Bate-papo na sede d'A Outra... (SSA-BA) |
Faço
parte da Pequena Companhia de Teatro há 4-5 anos. Preconizamos o
Quadro de Antagônicos como ferramenta de preparação para o ator, e
é ele que norteia a pesquisa que fazemos. Somos um grupo de teatro
que pesquisa, e os espetáculos são o resultado disso.
Sentencio
que, gente de teatro se conhece, se entende, se reencontra, se
celebra e se constrói, juntos, a identidade do teatro na
contemporaneidade; múltiplos teatros, formas de fazer, maneiras de
articular. Quando nos profissionalizamos, acabamos por nos distanciar
de algumas práticas por questões financeiras e de agenda.
Articulação, debates e partilhas deixaram de existir em detrimento
de montagens, de circulação, de apresentações, do ofício. Nossas
ações se colam e se plastificam através de editais – públicos
ou privados. Se fugirmos disso, seremos sentenciados ao fracasso, à
mudez dos palcos, à surdez das plateias. Teatro de grupo, hoje,
existe pelo querer fazer e pela busca incessante de recursos que
esses editais disponibilizam.
Assim,
tivemos a oportunidade de conhecer A Outra Companhia de Teatro a
ponto de criar vínculos, estreitar relações. Crescemos e
produzimos conhecimento a partir do diálogo. Em Salvador não foi
diferente. A oportunidade de reencontro para compartilhar o nosso
fazer, conjugado ao fazer dos outros, recupera o entendimento que
tenho do corpo formalizado que temos a partir dos nossos processos. É
nessa perspectiva que o corpo precisa de outras alternativas e
possibilidades para se desconstruir e se ressignificar
permanentemente. O corpo deve se arriscar a encontrar outros
percursos além do que segue confiante.
O
projeto aprovado pela A Outra Companhia de Teatro, o Troca-troca
Nordeste, através do Programa BNB/BNDES de Cultura, possibilitou a
privilegiados grupos de teatro sediados na região Nordeste do Brasil
um espaço de mostragem de suas técnicas/formas e modos de fazer;
partilha de processos de organização; formação em outros
procedimentos que não os habituais utilizados pelas
companhias/grupos de teatro participantes.
Sou
daqueles que, movidos pela urgência das coisas, contamina e deixa-se
contaminar. É que a entrega é pré-requisito para a aceitação,
compreensão e diálogo com outros fazeres e outros pares.
Secularmente estamos ilhados pelo fracasso das conquistas; é que no
Maranhão a riqueza é para poucos e as desventuras para os que
sobram – e esses são muitos. Há um exílio forçado pela
conjuntura político-financeira que é quebrada com ações de
generosidade e troca entre gentes que se afinam – um exemplo é a
proposta d’A Outra...
Um
discurso recorrente é que as dificuldades encontradas para a
manutenção das atividades de um grupo são semelhantes quer de um
existente em São Paulo, quer de um das Alagoas. Não deixa de ser
verdade, mas as maneiras de driblar essas armadilhas são inúmeras e
fenomenalmente diferentes. São esses diálogos que dão lampejos de
sensatez para situações típicas de um grupo de teatro que ama o
que se faz e busca imprimir sua identidade nos espetáculos que monta
e apresenta. Mas, objetivamente, a troca, a compra, a observação, o
diálogo, ele é referenciado comumente quando se tem um foco
específico para tal, e aqui não pertine em se tratando da Pequena
Companhia de Teatro, mas sim do ator que se fez presente. A escolha
de meu nome pelos meus pares (Katia Lopes, Jorge Choairy e Marcelo
Flecha) se deu pela minha afetiva aproximação com a mímica
corporal dramática, de Etienne Decroux, que dialoga com a proposta
de formação da etapa na qual eu participaria (biomecânica de
Meyerhold), e também por estar em processo de pesquisa para a
montagem de um espetáculo-solo para as ruas.
Minha
compreensão acerca das influências sofridas são mais amplificadas,
e assim, tudo o que fazemos ou deixamos de fazer influi e influencia
nas nossas vidas e na vida da comunidade. Presença ou ausência
repercutem, sempre. Enquanto ator, quando em processo, as informações
e transformações pela qual o corpo passou, vai reverberar na
composição, na cena. O senso comum não conseguirá identificar,
mas a plateia especializada, certamente o fará. Conseguirá perceber
na ação da personagem, a formação do ator, as influências que
sofreu durante sua jornada, que não se esgota, mesmo com a chegada
da “indesejada das gentes”.
Meu
corpo recupera o que minha memória acata. Quando não, os espasmos
incompreensíveis podem dar sustentação a uma ação cênica. Não
sei, mas está aí; apareceu, mas não sei sua gênese – e
funciona. O que fica tem autoridade para tal. O que quer ir, a gente
deixa o vento levar. Assim são as coisas.