domingo, 24 de novembro de 2013

Velhos caem, nós também.


Plateia em Balsas
A proposta de interiorização das ações da Pequena Companhia de Teatro no estado do Maranhão existe desde sua origem, e sempre representou um posicionamento político. De 2005 para cá, O Acompanhamento, Entre Laços, Pai & Filho, Velhos caem do céu como canivetes, e ainda, Medéia e Deus Danado – espetáculos da eterna parceira, Cia A Máscara de Teatro –, tiveram passagem por cidades do interior, assim como oficinas, performances literárias, lançamento de livros, participação em fóruns, palestras, debates, organização de mostras de teatro; tudo com a convicção de estar contribuindo de alguma maneira para o desenvolvimento sociopolítico-cultural do estado mais pobre da federação brasileira, e sensibilizando o poder publico municipal para a importância dessas ações. Balsas, Imperatriz, Bacabal, Caxias, Santa Inês, Riachão, São José de Ribamar, Timon, São Bento, Fortaleza dos Nogueiras, Itapecuru-mirim. Mais de cinquenta apresentações de espetáculos, todas gratuitas (não podemos pretender que comunidades que não te acesso a teatro tenham a sensibilidade e predisposição de pagar por ele nas pouquíssimas vezes em que a oportunidade aparece), e seus respectivos debates. e, em todos, o reconhecimento e a cobrança dos espectadores quanto à importância dessas iniciativas.
 
Oficina em Caxias
Nessa trajetória conseguimos sensibilizar o poder publico municipal? Não. Todos os projetos de circulação realizados pela Pequena Companhia de Teatro foram patrocinados pelo Governo Federal ou pelo SESC, com o apoio cultural local de pizzarias, amigos, universidades, parentes, colégios, restaurantes, ou a intervenção de amigos-secretários de cultura/presidentes de fundações. Nas poucas ocasiões em que as prefeituras se sensibilizaram com nossas ações, o apoio cultural se restringiu a uma hospedagem aqui, uma refeição acolá, mas jamais qualquer prefeitura maranhense desembolsou um centavo com qualquer despesa mais significativa. Depois de oito anos de ações ininterruptas, nunca recebemos por parte de nenhuma prefeitura o convite espontâneo para a realização de algum tipo de atividade cultural que demandasse do município o desembolso de recursos para pagamento de cachê, transporte de cenário e equipe, compra de livros etc. – nosso último projeto já distribuiu gratuitamente mais de cinquenta livros. O que sim vimos foi o quanto as prefeituras buscam capitalizar politicamente nossas ações. Nosso único retorno vem sempre do público. Nos depoimentos constantes, cortantes e emocionados dos espectadores que reforçam a importância dessas ações. Será suficiente? Com um diagnóstico desses fica muito difícil convencer os pares quanto à efetiva necessidade da interiorização, porque o reconhecimento merecido vem de quem frui, mas nunca vem de quem deveria ajudar a pagar a conta com políticas públicas culturais efetivas que desvinculassem suas ações do óbvio e árido calendário carnaval-São João-verão-pátria-natal-férias. Sou do interior do estado. Depois de vinte e tantos anos de labuta, nada mudou. O público merece nosso esforço, só não sei se a ranhetice da velhice que se assoma respeitará nossa vontade.
 
Debate em Fortaleza dos Nogueiras
 
 

Um comentário:

Jorge Choairy disse...

Odorico Paraguaçu alugaria uma frota de ônibus e mandaria seu povo vir assistir suas peças na capital. Livre por um tempo do povo e por tabela da ranhetice/velhice e artistices dessa gente de teatro.