Aqui é diferente. Pensar na
postagem de hoje sem ser redundante com tudo o que escrevi na postagem A política da preguiça será meu grande desafio, pois tudo o que vivemos em
Primavera do Leste, dois anos atrás, dilata-se, em potência e qualidade na
atualidade, e nos espanta.
Então, para não chover no
molhado, assentarei meu raciocínio em um único ponto de apoio: a oficina de
dramaturgia do ator que ministrei; sustentando a argumentação na significativa
diferença de comparecimento, rendimento e compreensão, quando observada a
adequação da clientela.
Nos plurais projetos, eventos
ou programas onde sou requisitado para ministrar oficinas – e a propriedade da
minha reflexão tenta se balizar nas experiências vividas em 27 cidades de 14
estados –, sempre nos deparamos, promotores e eu, com as agruras referentes à
dificuldade em formar a turma em questão; e o principal desafio é adequar a
clientela.
As consequências de não
conseguir a clientela específica para uma oficina são sempre as mesmas: evasão,
ininteligibilidade do conteúdo, nivelamento para baixo etc. No caso da nossa oficina
sobre o Quadro de Antagônicos, o público-alvo são atores, alunos de teatro de
curso técnico ou superior, artistas de teatro, encenadores e pesquisadores com
interesse no desenvolvimento de dramaturgia a partir do ator. Quando essa
observância consegue se efetivar, tudo flui com potência; e é aqui que entra a
nossa experiência em Primavera do Leste, onde das vinte e cinco atrizes e atores que iniciaram a oficina, vinte
e quatro concluíram. Aqui, a atenção para a formação da turma conseguiu dirimir
praticamente todos as agruras do que falei acima: evasão praticamente
inexistente, interlocução efetiva e aprofundamento substancial do conteúdo
preconizado.
Então, como conseguir esse
resultado, sem ser excludente, garantindo a ocupação da totalidade das vagas
oferecidas, e sem comprometer a oficina, tendo em vista que a não adequação da
clientela exige uma adaptação inconveniente do conteúdo? Vivo esse conflito quando
me deparo com um convite que me transforme em oficineiro, e vou tentando achar
algumas pistas para solucionar essa problemática, através das minhas
experiências recentes.
A primeira prática tem sido
a de não limitar o número de inscritos ao número de vagas oferecidas. Temos estendido
as inscrições a um número 30% maior que a oferta, pois o tamanho da diferença
numérica entre inscrição e comparecimento no primeiro dia de oficina, em alguns
casos, chega a ser um enigma indecifrável – o que faz uma pessoa se inscrever
em uma oficina, ocupar a vaga de uma outra, e não comparecer?
Outra prática é a
pessoalidade. Independentemente da extensão e alcance da divulgação do projeto
que contempla a oficina, procuro encontrar nas cidades que visito, aquelas
pessoas que imagino terem interesse na atividade, e tento convencê-las,
particularmente, através de mensagem, e-mail, apelo, ultimato, chantagem –
prática que você, leitora e leitor deste blog bem conhece –, do quão
significativo pode ser para mim a sua presença para que a interlocução proposta
pela atividade se estabeleça.
Também, a não limitação de
vagas tem gerado o excedente necessário para que a própria oficina se
encarregue de adequar a clientela, sem comprometer o preenchimento do número de
vagas oferecidas. Ao ter mais inscritos, oportuniza-se que o interessado possa
ter contato com o conteúdo e suas práticas, e decidir com maior propriedade se
a atividade lhe é oportuna, fazendo com que sua possível desistência no
primeiro dia (outra situação frequente) não seja uma evasão e sim um ajuste do
público-alvo, pois esse desistente normalmente está contemplado no número
excedente de inscrições.
São pequenos deslocamentos
de práticas que venho observando na tentativa de tornar a oficina eficiente
para o participante, para mim, e para quem contrata, lógico. Claro que
Primavera do Leste não serve de parâmetro, pois a realidade que se vive aqui é
inusitada – tão surpreendente que vou ofertar novamente o link que você
desprezou acima, para que leia a postagem sobre –, mas esta nova experiência de
conduzir atividades formativas pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura
tem possibilitado novas percepções que fazem com que nos movimentemos no
sentido de dar maior ressonância a toda e qualquer atividade da Pequena
Companhia de Teatro que seja financiada com recursos públicos, mesmo que
através de renúncia fiscal. Compromisso político de que não abrimos mão, mesmo
quando o poder público abre mão do teatro de grupo.
4 comentários:
Adorei o texto, será inútil para mim. Por meio dele errarei à vontade! Brincadeira me ajudou msm ;)
É isso, sua tática é boa, claro que o processo natural vai fazer com que filtre quem realmente quer aprender, ja diz o ditado " quantidade não e qualidade" .
Amei o texto! Abriu o a meus olhos e me servirá em um futuro não tão distante.
Aproveitem! A ideia de interlocução é exatamente essa! Ainda bem que a reflexão serviu para alguma coisa!
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