a
chatice virou prima-irmã da incerteza e da insegurança, e nestes
dias de dúvidas, tudo é reconfigurado numa fração de segundos:
nosso voto nunca foi tão incerto.
miséria.
miséria. o mundo que você me traz é uma miséria.
você não pode
me culpar por ter tentado evitar toda essa miséria, diz a
personagem.
sempre
nos arvoramos em dizer que fazemos só teatro e que vivemos
financeiramente dele. desde o golpe que tirou a presidenta dilma,
legitimamente escolhida pelo voto direto, as artes vêm sofrendo um
desmonte em suas políticas de financiamento e fortalecimento dos
segmentos, através da inexistência de editais públicos e de ações
efetivas do ministério da cultura. mobilização e o ministério é
preservado. contudo, sem as garantias anteriormente implantadas pela
gestão de lula e dilma. hashtags criadas, palavras de ordem aos
borbotões, ocupações pelo país. alguma coisa mudou? insatisfações
persistem no tempo e o abismo se precipita. eleições. quanto mais
se fala, mais se solidifica. preguiça em ler sobre tudo – até
sobre meu candidato.
entendo
que nossa carne não tem a fibra que devia ter...
estamos todos
adormecidos, uma espécie de letargia mórbida que nos faz aceitar
tudo...
não há um mínimo de resistência…, diz
a personagem.
e
lá vem as manifestações antecedidas por mobilizações virtuais.
caras-pintadas, cidades acionadas… e o tiro sai pela culatra.
amplia-se a discussão, o rancor, o ódio.
esta
semana tive uma experiência atípica. experimentei exercitar uma
ação terrorista proposta dentro da programação do conexão dança
e intervimos na rua grande. ouvi desaforos, incômodos
desnecessários, nome de candidatos e partidos sendo associados à
ação. não me causou desconforto o experimento, não é isso.
porém, a reflexão que faço e questiono – não tenho respostas
para quase nada – é que passo a crer que importa mais uma
justificativa inócua de nossa incapacidade de propor e fazer
mudanças através de atitudes contraproducentes.
preciso
ler “zona autônoma temporária”, de hakim
bey, sugerido pela princesa, para
compreender melhor onde me encaixo, onde a arte se
encontra, onde estarei depois das eleições, como sobreviverei. tudo
é tão obscuro e latente, que escolher um candidato hoje não
equivale a votar nele amanhã; que as propostas defendidas hoje não
serão, necessariamente, as que serão postas em prática; começar
ensaios de um novo espetáculo de teatro não quer dizer,
necessariamente, estreá-lo dentro do previsto.
numa
época de ânimos aflorados, de posicionamentos incisivos, cortantes,
minha acidez e ironias acabaram por perder força. a modorrice impera
no meu castelo de cartas. espero o passar das horas e a conjuntura
astral melhorar para propor alguma coisa que, não só me tire dessa
parvoíce, como também seja algo com um mínimo de dignidade de
nota.
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