walter
mercado, mercado das pulgas, mercado financeiro, mercado livre,
mercado do peixe. uma entidade. onipresente. marginal é aquele que
não se enquadra. nicho. empreendedor. compra e venda de serviços ou
produtos. o teatro que faço não é
produto. ator. sindicato. piso salarial. garantia de direitos
trabalhistas. brodagem. modelagem. publicidade. políticas públicas
de cultura.
meninxs,
eu vi!
sonhei
que não passava fome e que minha profissão era valorizada. ninguém
que não fosse capacitado e habilitado exercia a atuação. pagava
meus boletos, me apresentava gratuitamente subsidiado pelo estado (res
publica) e encontrava uma potência nas pessoas que se
possibilitavam ao abraço generoso da criação.
estamos
tão distantes do ideal que não exercemos nossas atividades dentro
do espectro das leis, pois nos consideram – os artistas – como
vagabundos, mamadores de tetas governamentais, amigos que executam
suas funções sem serem remunerados, sindicalistas desamparados por
uma instituição ilegalmente constituída… um horror. nos
colocamos com o pires na mão a mendigar esmolas, nos enquadramos
como pedintes, uma subcategoria profissional, um desempregado… não
somos artistas; precisamos ser mei, uma pessoa jurídica para que o
mercado – principalmente no campo do audiovisual – nos acolha.
não
quer, tem quem queira!
assim,
marginais que somos, sentamos e choramos sobre o leite derramado.
hibernamos em nossas “casavernas” sem motivação e esperança
para levantar uma bandeira sequer. tudo é trágico e risível. e
tudo pode piorar. e tudo é nada, sem potência, sem a ternura ou a
garra que precisamos para a nossa revolução doméstica.
me
vejo fazendo propaganda eleitoral, me vendendo aos lobos e posando de
profissional; me vejo mudando de carreira/profissão/ideal para
comprar meu apartamento a prestação, minha moto financiada, meu
smartphone de última geração.
a
arte deveria ser gênero de primeira necessidade, muito antes do pão.
nossa sociedade rejeita essa alternativa. o mercado das urnas
sustenta uma política cruel de invisibilidade artística e
consequentemente uma visão alterada da realidade que nos circunda.
esse poço continua sem fundo. nenhum bem, dado o quadro atual, virá
nos tirar dele.
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