domingo, 9 de julho de 2017

Antenas para os afetos


Terça-feira que vem, dia 11 de julho, às 19h, estreia o espetáculo teatral “Atenas: mutucas, boi e Body”, de Lauande Aires e Igor Nascimento, na sede da Pequena Companhia de Teatro, na Rua do Giz, 295, Praia Grande. A temporada de estreia vai de terça a sábado, e a entrada é gratuita. No elenco, Dênia Correia, Nuno Lisboa e o próprio Lauande. Serão 15 apresentações ao todo, sendo que as duas outras temporadas acontecerão de 15 a 19 e 22 a 26 de agosto. Isso é o de importante que tinha para escrever hoje. Tudo o que segue é mais uma das elucubrações irrelevantes às que submeto a querida leitora e o companheiro leitor por mera necessidade de encontrar companhia para o maior prazer da minha vida, perder tempo.
As relações da Pequena Companhia de Teatro são construídas, primordialmente, pelo afeto. A própria consolidação do nosso grupo se estabeleceu a partir dele e da amizade. Até a curadoria de ocupação da nossa sede, como já falei aqui, é orientada, inicialmente, pelo afeto.
Você pode achar que é uma maluquice, eu acho um privilégio. Um dos meus maiores temores durante a minha formação foi o de ser obrigado a ter que trabalhar com gente chata. Como sempre conheci o tamanho da minha chatice, achei oportuno me abrigar em ambientes agradáveis, onde a minha ranhetice ficasse diluída na cordialidade e leveza do todo. É o prazer que me move, e o teatro é uma fonte de prazer martirizante, onde o martírio do trabalho que faço (trabalho sempre será um martírio para qualquer ser humano que entenda o indelével prazer do ócio) encontra o prazer da lida com quem ou para quem trabalho, criando uma espécie de limbo límpido, sombra iluminada, palafita luxuosa, lodaçal de chocolate.
Com a ocupação da nossa sede pelo espetáculo Atenas não é diferente. Acompanhar o sobe e desce de escadas, bater um papo entre sacadas, ouvir as batidas dos martelos, servir no que for preciso, curiar as nuances, tomar um suquinho, descobrir que têm malucos como nós; tudo isso é abraçado por um afeto que me faz cruzar os dedos diariamente na torcida para que tudo dê certo, e na terça tenhamos a estreia de um espetáculo honesto, comprometido, transformador, pois nada pode fugir desse roteiro quando se tem um grupo tão dedicado, sério e inteligente como o que tenho visto transitar feito fantasma pelas escadarias da Pequena Companhia de Teatro nestes últimos dez dias.
Essa condição de existência privilegiada está diretamente relacionada ao entendimento da necessidade de perceber onde estão os nossos pares, para onde os caminhos convergem, onde se depositam os sonhos, onde se esconde a sutil coincidência – aquela que junta os menos prováveis e os transforma em iguais, por mais diferentes que sejam. Claro que para conseguir essa condição já engoli muito sapo, vendi diversas vezes minha alma para o diabo, aguentei muito caboco mais chato do que eu e até madruguei (!); tudo para conseguir essa minha pré-velhice tranquila, meu quase fim moroso, a lenta despedida da movimentada quietude que é a vida.
Escrevo esta glosa sobre o afeto porque Atenas é a mais longa jornada de um espetáculo externo na nossa sede, desde sua inauguração, em 2013, e não poderia estar envolvida outra pessoa que não o Lauande, um dos nossos amigos mais próximos, e responsável por comandar a trupe nesta jornada trágica que se avizinha. Como tudo o que me invade vira postagem, achei que as sensações da experiência que narrei poderiam encontrar eco no coração da leitora ou leitor, e ainda fantasio que, enquanto você lê, dá uma olhadela dissimulada para a pessoa que está ao seu lado e sorri, graciosamente, por sentir a felicidade de saber que ela é a pessoa que deveria estar nesse exato momento e lugar.

2 comentários:

João Vicente disse...

Salve seu cabra. Que maravilha, mas discordo de sua pre-velhice tranquila. Você ainda tem muuuuito o que criar, portanto muita inquietação pra viver.
Bola pra frente que atras vem gente. Força e luz pra você meu querido "pre-velho"

Marcelo Flecha disse...

Você é um cabra muito sumido! Desde a última vez já envelheci três vezes! Apareça, homi!