terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Estamos em Porto Nacional

Madrugada em Palmas e manhã em Porto Nacional. Menos de uma hora de carro. Já havia estado aqui. Agradável o retorno. Hotel, Centro Cultural, montagem, oficina, apresentações à noite. 
Público bom como em Palmas. O Tocantins nos reservou uma excelente plateia. Os debates sofrem oscilações naturais, já que mudamos de cidade. O teatro, como o público, sempre é diverso. Ontem tivemos um ritmo puxado, pois só pudemos montar o cenário depois do meio dia, o que acarretou um certo cansaço, mas não chegou a interferir nas apresentações de modo a prejudicá-la. Ao contrário, as récitas foram muito boas. 
À noite, não jantei. Reservei-me o direito de ir dormir antes da meia noite, para não virar abóbora. Hoje, café tomado, jornal lido. Esperamos terminar esta jornada do Prêmio Myriam Muniz, com uma boa apresentação. Amanhã, São Luís nos aguarda.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Estamos em Palmas

Um pouco de chuva e buracos marcaram nosso caminho até aqui. Nada que pudesse aplacar o nosso desejo de chegar sem pernoitar na estrada. Palmas é um excelente lugar para a perdição. Entre as rodovias e o hotel há um bom percurso para isso: perdemo-nos bonitinhos, como dizem, depois de passar por muitos queijinhos repetidas vezes. 
 
Um dia que seria de folga, montamos o cenário dignamente; ficou bonita a montagem, bem limpa, graças à estrutura do teatro do Sesc. À noite, na UFT, panfleteamos, e logo em seguida fomos jantar. Noira Botelho, esposo e filhas, nós quatro e Regino Neto, o produtor local. Muito papo, boa comida e uma conta robusta para ser paga ao final. Minha agonia fez-me voltar ao hotel andando. Poucos queijinhos me aguardavam. Hoje, dia de duas apresentações, esperamos ser generosos como de hábito. Nossa religião permite isso.

domingo, 22 de janeiro de 2012

5ª Jornada – Parnaíba

A montagemO palco é o do teatro Antônio Oliveira Santos, no SESC Avenida. Montagem apertada para fazer Pai & Filho caber em 5m de profundidade. Coube. Com alguns prejuízos dramáticos e estéticos, mas coube. Era a prévia para fazê-lo caber em 4,25m da profundidade que teremos no VI Festival BNB das Artes Cênicas. Estamos testando quais são os limites do espetáculo para adequá-lo sem perder qualidade. Limites são os melhores moderadores da ambição.

A oficinaComo em outras ocasiões, um grupo demasiadamente heterogêneo. A oficina é para atores ou alunos de teatro de nível superior, mas o comparecimento foi diverso: da querida Carmem, atriz com larga experiência, a iniciantes interessados em descobrir que bicho é esse. Quando isso ocorre, mantemos o conteúdo – para evitar o prejuízo dos experientes – e procuramos operar de maneira mais didática. Não dá para dizer que não afete os resultados, mas os danos são minimizados. Dá para mandar de volta pra casa um sujeito que se predispõe a treinar por horas sem parar?

As apresentaçõesO ritmo e a energia do espetáculo recuperaram a contundência que se diluíra no primeiro semestre de 2011, quando as apresentações foram mais esporádicas. Belém e Castanhal comprovaram. Isso nos permite continuar investigando a modulação ideal da encenação. Não foi em Parnaíba. As apresentações tiveram temperatura abaixo das do Pará, mas as portas se apresentaram. Vamos abri-las.

A plateiaBem abaixo da média de público que o espetáculo tem recebido durante a circulação pelo Myriam Muniz, esta foi uma das plateias mais curiosas. Além do bêbado que Cláudio comenta abaixo, nessa mesma récita, uma banda de rock que buscava um recanto para dormir

Os debatesFora esses detalhes pitorescos, pessoas interessantes, manifestando nos debates uma propriedade peculiar de envolvimento e compreensão. A qualidade supriu a quantidade e os debates fluíram com doce cumplicidade. Essa receptividade nos auxilia na avaliação das diretrizes que traçamos para a companhia e dos caminhos que percorremos até aqui.

O apoioA cargo das queridas Lili e Ana Maria, e com os competentes José Maria e Manoel no teatro, o apoio do SESC Avenida foi fundamental para a nossa jornada. O patrocínio é da FUNARTE, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

O retornoFilosofia à parte, depois de cada jornada não é difícil ponderar se somos os mesmos. O eterno retorno nos traz de volta, contudo, diferentes.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O bêbado

No Rio de Janeiro, quando assistíamos a um espetáculo, tivemos a oportunidade de presenciar um bêbado como espectador. E era daqueles bêbados chatos, que insistia em participar da apresentação, estar com o foco. A turma do "deixa disso" tentava, meio que em vão, destitui-lo da façanha. Ele era um artista, uma espécie de público especializado.
Ontem, em Parnaíba, na segunda sessão de Pai & Filho, tivemos a chance de ter o nosso... bêbado. Pensei que ele estava incomodado com o espetáculo, não que estivesse sobre efeito do álcool. Independente dele, o público era difícil. Comentamos sempre que o público interfere no espetáculo, que ele é fundamental - e isso é a pura verdade. Para mim funcionou como estímulo. Precisamos ser generosos, fazer uma apresentação primoroso, independente da generosidade do público. Contradizendo-me, enquanto profissionais não podemos deixar que a plateia interfira de forma a alterar nosso estado de atenção. Da mesma maneira que é fácil deixarmo-nos vencer pelo riso fácil, é igualmente ruidoso quando não nos sentimos estimulados a cumprir com o nosso ofício.
O melhor público é aquele que é ativo, que nos sacode, que nos instiga. 

domingo, 15 de janeiro de 2012

Declaração de amor

Ultimamente tenho convivido quase que a totalidade da minha vida com os membros da pequena. Trabalho em tempo integral. Quando voltávamos do Pará, a bordo do ferry, tive uma epifania. Fiquei olhando para os três, enquanto falávamos de Velhos Caem do Céu como Canivetes, e pensava sobre o quanto sou afortunado. Um grupo que vai além da arte. Faço teatro com amigos. Trabalho com Jorge desde meados da década de noventa. Conheço Cláudio, desde o início dessa mesma década. Como companheiro de Kátia – autora da foto – levo dezesseis anos. São pessoas que fazem parte da minha vida há mais de um terço de todos os anos que vivi. São figuras pré-históricas (risos). Anteriores à história da pequena companhia de teatro. Amigos. Entre alegrias, brigas, conquistas e estresses, eles vão deixando pegadas que não constroem apenas a trajetória de um coletivo. A convivência com cada um deles vai deixando marcas e reescrevendo o guion da minha vida. Quando optamos por manter o nome companhia por extenso, foi por isso, porque nos fazemos companhia. Nesse mesmo compasso estão outras pessoas, umas próximas, algumas distantes, muitas importantes, todas distintas, no entanto, hoje resolvi falar dos três.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pai & Filho se apresenta em Parnaíba - PI

Dando continuidade à circulação de Pai & Filho pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro, a Pequena Companhia estará se apresentando no Sesc Parnaíba (Rua Eunice Weaver, 01 - Centro), nos dias 19 (19 e 21h) e 20 (19h) de janeiro de 2012, na Galeria Carlos Guido (Sesc Avenida).
Paralelo às apresentações, Marcelo F. estará ministrando atividade de formação para atores, nos mesmos dias, das 14 às 18h, na Sala de IPTV (Sesc Avenida).

As atividades são gratuitas, graças ao Governo Federal, Minc e Funarte.

Deixe que digam, que pensem, que falem - 11

Foi publicado no DiárioOnLine matéria sobre a apresentação de Pai & Filho em Belém. A íntegra, você lê clicando aqui.

Sou ator e trabalho na estiva

Teatro profissional. Ator: chegar duas horas antes, fazer alongamento, aquecimento, figurino, maquiagem, palco, aplausos. Teatro amador. Ator: chegar meia hora antes, figurino, palco, aplausos. Ops, esqueci o detalhe da estiva. Carregar, montar e desmontar cenários, subir escadas, enrolar fios. Maratona dentro de um carro, em territórios de passagem ou avião, hotel, trânsito, estradas. Menos tempo para a cena. Parece que vicia essa vida, ou nos adaptamos. Quando alguém se aproxima com a intenção de ajudar, a gente meio que deseja o vício da estiva e nega a gentileza: quer sofrer sozinho a dor da carga, das opções que escolheu - e mesmo com a existência dos estivadores  já ocorreu meio que um exame na consciência... é meu papel enquanto ator carregar carga. Imagino que quanto mais se envolve em um ato, mais prazer se tem. É como se divertir num parque ao invés de ficar observando-o à distância, ou ainda montar a própria cama que servirá de descanso por décadas. Relação de pertencimento, talvez, ou o desejo de querer ter o controle de tudo, ter o máximo de prazer para si e não para os outros. Somos egoístas ou tolos. E seguimos fazendo teatro, carregando pesos, exaurindo energias, recriando relações. O conflito reside em nós. Termino recuperando a ideia de Saussure: enquanto ator, sei que sou, pois me travisto no palco. Agora, preciso de uma indumentária para a parte da estiva.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

4ª Jornada – Belém e Castanhal

Belém, 06/01/12 – 2:15 AM. Iniciamos a 4ª Jornada de circulação de Pai & Filho pelo Myriam Muniz. Viagem tranquila. ferry boat, estrada, buracos, buracos. Estávamos no Maranhão. Passagem pela divisa e a estrada melhora, chuva, chuva, chuva. Estamos no Pará. Antes da chegada a Belém, uma passada por Castanhal para ajustes de produção. Sim, mudança de planos: nem Marabá nem Ananindeua: Castanhal. Trecho final até o destino e Tainah, Leo, Zê Charone e Sueli, no Teatro Cuíra, oferecem uma recepção calorosa. Montagem tranquila, uma esticada até o restaurante Tsuru e cama. Cabeça no travesseiro, e na mente a falta de cuidado, o descaso e a beleza dos centros históricos das cidades de destino e de origem da nossa viagem.

Belém, 07/01/12 – 1:40 AM. Primeiro dia de oficina e um grupo interessante, apesar de heterogêneo. Suor e chuva. Fim da oficina e velocidade na conclusão da montagem para a sessão de 19:00h. A chuva deu trégua para aguardar uma plateia admirável, quantitativa e qualitativamente. Debate, remontagem da cena, origem, e nova apresentação de Pai & Filho às 21:00h. Debate e alegria pelas boas apresentações em sequência. No hotel a decisão repentina de correr até o Don Giuseppe para jantar: no badalo da meia noite meu aniversário se apresentava. Brinde, presentes, um bom prato e a sorte de estar entre amigos e com quem amo. O teatro tem poderes que ainda me surpreendem.

Belém, 08/01/12 – 1:45 AM. Última jornada da oficina e o prazer de poder democratizar nosso fazer com nossos pares e alguns ímpares. Cada grupo é uma nova experiência, um novo aprendizado. Montagem (o local da oficina é o mesmo da apresentação), banho na carreira e a apresentação das 19:00h nós espera com a casa lotada e gente sentada nas escadas. Não é que tem gente que gosta de teatro? Uma das melhores apresentação de Pai & Filho até aqui. O debate continua um espaço para nossa reflexão. Ouvimos até uma dissertação sobre o não-édipo. O espectador é, definitivamente, um co-autor. Desmontagem cada vez mais rápida, e meu aniversário termina com a pequena companhia reunida e outro prato para a parede. Posso querer mais? Talvez ainda role um namoro.

Castanhal, 09/01/12 – 00:06 AM. Amanhecemos na estrada, trajeto curto. Direto para a Fundação Cultural Castanhal. Montagem, ainda pela manhã, tranquila, agradável. Gosto assim, quando os detalhes ficam perfeitinhos – problema de todo obsessivo. Um rápido almoço, check-in no hotel e oficina. A predisposição para quatro horas de treinamento intenso partiu do grupo Argonautas e a tarde passou. Remontagem – novamente o local da oficina é o mesmo do espetáculo – e, depois de um banho, nosso receio de falta de público é respondido com uma bela casa. Na segunda apresentação nosso público é de argonautas e amigos. Argonautas, Madalenas, Cuíra, coletivos que estão na labuta, como nós. Somos muitos, mesmos que não nos enxerguem. Dia findo. Como cabe a mim postar no domingo, vão ficar sem o último dia da nossa jornada paraense.