriel Garcia Marquez, e
mostra basicamente a dicotomia entre duas personagens antagônicas num cenário
arruinado que me lembrou a terra devastada do famoso poema de T. S. Eliot, pano
de fundo escolhido para sugerir a tenebrosa miséria humana que será exibida em
cena, e tanto a peça quanto aquele poema mostram-nos um mundo em que a cultura
humanista da nossa civilização cedeu lugar ao vazio existencial da barbárie
contemporânea na qual sobrevivemos sabe Deus como. Um detalhe curioso sobre
este cenário de cacarecos e de restos empilhados é que quase tudo nele
sutilmente sugere o formato de asas.
Pois
asas são aquilo que um dos personagens deseja recuperar. Trata-se de uma figura
patética que desabou na terra (como um canivete?) e boa parte da peça
desenrola-se sobre a dúvida que a sua figura desperta (é um anjo? um pássaro?
um super-homem? Um pobre-diabo?) ao dialogar com outro personagem patético,
igualmente decaído, um homem que se afastou da chamada civilização, um
ex-artista, que se tornou um esfarrapado faminto remexendo no lixo e que se
alimenta de caranguejos ou do que mais aparecer na sua frente. Os
questionamentos existenciais das personagens são endereçados também aos
distintos membros da plateia e a miséria ali mostrada é, também ela, legítima
cosa nostra.
O
tema principal é o da queda, em todos os sentidos. Da degradação espiritual,
econômica, social, pessoal, civilizatória. Tanto o homem quanto o
"anjo" ali expostos são seres que chegaram ao fundo do poço. Anjos
caídos, na tradição gnóstica, ou na literatura de um John Milton (Paraíso
Perdido), ou num filme como Asas do Desejo, de Wim Wenders, não são mais anjos
coisa nenhuma, ou são demônios ou agora meros homens.
E
homens, o que somos? Seríamos nós anjos caídos também, vivendo na terra uma
condição infernal de degradação material e espiritual, como uma cena de
sonambulismo do personagem "humano" sugere? Tais questionamentos parecem
ser o propósito das várias hipóteses levantadas e descartadas com muita ironia
no jogo travado entre as duas personagens.
Anjos
aparecem para nos salvar ou, como escreveu Rilke, "todo anjo é
terrível"? Mas que tipo de salvação é possível num mundo dominado pela
fome, pela miséria, pela brutalidade, que perdeu toda conexão com o sagrado?
Sobreviver em meio à penúria total, junto com a mulher e os filhos, que
receberam o legado de nossa miséria? Salvação aqui é escapar da morte de fome.
Neste
sentido, a peça de Marcelo Flecha se situa quase como uma alegoria da
"morte em vida" nordestina (ou antes, da vida e morte severina),
apesar de ser uma obra que aspira ao universal, o autor toca com as duas mãos
no regional: sua peça é cara e clara demais como metáfora da penúria própria de
quem vive em terras devastadas pela miséria, uma gente como a maranhense, que
há tempos amarga as esperanças de melhorias (políticas, econômicas, sociais),
mas que ainda sonha, tem fé, aspira à salvação, o que a torna presa fácil do
oportunismo político messiânico de alguns, enquanto é assolada e acossada pela
precariedade e pela fome de viver.
"Velhos
Caem do Céu Como Canivetes" é incisiva e fere fundo ao mostrar a
existência como uma queda, um rebaixamento do humano. Como reagiremos, se é que
reagiremos, é a grande questão que deixa no ar.
Para as pequenas...
(Pequena Companhia de Teatro e Petite Mort Teatro).
Foto de Ayrton Valle |
Como num "tempo de alegria, como dois e
dois são quatro, sei que a arte vale a pena, mesmo que o pão seja caro e a
liberdade pequena". Com esses versos de Ferreira Gullar, referencio dois
acontecimentos, duas estreias, dois atores, dois diretores, dois dramaturgos,
duas obras.
Em meio à realização da calorosa e bem
sucedida edição da Feira do Livro, 2013, duas grandes estreias marcaram a cena
teatral: Dona Derrisão, do Petite Mort Teatro e Velhos Caem do Céu como
Canivetes, da Pequena Companhia de Teatro.
Com dramaturgia original, ambas escritas pelos
próprios dramaturgos-diretores dos espetáculos, Igor Nascimento e Marcelo
Flecha, a temática, falas e diálogos, inspiradas em contos, cotidiano e
inspirações diversas, reverberam no público, que reage seja com um sorriso de
identificação da causa, seja com associação de imagens mentais que relacionam a
voz poética dos atores com fatos reais e luta diária pela sobrevivência, pela
valorização da arte, pelo respeito ao outro, pela criação de um sentido para a vida
e principalmente, pela aceitação de um fim, de uma inevitável morte como etapa
da vida.
Assim compactuam Igor Nascimento e Marcelo
Flecha nas suas mais recentes inaugurações. Os dois diretores – dramaturgos
colocam em cena dois atores que fazem uso de uma poética do corpo e da voz,
através da construção de uma corporeidade teatral fundada nos opostos,
contenção e expansão, vigor e suavidade, que na pesquisa da Pequena Companhia
segue o caminho dos antagonismos como procedimento criativo e na Petite Mort,
dos afastamentos e aproximações.
Dois atores dialogam entre si. Em Velhos Caem
do Céu como canivetes, os diálogos concentram-se entre os dois personagens, o
humano e o alado, sem falas diretas para a plateia que assiste a tudo pelo
“buraco da fechadura”. Em Dona Derrisão, os diálogos são compartilhados com o
público, na proposta de aproximação e deslocamento por meio dos personagens
variados, velho, pop star, velha, paciente, médico, outro, através do jogo de
revezamento do ator narrador.
A plasticidade em cena cria uma justaposição
do real com o teatral por meio dos elementos utilizados para compor o cenário
nos dois espetáculos, fazendo uso da exploração dos elementos da luz, como cor,
direção e intensidade assim como da ressignificação de objetos utilitários,
domésticos e cotidianos. O ambiente domiciliar e secreto, no espaço íntimo do
mendigo, artista e humano, em Velhos Caem do Céu como Canivetes, se contrapõe
ao ambiente público, cheios de interrupções, ruídos e interferências da parada
de ônibus, em Dona Derrisão.
Diante da teatralidade visual, textual e
expressiva, agradeço a essas companhias (Pequena Companhia de Teatro e Petite
Mort Teatro), por movimentar um tempo de alegria, um tempo quando a arte vale a
pena, mesmo que o pão seja caro e a liberdade Pequena/Petite.
Gisele Vasconcelos
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Ecos espontâneos, caem...
Mais
uma surpresa! Só vocês mesmo. Obrigado pelo espetáculo, desde o texto à
interpretação dos atores, direção sem comentários e Kátia parabéns também pela
produção. Gosto desse barato de entender, achar que entendeu, não entender e
depois entender tudo do seu jeito. Muito bom! Quero mais!!!!!!
Laerth
Garcez
Uma
maravilha ver a estreia do novo espetáculo, Flecha! Obrigado pela recepção e parabéns
pela plasticidade e pesquisa, evidentes no trabalho! A sede é linda! Abraço à
Pequena Companhia de Teatro. EVOÉ!
Raphael
Brito
Acho
que amadureço como espectador, graças a vocês. Tu especialmente foi muito
generoso nesta encenação. Mesmo com um grau de dificuldade a mais, a peca
permitiu um envolvimento maior de nós por meio de cada personagem...
Hamilton
Oliveira
Vera
Leite resiste às redes sociais, mas me pediu pra transmitir a mensagem de muito
obrigado, por ter proporcionado a ela tamanha emoção em assistir seu novo
espetáculo.
Vanessa
Leite
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Ecos espontâneos
por Ayrton Valle |
“Assisti no sábado passado ao excelente espetáculo “Velhos
caem do céu como canivetes”, nova montagem da Pequena Companhia de Teatro. Com
texto e direção de Marcelo Flecha, inspirado no conto de Gabriel García
Márquez, Um señor muy viejo con unas alas enormes", a peça aborda temas como o
conflito entre a fé, a miséria, o exílio, além da questão das diferenças.
No elenco, Cláudio Marconcine e Jorge Choairy fazem uma
performance soberba, onde vivem um ser humano e um ser alado. O cenário é belo
e criativo, todo feito de material reciclado e a trilha sonora é suave e envolvente.
Vale ressaltar que, não por acaso, a peça ganhou o Prêmio Funarte Myriam Muniz
de Teatro.
Outra coisa boa é o
surgimento de um novo espaço para pequenas montagens, como esta nova sede da
Pequena Companhia de Teatro, Rua do Giz, 295, Praia Grande, Centro.
Grande. Bravo a todos!”
Márcio Vasconcelos
“Parabéns à Pequena Companhia de Teatro, pelas múltiplas
sensações, pelo Thaumázein luminoso e das sensações que penetraram minha alma, meio
“anoréxica” . Um texto desértico, porque no deserto me encontrei com fome e com
sede, onde a dúvida me mantinha viva; perdão, confundi-me com o personagem. A
instauração da dúvida, do encontro dúbio, da sonoridade, do grito daquela alma
seca, doída. Senti fome, não sei se ele se saciou com o banquete, mas eu o
devorei, como comi as imagens que vieram surgindo, com um cenário onde o
espaço e o tempo foram sendo descontruídos, onde se externalizou todo o sentido
e o não sentido, o véu de maia foi se desvelando mas não queria, eu não queria,
mas ele se desfez. O riso, todo o meu riso foi de dor por ver quão miserável
somos, carentes de sentimentos, ele quis te tornar mais humano e conseguiu,
somos restos de gente, do que sobrou de humanidade. Obrigada pela obra prima, textual
e imagética, à qual consegui me transpor. Meus sinceros parabéns!”
Nina Valentina
terça-feira, 8 de outubro de 2013
domingo, 29 de setembro de 2013
Ingressos disponíveis!
Foto de André Lucap |
Definida a distribuição de
ingressos, explico tudo, tintim por tintim:
Rua do Giz (o nome oficial
é Vinte e Oito de Julho), 295, Praia Grande, 04 (20h), 05 e 06 (19h) de outubro
– próxima sexta, sábado e domingo. Essas são as datas, horários e local da estreia
do espetáculo Velhos caem do céu como canivetes, nova montagem da Pequena
Companhia de Teatro.
Os ingressos são gratuitos,
isso você já sabia. São poucos lugares, cinquenta por récita. Serão disponibilizados antecipadamente, para evitar
tumultos (risos). Estarão disponíveis para retirada durante esta semana, de
segunda (amanhã, 30/set) a sexta (04/out), das 10h às 14h, na sede da Pequena Companhia de
Teatro – mesmo endereço das apresentações. Bastará ao
interessado passar aqui, bater na porta (tem um batedor de ferro que golpeia a
madeira da porta) e pegar o seu ingresso comigo, Katia ou Morgana. O ingresso
retirado antecipadamente só terá validade até quinze minutos antes do início do
espetáculo, para que o ingresso daquele que eventualmente não pode comparecer
possa ser disponibilizado para outro interessado: é o que chamaremos de
Lista de espera.
Certamente, os ingressos
não serão esgotados durante a distribuição antecipada. Então, aos que não
puderam pegar seu ingresso antecipadamente, bastará comparecer no dia e hora
das apresentações e o acesso será por ordem de chegada. Se não quiser arriscar,
bastará ligar para a Pequena Companhia de Teatro (3232-6054) e confirmar como
está a procura, para não dar viagem de balde.
Pode acontecer o milagre
de termos alguma sessão esgotada. Nesse caso entra a Lista de espera. Se você
tiver muuuuuita vontade de ver, pode esperar pela desistência daqueles que
pegaram o ingresso antecipadamente e não compareceram. Quinze minutos antes do
início do espetáculo, esses lugares serão disponibilizados para as pessoas que
aguardaram na Lista de espera. Entendeu, Gilberto?
É isso. Quanto mais eu
falo mais confuso fica. Na dúvida ligue, ou escreva uma mensagem no Blog, Face,
Twitter ou e-mail que eu explico tudo de novo. O importante é não perder. Acho
que vai valer a pena. No mínimo, você identificará no espetáculo e no espaço o
cuidado e respeito que temos pelo espectador.
domingo, 15 de setembro de 2013
Votos, tiros e uma penca de questões...
Em processo de montagem,
alguns votos seriam, para mim, brincadeira de criança: clausura, jejum,
castidade, pobreza, silêncio. Sem fazê-los, pratico-os com uma fidelidade digna
de um sacerdócio – o que para um ateu é uma prática, no mínimo,
constrangedora.
Esse sacerdócio me trouxe
ao ponto em que estou, e onde sempre quis estar. O que sempre quis da vida foi
ser respeitado como ser humano. O teatro me proporcionou isso. Nunca fui
popular. Nunca desejei fama. O que tenho é o respeito pelo nosso trabalho, a
admiração de alguns exagerados amigos, o reconhecimento de uma parcela
significativa de pessoas que acompanham nossa trajetória. Essa é a maior
fortuna da minha vida, e creio ser fruto desse sacerdócio.
O resultado é sempre o
mesmo: um novo espetáculo e uma nova oportunidade para refletir sobre a
humanidade. Exílio, miséria, fé... É o cardápio de Velhos caem do céu como
canivetes. Ou nenhuma dessas opções, e o espectador, escolha degustar a intolerância,
a desesperança. Coautor criativo, prefira a natureza autodestrutiva da humanidade.
Ou nada. Leituras... Camadas... Entrelinhas... Signos... A arte é a
metralhadora do mundo: dá muitos tiros para acertar pouca gente.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Pensar
Quando se reinventar?
Abujamra ainda diz fazer teatro, ficando por detrás de uma mesa lendo textos, ou sendo servido por ele através de um ponto eletrônico.
Zé Celso permanece fazendo as mesmas coisas alegóricas de sempre.
Ronaldinho, o fenômeno, aposentou-se depois de ser espinafrado pelo seu péssimo desempenho.
AYrton Senna morreu prematuramente.
Renato Gaúcho de jogador passou a técnico.
E eu?
Já assinei algumas direções de espetáculos, mas não é a minha.
Antes de tudo, para ser ator, no teatro que faço, você precisa ser atleta. Já se foram 3 anos da montagem de Pai & Filho, e a piada de que as pessoas acima dos 40 falam de dores e dissabores é autêntica...
Na Pequena Companhia somos em quatro. Tem vezes que fico a imaginar uma ruptura drástica de parte dela (qualquer que seja). Como suportar? Como é submeter os seus sonhos em conformidade com os sonhos dos outros? Somos casados. Não praticamos sexo (ao menos os quatro juntos).
E se morrer? E se parar? E se separar? E se matar... de ódio? Antes de tudo, nosso contrato é com a nossa felicidade. Bom seria se morrêssemos todos juntos, ou mudássemos para algum país não tão distante, em que, de fato, um dependesse do outro.
Não vejo problemas quanto às dependências...
...contanto que não sejam de empregados.
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