domingo, 23 de agosto de 2015

Um lugar para voltar

Detalhe do sítio paleontológico que eu não queria visitar

No decorrer dos últimos vinte anos o teatro me levou para os lugares mais inesperados; destinos impensados, basicamente, porque sou um homem avesso a empreitadas, alheio a aventuras, indolente a descobertas. De Macapá a Ijuí, de Catania a Palmeira dos Índios, de Owatonna a Castanhal, de New York a São Paulo, de Taormina a Rio do Sul, de Mossoró a Chapecó, visitei quase uma centena de cidades que jamais seriam meu destino, não por falta de atrativos – é que não sou afeito a passeios, ou, como diria na intimidade, nem de turismo eu gosto.

Experiências singulares, todas, que de alguma maneira influenciaram minha visão de mundo, meu sentido de pertencimento, minha relação com o desterro, minha vida. Qual fosse a cidade, sempre tive a sensação de que jamais chegaria até ela se não fosse o teatro.

Em que momento da minha vida eu decidiria passar vinte dias na cidade de Sousa, na Paraíba, para conhecer o Luizinho, o Felipe, a Adriana, a Rose, o Kleyner, ver pegadas pré-históricas, discutir o ponto da carne no Restaurante Mussambê, ver uma exposição no Centro Cultural BNB? Nunca. E eu teria perdido uma chance inusitada de continuar entendendo este Brasil, sem intermediários, sem guias, sem o mercado do turismo que tanto distorce a realidade.

O teatro. O teatro promoveu duas décadas de “turismo” constante a um ranheta contumaz, porém, permanentemente disposto a pegar o primeiro volante, avião, ônibus ou barco para levar um pouco de teatro ao espectador mais improvável, e surpreendê-lo com a própria circunstância do inusitado encontro, ver um espetáculo de São Luís do Maranhão.

Se eu tratasse das minhas viagens fora do teatro sobraria muito pouco o que contar, e o destino primordial seria quase sempre o mesmo, Buenos Aires, cidade de onde saí aos dez anos e que nunca termino de visitar. Foi de lá que parti para a primeira viagem sem ter a menor noção de que minha vida seria viajar em busca de espectadores e retornar em busca do meu lugar.

Portanto, agradeço ao teatro. Sou grato à Pequena Companhia de Teatro, ao Centro Cultural Ópera Brasil, e a todos os grupos e companhias de teatro que me levaram a experimentar o sabor de morar no mundo e descobrir as delícias de ter um lugar para onde voltar. É no retorno que se entende o motivo da partida. Partamos, então, rumo ao desconhecido, com a certeza de que a nossa casa sempre nos espera.

7 comentários:

Unknown disse...

Medo do desconhecido? Nunca mais.... Desejo do desconhecido, melhor dito! Então vamos!

Unknown disse...

Essa bebida dominical é sempre uma viagem inesperada e deliciosa.

Marcelo Flecha disse...

Obrigado, minha querida amiga! Foi bom poder lhe abraçar!

Unknown disse...

Bom? Foi..... Sem explicação, sem nome, sem intervalo.... Inexplicável sempre. Sinto como se fosse sempre a primeira e última vez, já pensou? Nossos caminhos se cruzaram numa dessas viagens e veja no deu! Agora aguente! Amo você, Kátia, Jorge, Cláudio e tudo da pequena....

Anônimo disse...

Sou um péssimo turista tbm rs.

Fernando Bicudo disse...

Temos que seguir nosso caminho...
Mas é muito raro eu tirar fotos dessas andanças como turista... como profissional tenho algumas, mas você conhece alguém que foi a Londres, Paris, Roma e muitas outras cidades e não ter tirado nenhuma foto??? Só apareço em fotos dos outros... rsrsrsrsrs
Perder tempo tirando foto???

Marcelo Flecha disse...

Salve, Fernando! Muitas dessas cidades visitamos juntos. Muitas histórias! Saudades, irmão!