quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O ator, esse ser invertebrado

O trabalho de composição do ator, numa perspectiva da representação preconizada pela antropologia teatral, implica a plena convicção, para o ator, do tipo de teatro que se quer fazer levando em consideração, principalmente, todo o processo, e não tanto o resultado final, que certamente será consequência do traçado escolhido.

Então, o itinerário será importante porque ele é o aprendizado do ator, e como cada ser é único — e na contemporaneidade há uma multiplicidade de sentires, de culturas, quer ocidentais quer orientais, um turbilhão de informações —, o ator-compositor deverá exigir-se um rigor a partir do seu olhar, já que esse processo de trabalho, de treinamento, é individual, mesmo que em dado momento seja significativo a participação de outros atores, numa perspectiva de construção coletiva, de partilha e envolvimento — de acordo com cada projeto de montagem.


Quando esse posicionamento se estabelece, o ator percebe que não está só. Mesmo com informações provenientes de seu ser, ele tem interferência do espaço que o cerca, dos atores que estarão envolvidos com ele, com seu encenador, com o público. Essa percepção recupera a ideia de energia. Se o ator não perceber que absolutamente tudo interfere no seu processo, na qualidade de energia que desprende e manipula, e não ter rigor com o seu fazer, certamente não haverá verdade, tão pouco vida em sua cena.

Independente das matrizes que utilizar, de jogos teatrais ou técnicas, as energias e o rigor devem ser considerados em todo o treinamento. O debruçar-se sobre ele é que dará um retorno acerca dos procedimentos adequados ou não ao que se pretende, já que hoje não se aceita mais uma única verdade, mas sim as verdades possíveis de serem observadas, de serem aferidas.

A composição do ator e o procedimento adotado para a composição de uma partitura, possibilita um aprimoramento do conhecimento do próprio corpo do ator, seus limites, flexibilidade, massa, seu grau de concentração e envolvimento a partir da generosidade criativa disponibilizada; reconhecimento de sua capacidade em organizar conceitos e formular hipóteses; analisar o seu próprio fazer, dialogando consigo e com o outro; trilhar uma alternativa de processo do início ao final dele, analisando-o à luz das teorias teatrais existentes.

Um comentário:

Elizandra disse...

Querido Marconcine,só me senti atriz quando permiti equilibrar a minha energia após a exaustão fisica transcendendo para a exaustão mental,criando,assim, as infinitas possibilidades para a minha composição e adquirindo consciência corporal de cada movimento em cena.Em posse dessa consciência consegui perceber a energia do espaço da cena, que não necessariamente esta apenas no palco.Adorei as considerações.Beijos!