De 01 a 17 de agosto desenvolvemos o
projeto Teatralidades: a Pequena Companhia de Teatro ocupa Sousa, no
Centro Cultural Banco do Nordeste, na Paraíba. Quando pensamos em ocupação,
pensamos em como aproximar determinada comunidade das nossas práticas
artísticas, das nossas metodologias de construção, das nossas experiências como
coletivo, e dos nossos prazeres e desprazeres.
A ideia não é a simples passagem pela
cidade, o intercâmbio de uma apresentação, a citação do nome decorado de
véspera. A proposta é oportunizar, a quem interessar possa, o acesso aos
mecanismos que movem a construção teatral de grupo, seus anseios, frustrações,
acertos e equívocos.
Minha experiência pessoal com esse
tipo de iniciativa provém da época em que morava no interior do estado do
Maranhão – onde somente recebia – e sei da importância que esse tipo de
iniciativa tem para o fortalecimento do movimento cultural de uma cidade,
quando a ação é realizada de maneira honesta, contínua e responsável.
O que tenho ouvido por aqui reforça o
acerto da nossa proposta e política, pois o que surpreende os artistas
moradores de Sousa é o fato de que forasteiros programem uma jornada tão
extensa e com tantas atividades (1 lançamento de projeto e livro, 4 oficinas, 2
leituras dramáticas, 8 apresentações e 8 debates), tendo em vista que a prática
mais corrente se restringe a poucas apresentações e alguma oficina.
O curioso é que o projeto inicial
propunha a ocupação por um mês, com mais atividades, entre elas, a temporada do
nosso outro espetáculo em repertório, “Velhos caem do céu como canivetes”, que
reforçaria o intercâmbio, pois o cidadão interessado teria acesso a uma mostragem
mais abrangente da Pequena Companhia de Teatro e, dessa forma, ficaria
assegurada à comunidade de Sousa o contato com o fazer teatral de um grupo de
teatro maranhense, fato que raramente seria possível, não fossem os mecanismos
facilitados pelo Ministério da Cultura, através da lei de incentivo, e pelo Centro Cultural Banco do
Nordeste.
O que fica em suspensão na minha
mente, sempre que reflito sobre o nosso fazer, e sobre a responsabilidade que
dele emerge, é até quando a transformação promovida por muitas pequenas células
como a nossa (leia-se incontáveis grupos de teatro comprometidos) será viável
dentro de um mercado cada vez mais selvagem, feroz e furioso? Como controlar essa
selvageria que não nos permite mais parar, conhecer, trocar, dialogar,
refletir?
Se não tomarmos cuidado, a experiência
teatral também pode se tornar a quintessência do mercado – onde tempo é
dinheiro, arte é mercadoria, e artista é celebridade – e nós outros padeceremos
pela pretensão utópica, elixir supremo de qualquer atuante cultural que
minimamente sonhe com a transformação do nosso entorno, o mundo.
3 comentários:
posso dizer que li.
degustei, ainda movido pelo vinho.
posso dizer ainda mais, que o soco de indagações sobre minha pobre assiduidade ao pequeno blog me faz obrigado a voltar mais vezes e assinar tal passagem.
jeyzon Le(u)Nardo
Ja fiz varias oficina de teatro de diversos métodos, mais quando Luiz Cacau me convidou para fazer a oficina "O quadro antagônico como instrumento de treinamento do corpo" não sabia o quanto inspiradora e deliciosa seria. Como seria bom ver as Companhias de teatro de nosso País ocupando as cidades do interior assim como esta fazendo a Pequena Companhia de Teatro, o quanto nós artistas do interior não ganharíamos com isso? Digo em termos de conhecimento artístico, técnico e cultural. Esse intercambio se faz necessário para a manutenção do teatro no interior ou logo, logo isso será apenas um privilegio dos grande centros. No mais Muito obrigado Marcelo e toda a Pequena Companhia de Teatro, obrigado Centro Cultural Banco do Nordeste e obrigado Grupo Oficina pelo convite em especial Luizinho Cacau.
Pois cuide, seu Jeyson! E obrigado pelo belo depoimento, Beethoven!
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