Hoje faço um bate-e-volta para o Rio de Janeiro, participar de um debate
sobre o SESC Dramaturgias, que será transmitido amanhã, às 14h30, por videoconferência
para todo o país, pois na terça, bem cedinho, pego o volante da Pequena Móvel,
e rumaremos para Fortaleza cumprir com a nossa agenda de ocupação do CCBNB
destrinchada nesta postagem aqui.
Como vamos bater um papo sobre a experiência em participar do projeto a
partir da oficina de escrita dramatúrgica que ministrei em Caxias/MA,
Vitória/ES e Maceió/AL, antecipo o meu balanço para instrumentalizar os
queridos leitores que por ventura vierem a acompanhar o debate em alguma das
unidades regionais do SESC para onde a videoconferência será transmitida.
Assentarei a provocação naquilo que motivou minha proposta para o SESC e
que vem sendo discutida aqui no blog: o excesso de narrativização do teatro
contemporâneo. Esse assunto pontuou permanentemente o diálogo com as pessoas
que participaram das oficinas, e gerou uma inquietação quanto à necessidade de
discutir o fato e entender o que esse sintoma da contemporaneidade tenta nos
dizer. Como penso que será necessário me debruçar em outra postagem sobre o
assunto após ruminar a colheita das réplicas e tréplicas que recebi, não
aprofundarei esse mote hoje; todavia, o conteúdo da problematização está
escondido na palavrinha que aparece em vermelho neste parágrafo, é só clicar
para abrir a Caixa de Pandora.
Debruçar-me-ei sobre quatro pontos que considero cruciais na experiência
vivida, dois negativos e dois positivos. Começarei pelos negativos, para dar
tempo de diluir meu azedume, fazendo com que o ledor termine a leitura com uma
imagem menos ranzinza deste ranheta contumaz que tanto reclama.
O primeiro ponto negativo é que meu Henrique é sem H... Era para ser uma
piada; se você não riu, é a prova patente de que você é tão ranheta quanto eu.
O segundo, e aqui ressalvo abordar o tema em termos gerais, não sendo generosos
com as situações que fugiram à regra, percebi uma dificuldade do SESC em
conseguir adequar a clientela da oficina para o recorte mais específico sugerido
pela oferta, desnivelando a possibilidade de aproveitamento por parte das
pessoas atendidas pela ação; fiquei com a sensação de que pessoas outras, que
respondessem mais organicamente às especificidades, pudessem ter ficado de fora
não por indiferença, por desaviso.
Já os pontos positivos foram apenas confirmados, pois haviam sido
levantados como suspeitas em postagens anteriores que nem vou lincar, por saber
que você não se dará o trabalho de clicar. O primeiro diz respeito ao cuidado
do SESC em viabilizar uma carga horária significativa, 32h – tendo em vista que
uma disciplina acadêmica gira entre 40 e 60 horas, disponibilizar uma atividade
formativa com essa extensão comprova o compromisso do SESC com o aprofundamento
do estudo das múltiplas dramaturgias postas hoje. Não é muito comum atividades
formativas receberem essa atenção quanto ao tempo necessário para que uma
facilitação seja realizada largamente, possibilitando ao participante um debruçar-se
efetivo, contrapondo-se a certa superficialidade que permeia projetos que
incluem formação, inclusive nossos.
A segunda, e que a edição deste ano traz como novidade, é a
possibilidade de a oficina ser ministrada em dois momentos, com um intervalo de
tempo importante entre os dois. Esse acertado formato possibilitou o confronto
entre teoria e prática. Aquilo que fora postulado no primeiro encontro,
recebera um outro momento para a verificação das postulações no tête-à-tête com
o postulante, arremessando oficineiros e oficinados em um delicioso jogo
dialético, repleto de comprovações, antíteses, problemas, réplicas,
contradições, esclarecimentos, teses, tréplicas, abraçados pelo empenho na
busca da síntese, tão esquecida nas tratativas dialéticas contemporâneas,
principalmente virtuais.
No trinchinchim, minha experiência aponta para algo que vem sendo pontuado
por onde passo, nas quase setenta cidades que visitei nos últimos anos com
diversos projetos: o fato de o SESC ser um ocupador potente da lacuna que as
políticas públicas culturais do país não conseguiram preencher, e que agora, na
atual conjuntura política de desmonte e desmanche, será alargada até virar uma
grande vala onde será sepultada a cultura brasileira.
São apenas umas pitadas de tempero que jogo por cima, para marinar o
papo que acontecerá amanhã, e que você poderá acompanhar, se tiver disposição
para dar um pulinho na unidade do SESC da cidade que você habita. Como
frequentemente faço jejum, chegarei para o debate com fome, e espero que as
questões levantadas por você, meu intrépido leitor fantasma, saciem este faminto
prosador de inutilidades.
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