Eram dois irmãos que compartilharam a mesma mulher.
Eram pai e filho que viviam em suas respectivas gerações.
Serão dois seres, de diferentes mundos e visões.
Cláudio e Jorge.
Como se estabelece a escolha dos atores e suas personagens, e como essa fórmula de dois pode vir a estar desgastada?
A roda.
Há um mito que diz que atores bons são atores com múltiplas facetas. Não sei sapateado, cantar. Sou humano e falho e acredito no eterno retorno. E outro: Se há algo na personagem que se identifica com o ator, é mais fácil, mais prazeroso em compô-la.
Personagem não é roupa; nunca lhe cai bem. Se vivemos em uma comunidade, e somos humanos, certamente haverá algo que nos identifica além das pernas e da língua. Não dá para fugir disso.
Mais uma vez um espetáculo com dois atores? A tensão, geradora de conflitos, está no nosso corpo, literalmente. Ela nos faz ficar de pé. Esse ato em si, é carregado de conflitos, de tensões. Enganam-se os teóricos quanto a diferenciação de movimento e ação quando dizem que o primeiro não tem intenção. Há, só não consciente. Assim, as limitações se restringem ao universo do expectador, e não da encenação.
Atores nunca saem ilesos da vida. Teatro é vida. Fazer teatro é como respirar, não só no aspecto da necessidade como também da continuidade do fazer. E é sempre um exercício compor personagens, quaisquer se sejam elas, contanto que se tenha tempo e espaço para tal, já que algumas encenações assassinam os atores com a ditadura do texto ou da direção. Ator precisa de oxigênio. Ator precisa de amor, carinho e afeto do diretor. Esse jogo é de interesses. O resultado é compartilhado por todos: um espetáculo!