domingo, 15 de junho de 2014

Teatro & Futebol

O futebol me abandonou, a arte não. No início da década de noventa eu viajava para Araguaína/TO com uma caixa de livros, entre eles a prosa completa de Borges – presente que me acompanha desde 1987 –, para dividir uma república com jogadores de um time de futebol cujo nome minha memória se ocupou de não reter. Nesse então, morando em Balsas, era atleta e artista simultaneamente, fazendo teatro, música e literatura, há alguns anos. A rotina de artista, em Balsas, me fazia ensaiar até às quatro da manhã.  A mudança para uma rotina exclusivamente atlética, em Araguaína, me fazia madrugar às cinco da manhã, para treinar. O despertador escolhido pelos meus companheiros era um som sintonizado na rádio local que gritava: eu não vou negar que sou louco por você! Acredite. Deixe sair aquele sutil sorriso no canto da boca: sim, também tive o sonho de ser jogador de futebol. Não me pergunte por que motivo, mas este era o meu principal desejo. Não durou muito, ou seja, o teatro que faço é consequência do meu maior fracasso. Recentemente, na plateia de Velhos caem do céu como canivetes, um espectador comentava: só conhecia você como o argentino, cabeludo, bom de bola. Além de estufar meu peito, o fato serviu para confirmar meus predicados futebolísticos para minha companheira – sempre reticente com minhas possíveis fabulações sobre o passado. Sim, eu era bom. Considero-me melhor jogador no passado do que sou encenador no presente – se isso quer dizer alguma coisa. Por isso, não saberia apontar por que não sou um jogador aposentado. Talvez a aleatoriedade defendida pelo Ser Humano, personagem do nosso último espetáculo, seja a única maneira de explicar o encenador de hoje. A aleatoriedade como que minha vida e trajetória foram constituídas é digna de nota... O gordo prólogo que aqui escrevo só existe para tentar explicar a sentença que motiva esta postagem: não acompanharia sessenta e quatro peças de teatro em um mês de festival, mas assistirei aos sessenta e quatro jogos da copa sem o menor constrangimento. Mas, como sou uma ficção, não dê muito crédito às anedotas que constroem o roteiro da minha vida. Y dale!

8 comentários:

André disse...

Massa! Fico feliz!

Unknown disse...

Excelente texto.

Marcelo Flecha disse...

Obrigado, André, Jacqueline! Apareçam mais vezes! Saudades!

Jovanns Ribeiro disse...

Top!

Hamilton disse...

Rapaz, que drible hein, Marcelo "caixinha de surpresas" Flecha?! Além de argentino cabeludo, bom de bola.

Anônimo disse...

Rapaz, por essa eu não esperava... Marcelo Surpreendente Flecha, hein?

Rodrigo França disse...

Adoro ler relatos. Os caminhos que nos formam...

Marcelo Flecha disse...

É, meus amigos... futebol é uma caixinha de surpresas, a vida também.