Detalhe do sítio paleontológico que eu não queria visitar |
No decorrer dos últimos vinte anos o
teatro me levou para os lugares mais inesperados; destinos impensados, basicamente,
porque sou um homem avesso a empreitadas, alheio a aventuras, indolente a
descobertas. De Macapá a Ijuí, de Catania a Palmeira dos Índios, de Owatonna a
Castanhal, de New York a São Paulo, de Taormina a Rio do Sul, de Mossoró a
Chapecó, visitei quase uma centena de cidades que jamais seriam meu destino,
não por falta de atrativos – é que não sou afeito a passeios, ou, como diria na
intimidade, nem de turismo eu gosto.
Experiências singulares, todas, que de
alguma maneira influenciaram minha visão de mundo, meu sentido de pertencimento,
minha relação com o desterro, minha vida. Qual fosse a cidade, sempre tive a
sensação de que jamais chegaria até ela se não fosse o teatro.
Em que momento da minha vida eu
decidiria passar vinte dias na cidade de Sousa, na Paraíba, para conhecer o Luizinho,
o Felipe, a Adriana, a Rose, o Kleyner, ver pegadas pré-históricas, discutir o
ponto da carne no Restaurante Mussambê, ver uma exposição no Centro Cultural
BNB? Nunca. E eu teria perdido uma chance inusitada de continuar entendendo
este Brasil, sem intermediários, sem guias, sem o mercado do turismo que tanto
distorce a realidade.
O teatro. O teatro promoveu duas décadas
de “turismo” constante a um ranheta contumaz, porém, permanentemente disposto
a pegar o primeiro volante, avião, ônibus ou barco para levar um pouco de
teatro ao espectador mais improvável, e surpreendê-lo com a própria
circunstância do inusitado encontro, ver um espetáculo de São Luís do Maranhão.
Se eu tratasse das minhas viagens fora
do teatro sobraria muito pouco o que contar, e o destino primordial seria quase
sempre o mesmo, Buenos Aires, cidade de onde saí aos dez anos e que nunca termino
de visitar. Foi de lá que parti para a primeira viagem sem ter a menor noção de
que minha vida seria viajar em busca de espectadores e retornar em busca do meu
lugar.
Portanto, agradeço ao teatro. Sou grato à Pequena
Companhia de Teatro, ao Centro Cultural Ópera Brasil, e a todos os grupos e
companhias de teatro que me levaram a experimentar o sabor de morar no mundo e
descobrir as delícias de ter um lugar para onde voltar. É no retorno que se
entende o motivo da partida. Partamos, então, rumo ao desconhecido, com a
certeza de que a nossa casa sempre nos espera.
7 comentários:
Medo do desconhecido? Nunca mais.... Desejo do desconhecido, melhor dito! Então vamos!
Essa bebida dominical é sempre uma viagem inesperada e deliciosa.
Obrigado, minha querida amiga! Foi bom poder lhe abraçar!
Bom? Foi..... Sem explicação, sem nome, sem intervalo.... Inexplicável sempre. Sinto como se fosse sempre a primeira e última vez, já pensou? Nossos caminhos se cruzaram numa dessas viagens e veja no deu! Agora aguente! Amo você, Kátia, Jorge, Cláudio e tudo da pequena....
Sou um péssimo turista tbm rs.
Temos que seguir nosso caminho...
Mas é muito raro eu tirar fotos dessas andanças como turista... como profissional tenho algumas, mas você conhece alguém que foi a Londres, Paris, Roma e muitas outras cidades e não ter tirado nenhuma foto??? Só apareço em fotos dos outros... rsrsrsrsrs
Perder tempo tirando foto???
Salve, Fernando! Muitas dessas cidades visitamos juntos. Muitas histórias! Saudades, irmão!
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