terça-feira, 30 de junho de 2015

A Pequena na Paraíba


 “Teatralidades: A Pequena Companhia de Teatro ocupa Sousa”, projeto de ocupação do Centro Cultural BNB – Sousa, na Paraíba, tem o patrocínio exclusivo do Banco do Nordeste do Brasil, através da Seleção de Projetos Culturais BNB 2014, edital viabilizado com recursos de incentivo fiscal, via Lei Rouanet.


A ocupação acontecerá de 01 a 17 de agosto, e contará com coquetel  de abertura, lançamento de livro, apresentações teatrais, debates, oficinas para atores, não atores e escritores, leituras dramáticas e intercâmbio entre a Pequena Companhia de Teatro e um grupo de teatro local.


Serão dois dias de viagem dos quatro membros da Pequena Companhia de Teatro, para percorrer os 1.161 Km que separam São Luís de Sousa, realizados de carro e reboque próprios, nos dias 01 e 02/08, com preferência para deslocamento diurno de 8h por dia.


O coquetel de lançamento do projeto e do livro “Cinco Tempos em Cinco Textos”, dramaturgia reunida de Marcelo Flecha, acontecerá no dia 04/08, e contará ainda com a leitura dramática do texto “Dois”, que, além dos atores Jorge Choairy e Cláudio Marconcine, contará com a colaboração inusitada de Katia Lopes na leitura das rubricas.


Dada as pequenas dimensões do palco do CCBNB, o espetáculo escolhido para a temporada, por sofrer menor prejuízo cênico na compressão da sua espacialidade, será Pai & Filho, com oito apresentações, nos dias 05, 06, 07, 08, 12, 13, 14 e 15/08, sempre às 20h.


Os debates, como de costume, acontecerão logo após as apresentações, e concentrarão seu foco na discussão da encenação e dos procedimentos metodológicos da Pequena Companhia de Teatro.


Apesar do curto espaço de tempo da ocupação, serão ministradas quatro oficinas, sendo, “O Quadro de Antagônicos como instrumento de treinamento para o ator” (05, 06 e 07/08) e “Do épico ao dramático: a transposição de gênero como instrumento de confecção de dramaturgia” (11 e 12/08), ministradas por Marcelo Flecha, e “O quê o meu corpo tem a dizer?” (13, 14 e 15/08), ministrada por Cláudio Marconcine.


Também acontecerá um intercâmbio entre a Pequena Companhia de Teatro e uma companhia de teatro local, que, ao participar da oficina “Leituras Dramáticas: o quê, como e por quê?”, facilitada por Cláudio Marconcine, será a responsável pela leitura dramática realizada no dia 11/08, como resultado de conclusão do intercâmbio e da oficina.


O retorno do coletivo será dia 16 e 17/08, quando iniciará as atividades de manutenção da sede da Pequena Companhia de Teatro, programadas para acontecer no último quadrimestre de 2015.

domingo, 21 de junho de 2015

Dialética patética


Faço um convite à reflexão. O Brasil se tornou um país de gritos, destemperos e boçalidades. Nós, cidadãos, perdemos a noção de civilidade e a função da cordialidade. Reflexão, argumentação, diálogo, são palavras extirpadas do dicionário cotidiano, e é o histerismo a única alternativa para nos livrar do anonimato. Como cidadão mediano, por vezes medíocre, preciso me alçar além da média, mesmo que seja através da brutalidade de uma pisada. Antes de ler, escrevo! Antes de ouvir, grito! Antes de pensar, ajo! Com esse comportamento revolu(rea)cionário busco a luz, mesmo que seja a de um trem vindo em minha direção. Meu canhestro propósito é aparecer, custe o que custar, e se me levar ao programa homônimo, tanto melhor. Se me render curtidas, aperto a ferida com mais força. Se não render, busco outro mote, outro pote, outro bote. A beleza está no olhar dos outros sobre mim, e não no olhar dos outros sobre o que vejo. Dialética patética é a que busca a síntese atropelando a tese e a antítese. Mediocrizado, vomito para todos os lados e atiro para os alvos e grito para todos os surdos, como eu. Homofobia, maioridade penal, Neymar, cota, cor e a PEC que o pariu, não importa, lá estou eu bufando, arfando, grunhindo, socando. Não discorro, atropelo. Não dialogo, duelo. Bruto, entorpecido, apostemado pela luxuriosa necessidade de aparecer, aponto o indicador como uma arma que defendo precisar para poder me defender. Pendo da direita para a esquerda qual metrônomo descompassado. Oscilo, vacilo, sem me importar em parecer Cirilo. Com Deus, sem Deus, com cruz, sem Crush, nem Fanta ou Jesus, vou atacando meu interlocutor qual gladiador enfurecido, ao som dos urros que incitam e dos olhos que contemplam a técnica da minha última punhalada. Quando eu vejo a coisa, não avalio a coisa. Não tento entender a coisa. Não analiso a coisa. Penso na coisa como minha inimiga, e o quão nefasta pode ser, se enfocada sobre o meu ponto de vista. Perdido o tempo, eu abandono a coisa, porque a coisa já não é tão coisa quanto eu preciso que seja, e, sedento, vou à busca de outra coisa que me possibilite rezingar. E assim passo as horas. Os dias. Os meses, os anos. Sentado em meus cristalizados conceitos, amarrado aos meus inseparáveis lamentos, alheio à construção do novo, porque o novo se faz andando, fazendo, e eu não me levanto para que não me surpreenda o desejo de caminhar. Não faço nada que esteja além do alcance da minha boca e dos meus dedos. Não doo sangue, não varro a calçada, não espero o sinal, não sou voluntário, nem atalho, nem galho, nem espantalho. Sou a falência da ação, a inércia por inteiro, outra voz do berreiro brasileiro.

domingo, 7 de junho de 2015

Manifesto de um morador da Praia Grande


Katia e eu somos moradores do Centro Histórico de São Luís há vinte anos, aproximadamente – ela a mais tempo do que eu. A Pequena Companhia de Teatro também é sediada aqui, na Praia Grande. Morar e estabelecer-se profissionalmente no centro da cidade é uma ação política, e uma atividade permanente.

Ouço e leio, com frequência, comentários acerca da importância de atividades com foco na ocupação do Centro Histórico de São Luís, sem ouvir por parte dos locutores e escritores a importância de que essas ações sejam permanentes.

Regularidade. Persistência. Paciência. Resistência. Permanência. Qualquer transformação só é possível a partir desses predicados. Manter um espetáculo em temporada regular possibilita ao espectador a decisão de ver uma apresentação quando ele quiser, e não quando o artista quiser que ele queira. São as ações regulares que aproximam o indivíduo de uma linguagem, de um projeto, de uma intenção, de uma apresentação, de um bairro.

Cante tango todas as terças na Praça Nauro Machado e os aficionados de tango lhe seguirão, como é de praxe, mas os menos apreciadores do gênero, sabendo da existência do empedernido cantor, saberão aonde ir quando o desejo inesperado de ouvir um tango se apresentar.

Sinto fastio ao ver meu bairro servindo de discurso promocional em esporádicos eventos, atividades, situações ou discussões e, em seguida, desqualificado pelos mesmos promotores com as tachas quase indissociáveis de sujo, perigo, decadente. Ao reforçar esse discurso não percebem que também desqualificam ações como a nossa: como assim, cara pálida? Eu moro aqui e não vejo a menor diferença entre a sujeira e a insegurança deste bairro e a de qualquer outro da cidade, inclusive os mais nobres.

Ademais, essas atividades quase nunca são acompanhadas de ações efetivas para a humanização da Praia Grande, pelo contrário, focam seus esforços em convencer o cidadão para que não deixe de aparecer durante o evento, aquele recorte de tempo necessário para o sucesso da empreitada – fator que provoca a curiosa situação de termos cidadãos ludovicenses visitando o Centro Histórico pela primeira vez. (Vale aqui a velha máxima, assunto para uma próxima postagem: cultura não é evento).

A única ação concreta que viabilizaria a humanização do Centro seria a residencial. A Praia Grande precisa de mais moradias, mais moradores, mais artistas moradores, mais reuniões de vizinhos, mais passeios com o cachorro, mais saídas para comprar pão, mais futebol na rua, mais cadeiras nas calçadas, mais zoada. Menos repartições, secretarias, instituições, burocracia. O Centro precisa de mais cheiro de gente depois das seis da tarde. Se a vida do homem só se efetiva em sociedade, um bairro só se efetiva se servir como instrumento de socialização desse homem, do contrário, vira um amontoado de prédios desusados. Portanto, se quiser ajudar, venda seu apartamento e compre um sobrado. Seria uma alegria tê-lo como vizinho, e poder lhe pedir uma xícara de açúcar emprestado.