Amanhã embarco para Mossoró.
Passarei por lá uns vinte dias, reafirmando a permanente parceria da Pequena
Companhia de Teatro com A Cia. Máscara de Teatro, e definindo nosso calendário para
os próximos dez anos. Também continuo um projeto com a minha querida amiga Tony
Silva, grande responsável pela minha relação afetiva com a cidade de Mossoró,
que já dura 17 anos.
Nosso projeto é que, entre Máscara
e Pequena, consigamos estrear um espetáculo por ano, ora uma, ora outra. Como
encenador, após as montagens de 2019 e 2020, gostaria de encenar um espetáculo com
o atravessamento das atrizes e dos atores de ambas. Em tempos bicudos como os
de hoje é tudo muito urgente, e não há possibilidade de dar-se ao luxo de
demorar cinco anos para gritar o dizer da vez. Teatro é política, e a politização
se faz cada vez mais necessária; então, trabalhemos.
Para isso, precisa sair o de
2018, de título provisório “Ensaio sobre a memória”. Já cantei as datas na
postagem passada e, por incrível que pareça, estamos conseguindo manter nosso
cronograma, graças à destreza psíquico-prático-afetiva de Katia, Cláudio e
Gilberto – esse queridíssimo companheiro que acompanha a Pequena desde sua pré-história
–, que conseguiram aliviar minha permanente crise, e conduziram soluções
estupendas para o avançar da nossa jornada. Elenco definido, data de início dos
ensaios confirmada, dramaturgia em estado avançado, tudo caminha para o mais
prazeroso momento de uma montagem: a entrada em sala de ensaio.
Além do projeto artístico,
minha ida para Mossoró também cumpre importante papel para a montagem daqui,
pois esses vinte dias em Mossoró me ajudarão no afastamento e na oxigenação
necessária para encarar a empreitada, tendo em vista que queremos imprimir um
ritmo peculiar a esta montagem, acelerando alguns processos, revisando outros,
alternando procedimentos e, principalmente, colocando em vigilância a nossa
metodologia, para que seja sempre um
suporte organizacional e criativo e nunca um instrumento de engessamento.
É possível cumprir um
cronograma desses? Claro que não! Todavia, o que nos impede de projetar uma
intensidade mais contundente no maior patrimônio do teatro de grupo, o seu
repertório? Essa busca em reduzir os tempos entre as montagens expande o poder
de comunicação, sustentabilidade e resistência, como trata o link que está
escondido na palavrinha em vermelho que você deixou passar. Claro que essa
proposta pressiona os artistas envolvidos, e dessa pressão – entre lágrimas,
suor e lágrimas –, sairá o sumo criativo que adubará as encenações. Como disse
anteriormente, crise é caos, e caoticamente sobrevivemos aos solavancos da
existência, fazendo teatro, e cientes de que só sabemos fazer isso.