quinta-feira, 28 de abril de 2011

Profissionalização, profissionalismo e ofício


Não reclamo. Só analiso.

Se eu vivo de teatro? Fiquei quase dois dias nos aeroportos do país, mais um bocado dentro de um ônibus para ganhar R$ 300,00.

Twitter, projetos, Facebook, Blog, Youtube, e ainda está por vir a página e a sede da Pequena. 

Pensar em pagar sindicato e militar na categoria.

Meus tempos de prazer com o teatro vai sumir. Prenuncio dias de trabalho braçal que requererão sacrifício de um tempo que deveria ser de puro ócio.

Voltar no tempo é desistir da profissionalização que boa parte da humanidade julga necessária. Eu sempre odiei o trabalho enquanto mecanismo de produção.

Na ausência do ócio, fico aqui levantando questões sem pertinência para o fazer teatral que tanto amo. Refletir requer espaço e tempo. Sinto-me vazio de sentidos hoje. 

E para alegrar o ambiente, uma dica de site. Clique aqui.

Música, literatura, teatro e outros bichos


A ocasião não poderia ser melhor. O lançamento em Imperatriz do livro “Cinco Tempos em Cinco Textos” – dramaturgia reunida de Marcelo Flecha coincidirá com a realização do Ciclo de leituras dramáticas do autor, projeto que está acontecendo desde o dia 24 de abril no Teatro Ferreira Gullar.


Marcelo Flecha receberá o público para um brinde à sua estreia literária dia 30 de abril (sábado) a partir das 20h no Boteco do Frei.


A atmosfera da noite de autógrafos terá Jorge Choairy assumindo seu papel de Dj, Cláudio Marconcine seu lado performer e André Lucap empunhando seu violão. A Marcelo caberá provocar intervenções artísticas com quem apareça por lá no decorrer da noite.
Para encerrar as atividades do lançamento, o autor participará do seminário “O teatro contemporâneo e suas vertentes” que acontecerá dia 1º de maio (domingo) às 19h após a leitura do texto “Dois” no Teatro Ferreira Gullar, como parte da programação do ciclo de leituras dramáticas.

domingo, 24 de abril de 2011

Fim de FESTA

Como o sinal da internet não chegava ao quarto, não foi possível fazer o diário do Festival Santista de Teatro, como sempre fazermos neste blog. Então me dedico agora a trazer uma retrospectiva das nossas experiências por lá. O festival é promovido por um conjunto de artistas que, com muita garra, procuram realizar o evento, e manifesto aqui a importância da iniciativa e a compreensão quanto às dificuldades. A opinião que coloco a seguir é a título de colaboração e sugestão para o evento.O festival, assim como todos os festivais de que Pai & Filho participou até aqui, arcou com nossas despesas de transporte aéreo, transporte de carga, hospedagem, alimentação e cachê. Quanto à estrutura logística, confesso que fiquei um pouco decepcionado. A alimentação foi ruim e a hospedagem regular. Penso que não é de bom tom para um festival nacional continuar a hospedar seus participantes em alojamento, mesmo que este, assim como o de Guaramiranga, seja um espaço de retiro espiritual e de agradável permanência. Caso seja mantido deveriam ser melhoradas as instalações procurando aumentar o conforto. O deslocamento interno foi problemático, mesmo no dia da nossa apresentação, mas, sempre que acionada, a comissão manifestou-se eficiente, principalmente durante a montagem no Teatro Guarany (lindo), quando o espetáculo ameaçava ficar comprometido por falta do fechamento da caixa cênica. Tudo foi resolvido com competência.

O festival promoveu as Mostras Adulto, de Rua, Infantil e Paralela, além de diversas atividades outras. Durante a nossa permanência, conseguimos assistir a dois espetáculos adultos, um infantil e participar da mesa redonda “O impacto de grandes festivais na cultura local e na formação de público”, o que não me permite fazer uma avaliação quanto as mostras, mas posso destacar que Pai & Filho foi o único espetáculo fora de São Paulo da Mostra Adulto.

Destaco a mesa redonda e o sempre agradável encontro com o querido Marcelo Bones que esteve como curador da Mostra de Rua. Muito agradável também o quintal da Pagu, ponto de encontro noturno de todo o evento. Nossa montagem foi em palco italiano e o espetáculo adaptou-se bem. Boa apresentação, limpa, mas um pouco fria – a chegada definitiva de Cláudio em maio faz-se necessária.
O debate foi polêmico e um pouco tumultuado. O formato adotado pela curadoria da Mostra Adulto não me agradou. Diferentemente do que ouvi quanto a Mostra de Rua – onde o foco era estabelecer uma conversa sobre o processo de montagem – aqui o foco era realizar juízo de valor quanto às obras, criticando veemente algumas, inclusive a nossa, gerando uma reação natural daqueles que não concordavam com os pareceres, tornando o debate um tanto quanto agressivo. Penso que o teatro evoluiu, e esse formato ficou nos anos 80, envelhecido. Nossa experiência vem mostrando que o diálogo entre os diferentes fazeres tem sido o foco da grande maioria dos debates em festivais atuais e deverá permanecer assim para o amadurecimento do teatro contemporâneo.

No mais, a pequena continua se divertindo com o seu fazer e a experiência é sempre positiva. Como sempre, rimos muito!

sábado, 23 de abril de 2011

Piada interna

Cada efeito bonito que produzimos nos cria um inimigo; 
para ser popular, a pessoa precisa ser uma mediocridade. 
(Oscar Wilde)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ciclo de leituras dramáticas Marcelo Flecha


Cairo Morais, Kely Oliveira, Karla Nascimento, Clarícia Dallo, Michel da Costa e Thercyo Ishiai farão leituras dramáticas dos textos Clausura, Dois, Privada e Distorções de um dia interminável, em Imperatriz-MA, no Teatro Ferreira Gullar, no período de 24/04 a 04/05/2011, sempre às 18h10, com entrada gratuita.

Esta ação faz parte do projeto "Processo colaborativo na construção de um espetáculo para as ruas", viabilizado com recursos do Programa BNB/BNDES de Cultura.

Os textos se encaixam perfeitamente em propostas de leituras dramáticas, já que eles não foram montados, são desconhecidos (mesmo publicados em antologia), de autor da contemporaneidade, passíveis de irem à cena e discutidos. 

Para quem se sentia temeroso em escrever, publicar e montar textos de sua autoria, agora com esse ciclo de leituras todos os tabus/mitos/pregas se foram. Basta abrir um sorriso largo e perceber que a funcionalidade da vida não requer tanto assim de nós mesmos.


sábado, 9 de abril de 2011

Balanço de Aniversário

A contar com a realização da VI Semana de Teatro no Maranhão (torcemos para isso) e a perspectiva de aprovação de Pai & Filho para integrar a mostra, o 53° Festival Santista de Teatro – FESTA será a sexta mostra ou festival que o espetáculo participa desde sua estreia. Todas as inscrições que encaminhamos foram aceitas e ainda recebemos uma sondagem extra-oficial do FIAC – Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia. FENTEPP, FNT, Agosto e Guajajara foram experiências que nos fizeram refletir muito aqui no blog, é só clicar em festivais e mostras para ler mais. Ainda não atacamos os grandes: FIT, FILO, POA etc. Tudo a seu tempo. Curitiba só vale a pena se for na mostra oficial, que é selecionada através de curadoria e não de inscrições. O FRINGE, mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, por não ter mais nenhum tipo de seleção e aceitar todo e qualquer espetáculo que se inscreva, acabou se tornando um depósito descontrolado de todos os grupos do Brasil dispostos a pagar uma fortuna para se apresentar e disputar um espectador a tapa. Somam-se a essas participações os dois Prêmios Myriam Muniz que o espetáculo recebeu, para montagem, em 2010 e para circulação em 2011. No Prêmio SATED, melhor figurino, cenário, ator, produção, direção e espetáculo. São Luís, Imperatriz, Balsas, Riachão, Timon, Santa Inês, Guaramiranga, Presidente Prudente, Natal, Belém, Marabá, Araguaina, Palmas, Teresina, Parnaíba, Fortaleza, Sobral e Mossoró são alguns dos nossos destinos. Para um filho que completa um ano de vida hoje, não temos do que reclamar. Parabéns ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo, Amém.

domingo, 3 de abril de 2011

O papel da reciclagem na pequena companhia


A utilização de materiais recicláveis pela pequena na construção dos seus espetáculos se confunde com uma consciência intuitiva e remete a meados da década de noventa na cidade de Balsas – quando o ecologicamente correto não era moda nem chato a ponto de fazer-nos urinar no chuveiro. Falo de um Santo Inquérito construído com caixas de tomate.

O desafio está na escolha dos materiais e no diálogo destes com o que se quer dizer.

Uma nova possibilidade de montagem, e lá está Jorge trazendo um monte de plásticos azuis que Didi – seu pai – jogara fora, lá está Katia a observar o lixo alheio, cá estou alerta ao entulho que me rodeia. Cláudio, como ainda está longe, é café com leite. Não é um pensamento visual, nem uma definição da encenação a partir da estética, apenas estamos atentos aos materiais do nosso entorno, imaginando que, em algum momento, podem servir. Depois, no processo de construção da encenação, enquanto o dizer se estabelece em sala de ensaio, esses materiais começam a reaparecer – imageticamente. Se algum deles dialoga com o que estamos buscando, vai sendo incorporado. Na maioria das vezes, temos mais entulho do que cenários, mas vale a pena. Entre banners velhos, bobinas gráficas descartadas, disquetes de computador (lembram?), rolhas, madeiras de todos os tipos, papelão em tubos, em folhas, CDs, telhas, sempre aparece aquele material que completará o dizer dos atores em cena. Paralelamente, a percepção do desperdício gerado pelo consumo. Assim, a partir da destruição, construímos. No caso atual, “Velhos Caem do Céu como Canivetes”. Entulho cairá na mesma intensidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O que penso sobre o teatro contemporâneo

Teatro contemporâneo é o teatro feito na contemporaneidade, hoje e em qualquer lugar do mundo. É como história: uma se vive e outra se conta.

Diferentemente da historicização estética das artes, que ilustra bem as diferentes épocas da história antiga e moderna, as inquietações dos artistas envolvidos e o contexto da sociedade existente no momento, o teatro produzido hoje não reflete uma estética definida, mesmo porque, a efemeridade do teatro difere das outras artes, que têm como sustentar-se no tempo: um livro impresso, uma tela pintada, uma escultura preservada.

O fazer teatral era focado especificamente no texto. Era ele quem conduzia a encenação. Com isso, o texto tinha definição temporal, classificável. O teatro, enquanto encenação, pode até ter classificação, mas não se restringe ao/no tempo.

Hans Thies Lehmann, teórico alemão, foi o responsável por cunhar o termo pós-dramático para o teatro. Essa ruptura se deu dentro na dramaturgia textual a partir de Beckett, dramaturgo irlandês. Com isso, as possibilidades de um teatro focado mais especificamente na encenação e não no texto se expandiu. Deu lugar a outras dramaturgias que não a do autor, como a do ator, da cenografia, da iluminação, do figurino.

Nessa perspectiva penso que o teatro contemporâneo, então, deveria mostrar os conflitos do homem e da sociedade contemporânea num universo em que o texto dramático não existiria mais, não fosse mais possível montar com ele, dada a urgência de outras questões que o texto literário não fosse mais capaz de dar conta. Porém, essa ruptura é ineficaz quando percebemos que o teatro, hoje, a partir desse distanciamento do texto dramático, passou a ser múltiplo em demasia. Muita informação, muito signo. Isso em teoria, pois na prática, o que ocorre, é uma repetição de práticas antigas. Sugere-me que o homem de hoje não se apercebeu da real dimensão do teatro pós-texto literário-dramático.

Inevitável dizer que por essas multiplicidade de possibilidades, o jargão “vários teatros possíveis” existe para dar sustentação a uma prática ineficaz e ineficiente do teatro que se faz hoje, mas que é datado no passado. Por hoje nada diz, nada sugere, nada propõe.

Tenho visto menos de teatro do que deveria. Tenho gostado pouco do teatro visto.