A
estreia de "Velhos caem do céu como canivetes" em São Luís encerrou ontem, com a
nossa participação na 8ª Aldeia SESC Guajajara de Artes. Agora nos preparamos
para sair da ilha. O desafio a se encarar nas cidades que compõem a temporada
de estreia estadual patrocinada pela FUNARTE, através do prêmio Myriam Muniz, é
perceber como o espetáculo se comporta fora do espaço onde foi criado. Claro
que a nossa política de montar peças que se adaptem a qualquer espaço físico
(seja palco italiano ou alternativo) permanece, assim como reproduzir a
estética das encenações de maneira idêntica, independentemente de espaço, mas,
os detalhes, só podem ser verificados in loco.
Apresentaremos em dois espaços alternativos (Caxias e Fortaleza dos Nogueiras)
e dois teatros convencionais (Balsas e Imperatriz). A principal preocupação cênica
é a dispensa da caixa preta nos espaços alternativos, assim como ocorre com Pai
& Filho. O receio é que nesta encenação a atmosfera dependa mais desse
fechamento, e a interferência do exterior possa comprometer a ambiência. Não
acredito nisso, porque o entorno reforçaria o caos, mas me preocupo. A jornada
de estreia estadual será de carro, com o reboque transportando o cenário, como
costuma acontecer quando as apresentações são próximas (?) e possibilitam uma
sequência de deslocamento. Antes, um breve intervalo para a conclusão do Viagem
Teatral do SESI, quando nos apresentaremos em Piracicaba (31/10 e 01/11) e
Campinas (02 e 03/11) com Pai & Filho. Como diria Riobaldo “O diabo na rua,
no meio do redemoinho...”.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
A carreira e o reconhecimento
Foto de Ayrton Valle |
No mesmo caminho de Pai & Filho, Velhos Caem do Céu Como Canivestes participará da 8ª Aldeia Sesc Guajajara de Artes, na sede da Pequena Companhia, domingo, dia 27, às 19h, com distribuição gratuita de ingressos a partir das 18h.
Da mesma maneira, circularemos por algumas das cidades do interior do estado, concluindo assim a temporada de estreia do espetáculo. Depois, ainda nos restará participar da Semana de Teatro do Maranhão. Além disso, o mundo.
Esse reconhecimento reforma uma ideia antiga da necessidade da aceitação dos outros, que conjugada ao desejo de compartilhar o nosso fazer/dizer, faz do nosso tempo um tempo de colheita. A safra será recorde, pois cremos estar no caminho adequado à nossa proposta.
Entre o desejo e a obrigação, o público acolhe, reconhece, se diverte e fortalece o teatro produzido no estado. Não dá para ficar indiferente.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Pequena máscara
As parcerias são um importante
mecanismo para o surgimento, amadurecimento e consolidação de coletivos teatrais.
Na estreia de “Velhos caem do céu como canivetes” tivemos a grata surpresa de
receber a Cia. A Máscara de Teatro e alguns integrantes da Cia. Pão Doce, ambas
de Mossoró. A Máscara é uma velha parceira nossa, para ela dirigi Medeia e Deus
Danado, espetáculos que já se apresentaram em Imperatriz e São Luís,
respectivamente. A parceria se
estabeleceu pela espontânea empatia com seus membros atuais – Tony, Luciana
Jeyzon e Damásio – e outros parceiros que trilharam caminhos diferentes. Intercâmbio
entre amigos que tem o amor como alicerce. Estabelecido o vínculo, os ecos de
qualquer parceria permanecerão reverberando ad
infinitum. Não foi diferente nesta fabulosa visita. Junto com a surpresa –
parece que fui o único verdadeiramente surpreendido, pois Katia, Morgana e Neto
conspiravam sob minhas narinas, e Jorge e Cláudio desconfiavam da visita – veio
a notícia de que A Máscara está em processo de montagem do espetáculo “Dois”,
texto meu que consta na dramaturgia reunida disponível para a
venda neste blog. Esse mesmo texto já havia sido objeto de uma leitura
dramática para um projeto dos queridos Clowns de Shakespeare. Será o segundo
texto meu encenado por outra Cia. – o primeiro é “Memórias de um mau-caráter”, com
César Boaes, que consta no repertório da Santa Ignorância Cia. de Artes. Parceiros,
companheiros de luta, amigos. Encontros são o alimento do fazer teatral.
Artistas que se retroalimentam para fortalecer a teimosa decisão de continuar
criando. Aproveitando o centenário: a vida é a arte do encontro, embora
haja tanto desencontro pela vida.
P.S.: Os detalhes sobre a montagem de
"Dois" (direção, elenco etc.) você pode ler nos comentários que a Cia. deverá escrever
nesta postagem, pois não tenho informações suficientes. Escrevam, amigos!
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Sobre o velho
Foto de Ayrton Valle |
Ensaios, estreia e algumas apresentações para concluir mais um projeto. O terceiro que monto com direção de Marcelo F., utilizando o Quadro de Antagônicos como procedimento metodológico para composição de personagens. Algumas lições e muitas dúvidas e inquietações. É que o ser não se esgota, e a construção do conhecimento passa por uma série de ações em sequência. E quando não se está satisfeito com o seu trabalho enquanto ator? Qual é a medida? Talvez a percepção que temos do nosso trabalho carrega um acentuado "quê" de exigência desnecessária que acaba por minar as relações internas.
Sempre gostei de projetos porque eles têm começo, meio e fim. Só que o ser permanece, e mais um processo se avizinha. Ofício, prazer, desejo, sentido de existir, disciplina do método, foco.
E tudo recai sobre o dia e a noite e a ilusão de que tudo vai bem. Caminhamos em direção à morte e no percurso simulamos o gozo. Ator, aluno, pesquisador (sic), voluntário para a vida. Síndrome de final de ano que chega mais cedo ou resquícios de uma noite mal dormida? Madrugada, percorreremos mais algumas horas de voo para fazermos o que gostamos: teatro.
Foucaut me aguarda.
domingo, 13 de outubro de 2013
Anjos destroçados entre sonhos de salvação
Foto de Ayrton Valle |
Por Sandro Fortes
A
peça "Velhos caem do céu como canivetes", de Marcelo Flecha, que vi
recentemente encenada por Jorge Choairy e Cláudio Marconcine, esses enormes
atores no palco da Pequena Companhia de Teatro, toca em tantos temas atuais que
se torna uma metáfora singular, e incontornável, a respeito de nós mesmos e de
nossa época.
A
peça se inspira, com ampla liberdade, num conto de Gabriel Garcia Marquez, e
mostra basicamente a dicotomia entre duas personagens antagônicas num cenário
arruinado que me lembrou a terra devastada do famoso poema de T. S. Eliot, pano
de fundo escolhido para sugerir a tenebrosa miséria humana que será exibida em
cena, e tanto a peça quanto aquele poema mostram-nos um mundo em que a cultura
humanista da nossa civilização cedeu lugar ao vazio existencial da barbárie
contemporânea na qual sobrevivemos sabe Deus como. Um detalhe curioso sobre
este cenário de cacarecos e de restos empilhados é que quase tudo nele
sutilmente sugere o formato de asas.
Pois
asas são aquilo que um dos personagens deseja recuperar. Trata-se de uma figura
patética que desabou na terra (como um canivete?) e boa parte da peça
desenrola-se sobre a dúvida que a sua figura desperta (é um anjo? um pássaro?
um super-homem? Um pobre-diabo?) ao dialogar com outro personagem patético,
igualmente decaído, um homem que se afastou da chamada civilização, um
ex-artista, que se tornou um esfarrapado faminto remexendo no lixo e que se
alimenta de caranguejos ou do que mais aparecer na sua frente. Os
questionamentos existenciais das personagens são endereçados também aos
distintos membros da plateia e a miséria ali mostrada é, também ela, legítima
cosa nostra.
O
tema principal é o da queda, em todos os sentidos. Da degradação espiritual,
econômica, social, pessoal, civilizatória. Tanto o homem quanto o
"anjo" ali expostos são seres que chegaram ao fundo do poço. Anjos
caídos, na tradição gnóstica, ou na literatura de um John Milton (Paraíso
Perdido), ou num filme como Asas do Desejo, de Wim Wenders, não são mais anjos
coisa nenhuma, ou são demônios ou agora meros homens.
E
homens, o que somos? Seríamos nós anjos caídos também, vivendo na terra uma
condição infernal de degradação material e espiritual, como uma cena de
sonambulismo do personagem "humano" sugere? Tais questionamentos parecem
ser o propósito das várias hipóteses levantadas e descartadas com muita ironia
no jogo travado entre as duas personagens.
Anjos
aparecem para nos salvar ou, como escreveu Rilke, "todo anjo é
terrível"? Mas que tipo de salvação é possível num mundo dominado pela
fome, pela miséria, pela brutalidade, que perdeu toda conexão com o sagrado?
Sobreviver em meio à penúria total, junto com a mulher e os filhos, que
receberam o legado de nossa miséria? Salvação aqui é escapar da morte de fome.
Neste
sentido, a peça de Marcelo Flecha se situa quase como uma alegoria da
"morte em vida" nordestina (ou antes, da vida e morte severina),
apesar de ser uma obra que aspira ao universal, o autor toca com as duas mãos
no regional: sua peça é cara e clara demais como metáfora da penúria própria de
quem vive em terras devastadas pela miséria, uma gente como a maranhense, que
há tempos amarga as esperanças de melhorias (políticas, econômicas, sociais),
mas que ainda sonha, tem fé, aspira à salvação, o que a torna presa fácil do
oportunismo político messiânico de alguns, enquanto é assolada e acossada pela
precariedade e pela fome de viver.
"Velhos
Caem do Céu Como Canivetes" é incisiva e fere fundo ao mostrar a
existência como uma queda, um rebaixamento do humano. Como reagiremos, se é que
reagiremos, é a grande questão que deixa no ar.
Para as pequenas...
(Pequena Companhia de Teatro e Petite Mort Teatro).
Foto de Ayrton Valle |
Como num "tempo de alegria, como dois e
dois são quatro, sei que a arte vale a pena, mesmo que o pão seja caro e a
liberdade pequena". Com esses versos de Ferreira Gullar, referencio dois
acontecimentos, duas estreias, dois atores, dois diretores, dois dramaturgos,
duas obras.
Em meio à realização da calorosa e bem
sucedida edição da Feira do Livro, 2013, duas grandes estreias marcaram a cena
teatral: Dona Derrisão, do Petite Mort Teatro e Velhos Caem do Céu como
Canivetes, da Pequena Companhia de Teatro.
Com dramaturgia original, ambas escritas pelos
próprios dramaturgos-diretores dos espetáculos, Igor Nascimento e Marcelo
Flecha, a temática, falas e diálogos, inspiradas em contos, cotidiano e
inspirações diversas, reverberam no público, que reage seja com um sorriso de
identificação da causa, seja com associação de imagens mentais que relacionam a
voz poética dos atores com fatos reais e luta diária pela sobrevivência, pela
valorização da arte, pelo respeito ao outro, pela criação de um sentido para a vida
e principalmente, pela aceitação de um fim, de uma inevitável morte como etapa
da vida.
Assim compactuam Igor Nascimento e Marcelo
Flecha nas suas mais recentes inaugurações. Os dois diretores – dramaturgos
colocam em cena dois atores que fazem uso de uma poética do corpo e da voz,
através da construção de uma corporeidade teatral fundada nos opostos,
contenção e expansão, vigor e suavidade, que na pesquisa da Pequena Companhia
segue o caminho dos antagonismos como procedimento criativo e na Petite Mort,
dos afastamentos e aproximações.
Dois atores dialogam entre si. Em Velhos Caem
do Céu como canivetes, os diálogos concentram-se entre os dois personagens, o
humano e o alado, sem falas diretas para a plateia que assiste a tudo pelo
“buraco da fechadura”. Em Dona Derrisão, os diálogos são compartilhados com o
público, na proposta de aproximação e deslocamento por meio dos personagens
variados, velho, pop star, velha, paciente, médico, outro, através do jogo de
revezamento do ator narrador.
A plasticidade em cena cria uma justaposição
do real com o teatral por meio dos elementos utilizados para compor o cenário
nos dois espetáculos, fazendo uso da exploração dos elementos da luz, como cor,
direção e intensidade assim como da ressignificação de objetos utilitários,
domésticos e cotidianos. O ambiente domiciliar e secreto, no espaço íntimo do
mendigo, artista e humano, em Velhos Caem do Céu como Canivetes, se contrapõe
ao ambiente público, cheios de interrupções, ruídos e interferências da parada
de ônibus, em Dona Derrisão.
Diante da teatralidade visual, textual e
expressiva, agradeço a essas companhias (Pequena Companhia de Teatro e Petite
Mort Teatro), por movimentar um tempo de alegria, um tempo quando a arte vale a
pena, mesmo que o pão seja caro e a liberdade Pequena/Petite.
Gisele Vasconcelos
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Ecos espontâneos, caem...
Mais
uma surpresa! Só vocês mesmo. Obrigado pelo espetáculo, desde o texto à
interpretação dos atores, direção sem comentários e Kátia parabéns também pela
produção. Gosto desse barato de entender, achar que entendeu, não entender e
depois entender tudo do seu jeito. Muito bom! Quero mais!!!!!!
Laerth
Garcez
Uma
maravilha ver a estreia do novo espetáculo, Flecha! Obrigado pela recepção e parabéns
pela plasticidade e pesquisa, evidentes no trabalho! A sede é linda! Abraço à
Pequena Companhia de Teatro. EVOÉ!
Raphael
Brito
Acho
que amadureço como espectador, graças a vocês. Tu especialmente foi muito
generoso nesta encenação. Mesmo com um grau de dificuldade a mais, a peca
permitiu um envolvimento maior de nós por meio de cada personagem...
Hamilton
Oliveira
Vera
Leite resiste às redes sociais, mas me pediu pra transmitir a mensagem de muito
obrigado, por ter proporcionado a ela tamanha emoção em assistir seu novo
espetáculo.
Vanessa
Leite
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Ecos espontâneos
por Ayrton Valle |
“Assisti no sábado passado ao excelente espetáculo “Velhos
caem do céu como canivetes”, nova montagem da Pequena Companhia de Teatro. Com
texto e direção de Marcelo Flecha, inspirado no conto de Gabriel García
Márquez, Um señor muy viejo con unas alas enormes", a peça aborda temas como o
conflito entre a fé, a miséria, o exílio, além da questão das diferenças.
No elenco, Cláudio Marconcine e Jorge Choairy fazem uma
performance soberba, onde vivem um ser humano e um ser alado. O cenário é belo
e criativo, todo feito de material reciclado e a trilha sonora é suave e envolvente.
Vale ressaltar que, não por acaso, a peça ganhou o Prêmio Funarte Myriam Muniz
de Teatro.
Outra coisa boa é o
surgimento de um novo espaço para pequenas montagens, como esta nova sede da
Pequena Companhia de Teatro, Rua do Giz, 295, Praia Grande, Centro.
Grande. Bravo a todos!”
Márcio Vasconcelos
“Parabéns à Pequena Companhia de Teatro, pelas múltiplas
sensações, pelo Thaumázein luminoso e das sensações que penetraram minha alma, meio
“anoréxica” . Um texto desértico, porque no deserto me encontrei com fome e com
sede, onde a dúvida me mantinha viva; perdão, confundi-me com o personagem. A
instauração da dúvida, do encontro dúbio, da sonoridade, do grito daquela alma
seca, doída. Senti fome, não sei se ele se saciou com o banquete, mas eu o
devorei, como comi as imagens que vieram surgindo, com um cenário onde o
espaço e o tempo foram sendo descontruídos, onde se externalizou todo o sentido
e o não sentido, o véu de maia foi se desvelando mas não queria, eu não queria,
mas ele se desfez. O riso, todo o meu riso foi de dor por ver quão miserável
somos, carentes de sentimentos, ele quis te tornar mais humano e conseguiu,
somos restos de gente, do que sobrou de humanidade. Obrigada pela obra prima, textual
e imagética, à qual consegui me transpor. Meus sinceros parabéns!”
Nina Valentina
terça-feira, 8 de outubro de 2013
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