em
época de vacas magras, a ideia de transitar pelas contradições é
tábua de salvação para o fazer cultural-artístico
no maranhão, um estado que privilegia os grandes eventos e
desconstrói a participação da comunidade em criar sua arte, dar
vazão à sua subjetividade. sem
recursos e estímulos torna-se inviável querer gestar cultura.
se
falarmos na prefeitura municipal de são luís, a prática se alinha
e se afina com a do estado do maranhão. o governo federal inexiste
desde o golpe que tirou dilma roussef da presidência e pelo andar da
carruagem o futuro que nos aguarda é aterrador.
com
a frequente e continuada ausência do poder público viabilizando o
fazer artístico-cultural,
as práticas e os olhos se voltaram para a iniciativa privada como
sesc, sesi, o boticário, itau, valle do rio doce e uma dezena de
instituições que são, de alguma forma, subsidiadas com recursos
públicos, quer proveniente da arrecadação do governo e posterior
repasse,
por meio de contribuições que as empresas são obrigadas a pagar
sobre o valor da sua folha de pagamento,
quer
pela lei da renúncia fiscal, em que as empresas, através de suas
fundações, determinam onde disporão seus recursos, arbitrando suas
programações.
quando
nos aceitamos
e nos reconhecemos sobreviventes
na
arte
e, na atual conjuntura, não nos predispusermos à esfera da
contradição, não conseguiremos elaborar o pensamento para nos
encaixarmos (esse é o termo adequado) nos parâmetros estabelecidos
pela iniciativa privada. o discurso de pensar na obrigatoriedade do
estado (no sentido de nação) como agente subsidiador de práticas
artísticas, pede passagem para aceitar a interferência da
iniciativa privada em atribuir valor à sua obra. mediado
pelo estado a perspectiva se restringia a valores, geografia e
linguagem. não se atribuía valor estético nem político à obra
como fator de seleção.
o
diálogo
estabelecido nessa
reflexão parte
do pressuposto que, mesmo sendo entidades privadas (em alguns casos
são paraestatais), os recursos destinados às suas ações são
públicos.
nossa
prática só se efetivará se repensarmos nosso processo, nossas
angústias. não sairemos ilesos dessa reflexão. mas, precisamos
repensar nossa função enquanto artistas ou enquanto padeiros,
copeiros, serventes. a época dos editais públicos deixou de
existir. a ideia de sobreviver sem mudar nosso discurso e nossa
prática não tem mais espaço. se não nos pluralizarmos, deixaremos
de ser profissionais na
arte
para sermos outra coisa - qualquer coisa - para sobrevivermos em uma
sociedade que pensa diferente da gente a ponto de não nos quererem
mais. estamos morrendo aos poucos. nossa sobriedade se esgota para
dar lugar ao delírio de quem passa fome buscando uma migalha de pão
para o jantar, vendo sua dignidade de esvair como areia entre os
dedos.