sábado, 22 de novembro de 2014

Aniversário fora de época


Em 2015 a Pequena Companhia de Teatro completa dez anos de existência. Na verdade, em 2015 e 2016. Somos um grupo que tem o privilégio de festejar durante um biênio. Explico: em 2005 estreou o espetáculo “O Acompanhamento”, montagem basilar para a constituição do nosso grupo. Em 2006 a companhia se estabeleceu legalmente, como pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos. Para ser mais exata, nossa comemoração se estenderia do dia 29/11/2015, dia da estreia do espetáculo, até o dia 11/06/2016, quando recebemos a certidão de pessoa jurídica, depois de uma via-crúcis burocrática, enfadonha e onerosa. De lá para cá foram quatro espetáculos (O acompanhamento, Entre laços, Pai & Filho e Velhos caem do céu como canivetes), duas coproduções com a Cia. A Máscara de Teatro (Medeia e Deus Danado) e diversas outras atividades artísticas (leituras dramáticas, feiras de livro, debates, performances, autos, palestras, lançamento de livro, oficinas etc.). Inicialmente vamos comemorar refletindo. Resolvemos estabelecer um fórum de reflexões entre os quatro para analisar nossa trajetória até aqui. A ideia é pensar o todo e o uno. Bater um papo semanal, sem data para terminar, sobre o que éramos, o que nos tornamos, e no que não queremos nos transformar. Discutir sem pressão prática de agenda, projetos, pautas, editais, nada disso, apenas refletir. Estamos dispostos a encarar os próximos dez anos? Para que serviram os que passaram? Quais são as mudanças necessárias? O que não pode mudar? Cabe resistir? Cabe debater? Cabe mais um? Cabedal? Cabide? Com quantos sonhos se constrói uma realidade? Com quantos pesadelos se destrói um sonho? Com quantos amigos se impõe uma vigília? E a boa, velha, repetida, e principal pergunta: com quantos paus se faz uma canoa? As respostas aparecerão aqui, parcimoniosamente. Quanto à última, nem um mestre canoeiro.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Novo eco


Velhos Caem do Céu Como Canivetes, espetáculo de excessos e de difícil assimilação
Por Alexandre Mate

Drummond manifesta em seu belo poema O Lutador que haveria palavras dentro dele buscando canal: prontas para explodir. Criadores teatrais — como vulcões em estados próximos à erupção —, aliado às palavras, teriam, além destas, imagens, deslocamentos e desenhos no espaço cênico, efeitos de diversas naturezas, músicas e sonoridades em momentos distintos... A linguagem teatral é complexa e a eclosão de seu fenômeno ocorre durante o espetáculo. Antes e depois disso, o que se tem são idealizações e tentativas de explicitação.

A Pequena Companhia de Teatro, de São Luís (MA), e cujo trabalho anterior foi o pungente Pai e Filho, apresentou seu último trabalho no Teatro do Sesi, de Piracicaba (SP), durante a nona edição do Fentepira. A obra, toma como referência um conto de Gabriel García Márquez que, de modo bastante sucinto, apresenta os diálogos entre um anjo “caído” e um homem apartado do mundo. Tal situação, característica dos embates e choques entre seres de contextos absolutamente distintos, tem como cenário uma paisagem devastada (repleta de lixo reaproveitado e transformado em “obras de arte”) e lotada de objetos heteróclitos.

Feito máquinas, as duas personagens falam sem pausa e de modo ininterrupto. Sem pausa, e como condenado ao movimento constante, o ser que habita a paisagem catastrófica, parece um descendente de Sísifo (ele não descansa nunca, e parece condenado aos movimentos sem sentido).

Sem tempo para a reflexão do espectador, os efeitos se somam e vêm aos borbotões. Gilberto Gil lembra em versos de música famosa algo como em um copo vazio haveria uma plenitude de ar. Velhos Caem... precisaria, talvez, a partir de tal preceito, conferir tempo para que o público (razão de ser do espetáculo) pudesse decodificar a pluralidade de tantos símbolos.

Portanto, pausas e ralentamentos quanto ao discurso excessivo (texto, adereços, movimentações...) tenderiam a ajudar na fruição de pequenas belezas não percebidas pelo excesso.

*Velhos Caem do Céu Como Canivetes foi apresentado no domingo, dentro da mostra oficial do 9º Fentepira