sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Os antagônicos do pai - 2

Há uma postagem falando um pouco sobre como se chegou aos antagônicos do Pai, que pode ser acessada clicando aqui. No aspecto dos vetores, tentarei viabilizar a minha fala a partir do diagrama que se segue:
O antagônico/guia do pai é o peso. O que o contamina é a força. O peso é a potencialização da força exercida pela gravidade no corpo. O vetor terra (1) é acionado, sobremodo, como se o mundo estivesse às costas. Há um achatamento do pescoço, arqueamento dos ombros, lentidão ao caminhar pelo excesso de peso exercido sobre os ombros. A lombar e as articulações são exigidas para sustentar o corpo que perde a retidão. Assim, os vetores tomam um outro sentido. A força é necessária para antagonizar/dialogar com o peso, sendo inviável a mobilidade do corpo que pesa sem ter força necessária para tal. O nível de tensionamento para que essa força "ganhe" do peso dá espaço à tensão enquanto força  antagônica. Esse nível de tensionamento faz com que o vetor céu (2) exista no corpo, ampliando sua presença. Exemplificando, o peso é exercido para sustentar o corpo no chão. Há necessidade da força para elevar a perna que se movimenta. Há um tensionamento em nível de musculatura no sentido chão/céu (1/2) para que a força possa se fazer presente. Tudo existe, e não dá para excluir os vetores, mas para efeito didático e compreensão dos antagônicos, os vetores podem e devem ser revisitados. Nesse caso, há uma diminuição da exigência do vetor do céu (2) em detrimento do vetor da terra (1). Com isso, o pai torna-se uma personagem cansada, com uma força exigida pelo peso que carrega (filho, compromisso, responsabilidade, trabalho) e com os pés no chão (racionalidade, trabalho) contrastando com os antagônicos do filho.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Você sabia que...

... a pequena companhia de teatro foi selecionada para participar do Palco Giratório 2012 – Rede SESC de Difusão e Intercambio das Artes Cênicas? A defesa foi feita pela curadora Isoneth Almeida – DR/MA, no Rio de Janeiro, que comunicou a notícia no último dia 19, para nossa surpresa. O resultado completo será divulgado nos próximos dias. O espetáculo selecionado foi Pai & Filho, e será acompanhado pelas atividades formativas que o grupo dispõe no seu repertório. É a primeira vez que um coletivo maranhense participa do projeto nos quinze anos de existência. A postagem de Marcelo Flecha deste domingo será suspensa para que a notícia permaneça mais tempo em destaque no cabeçalho do blog. Grande, pequena!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Antagônicos e os vetores

Na matemática vetores são segmentos de retas orientadas, tendo mesma direção e sentido. No teatro utiliza-se o mesmo conceito para relacioná-los na perspectiva do corpo dilatado, vivo. Forças que são exercidas potencializadoras do corpo exigido em cena.
Maurício Abud, Silvana Abreu, Luis Louis, Barba, Burnier... todos buscam/buscaram essa presença viva do ator em cena através dos vetores. Esse fluxo de energia é percebido através de sensações... físicas. O (1) é o enraizamento. Abrir os artelhos, fazer com que a planta do pé grude no chão, e que o ponto de equilíbrio seja confortável. Quadril encaixado, tensão na musculatura e nos tendões das pernas. O (2) equivale a ser puxado pela nuca, como se um fio existisse ligando o (1) ao (2). Estatura aumentada em alguns centímetros. O (3) é encaixar os ombros, que comumente ficam caídos. Recolocá-los no seu devido lugar. A força de tração existe entre os pontos. Como se ampliasse nossa envergadura. Tudo se amplia, pois o princípio aqui é o da dilatação. Corpo ampliado, dilatado, vivo. O (4), como que um farol estivesse apontando para a frente, e esse farol fosse a região dos mamilos. Inevitavelmente, o corpo será projetado para cima, o que será equacionado pelo vetor (5), como se fossem asas a se mostrar. Corpo preparado e pronto. Assim é um corpo dilatado. No início das apresentações de Pai & Filho, é a primeira das preparações que faço antes de entrar em cena. E em cada um dos vetores, fico de 10 a 20".
Em se tratando dos antagônicos, esses vetores terão sua força alterada ou excluída quase que por completo. Quando há contaminação de outros nos escolhidos para a origem das personagens, há uma mudança significativa dos vetores, mudança no aspecto da multiplicidade deles. É que a dilatação expande; outros, não. Vou me debruçar um pouco sobre eles para compreendê-los melhor, dando espaço, obviamente, para as impressões de diretores e de espectadores. Quanto a mim, continuo a ser somente, e tão somente, um ator.

domingo, 16 de outubro de 2011

O espaço como instrumento de dramaturgia

Fui convidado para participar de uma mesa que vai discutir “Espaço em Foco – O Protagonista da Cena Cultural”, na 6ª Mostra SESC Guajajara de Artes, e vou concentrar meu argumento no poder dramatúrgico que a espacialidade exerce sobre a obra teatral. A investigação espacial sempre foi objeto do meu processo criativo e já transitei da rua para o palco, do alternativo para o clássico, da arena para o italiano, desenvolvendo uma análise sobre o espaço cênico, que culmina com a última experiência da pequena, quando Pai & Filho se apresenta como receptor de quase todas as alternativas citadas.

Portanto, a apreciação que aqui faço não trata da qualidade do espaço, e sim da relação palco-plateia arguindo a encenação e dotando-a de maior potencial dramatúrgico. A posição do espectador em relação à cena é instrumento de discurso, consequentemente, possuidor de conteúdo. Quando convidamos o espectador a circundar a cena em O Acompanhamento ou em Deus Danado, estamos reforçando um conteúdo, buscando uma relação de diálogo – constrangedor, incômodo e inconveniente no primeiro, e sufocante, dolorido e angustiante no segundo. Em Pai & Filho, quando a partir da porta abre-se a perspectiva até atingir a plateia, procura-se trazer o espectador para dentro do conflito, reforçando a percepção de confinamento – esteja montado em espaço alternativo ou clássico.

A opção do espaço, a distribuição da plateia, a pesquisa de ambiência não deve ser tratada como um modismo, uma alternativa de distinção ou uma opção revolucionária ou contestadora de padrões – seria mera perfumaria. Essa necessidade precisa ser demandada pela encenação, qualificando seus dizeres, redefinindo seus caminhos e complementando o discurso. Caso contrário, levar uma peça para dentro de um ônibus, de um contêiner ou colocar o espectador no palco sentado em uma samambaia, não passará de mera pirotecnia – a cosmética do espaço.

domingo, 9 de outubro de 2011

Entre o cuscuz e a empada

Não tenho tido tempo. Sempre procurei reger minha vida com coerência e equilíbrio para que a cobiça e a ambição não comprometessem meus momentos de prazer – que não passam de um bom jantar em família acompanhado por um bom vinho em um ambiente agradável e caseiro. Detalhes. A vida é feita de detalhes e às vezes perdemos a noção da importância destes para o prazer cotidiano. No momento, a ambição não é econômica, porém, artística: Myriam Muniz por concluir, problemas técnicos a resolver (lembram do reboque?), um grande projeto em processo no SEBRAE, editais abertos esperando propostas, projeto acadêmico em crise, lançamento do meu livro em Mossoró, temporada regular de Pai & Filho em SLZ, novo espetáculo, romance esquecido, intenção de investir parte do meu capital na compra da nova sede da companhia e uma intoxicação alimentar que comprometeu todo o fim de semana. A grande vantagem de certas enfermidades é o delírio criativo provocado pela febre. Não houve, nem isso. Admito, meu mau humor é crônico, e consigo reclamar até do que qualquer um almejaria... menos a doença. Só queria um tempinho para poder concluir a eterna reforma da casa... é nela que vivo (risos).

domingo, 2 de outubro de 2011

Indivíduo & Coletivo

foto Fábio Flecha

O que é coletividade? Quanto de individualismo cabe em um coletivo? Minha geração cresceu acreditando na utopia socialista e a própria sociedade se encarregou de tornar-nos cada vez mais egoístas. Alguém se importa com o outro? Alguém sabe quem é o outro? Alguém se preocupa com outra coisa que não o próprio umbigo? Vivemos a contemporaneidade do indivíduo camuflada em CNPJs. Um amigo, certa vez, narrava o caso de sucesso de um coletivo onde cada um dos membros desenvolvia projetos individuais sem diálogo algum entres suas pesquisas: eu sorri, achei curioso. Porém – se o foco é comungar de um objetivo comum – generosidade, paciência, respeito, tolerância, solidariedade, são algumas das palavras que auxiliam a mediação entres os pares. Entretanto, a mediação nem sempre é possível, e o desgaste é maior para quem se propõe a mediar. Nós somos quatro e também temos nossas questões. Penso que a atual é: como consolidar um coletivo respeitando cada indivíduo formador?