quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A improvisação: método e instrumento

Tendo o teatro o caráter do efêmero, e o drama grego equivaler à ação, é sensato crer que “o drama é a única forma mediante a qual podemos utilizar plenamente o homem na exploração de si mesmo, dentro do contexto de uma situação viva, e a experiência mais profícua dessa experiência deverá ser realizada através da improvisação”[1].

Lembremo-nos aqui que “a commedia dell’arte eleva a improvisação à categoria do artístico”[2], pois que “em oposição ao teatro literário, os cômicos dell’arte, do ofício, sustentavam que o autor é o ator”[3]. Então, em um dado momento, temos um ator, que é encenador e autor, de forma concomitante.

FO (2004) recupera, inclusive, a informação de derrubada da quarta parede pela dell’arte, quando diz: “Pois bem: a idéia de derrubar a quarta parede já obcecava os cômicos dell’arte[4]. E isso é importante na medida em que, quanto mais o ator se aproxima do público, mais terá a improvisação como instrumento.

Mesmo enquanto método, a improvisação serve para auxiliar na reconstrução da fabulação, anterior ao tempo da narrativa da peça “para investigar ações que o personagem não vive na peça (...) além de ajudar a localizar ações, intenções e subtextos”[5].

Quando o espetáculo estreia, e imagina-se que o encenador esteja satisfeito com o resultado, e os atores já com suas personagens modelares e compostas, a improvisação não deixa de ter espaço, principalmente em se tratando da importância que os espectadores têm no ato da encenação. E é esse espectador que vai alterar a ordem do espetáculo, mesmo que ele opte pelo silêncio. Ele, com sua intuição determinará o seu envolvimento.

O ator, incorporado com a necessidade de sentenciar indelevelmente o teatro enquanto efêmero, potencializando o tempo do agora, do é, será generoso se utilizar-se de sua intuição.

Entretanto, se colocarmos o espectador-atuante no mesmo nível de importância para a improvisação, há de continuar a sua eficácia: “Tudo isso aumenta o desconforto do ator, constrangido a ficar em guarda, vigiado por todos os lados ao mesmo tempo, acuado a descoberto”[6].

A beleza do teatro é a celebração entre atores e público. Ambos devem se dar esse direito.

[1] HODGSON, J. & RICHARDS, E., apud JANUZELLI, Antonio. A aprendizagem do ator. São Paulo: Ática, 1992. p. 63.
[2] CHACRA, Sandra. Op. cit. p. 225.
[3] Ibidem.
[4] FO, Dario. Manual mínimo do ator. São Paulo: Senac São Paulo, 2004. p. 120.
[5] BARBOSA, Zé Adão, CARMONA, Daniela. Op. cit. p. 96.
[6] ASLAN, Odette. Op. cit. p. 183.

3 comentários:

André Lucap disse...

Cláudio, vc toparia fazer televisão ou cinema?

Cláudio Marconcine disse...

para de me provocar, lucap...

Junior Terra disse...

Obrigado, pelas lições de todos os dias...