O primeiro encontro de 16h
com os participantes do SESC Dramaturgias em Caxias/MA – serão dois, conforme
expliquei aqui – encerrou na quinta, e enquanto me preparo para seguir viagem
rumo a Vitória/ES e Maceió/AL, depois de amanhã, repasso na cabeça as marcas
deixadas pela experiência e as indagações provindas dessa jornada.
Toda atividade formativa, seja
oficina, curso, vivência, imersão, minicurso, workshop (sic), propõe um repasse
de práticas, teorizações, metodologias, experimentos, postulações e pulsações de
alguém que se pressupõe cumprir os pré-requisitos para atender as demandas da
clientela que o espera – aplicado vertical ou horizontalmente, dependendo da
proposta do facilitador –, e as consequências dessa natural troca são avaliadas
de diversas maneiras pela comunidade que o recebe; no decorrer da atividade, em
bate-papos informais ou na cordial conversa de encerramento, mas,
principalmente, depois da partida do dito cujo; quando a volta à rotina da
classe artística local faz com que se efetive, no tête-à-tête, a real e
implacável avaliação do bardo. Porém, raramente temos acesso aos resultados,
transformações, devaneios, daquele que promove o repasse, e quando existem,
ficam confinados em formais relatórios de conclusão, arquivados nos anais da
desmemoria.
Por esse motivo me proponho
a mostrar o outro lado, e revelar o que se passa pela cabeça daquele que vai e
carrega consigo as marcas da experiência, a carga do forasteiro, o desafio de
ter invadido uma realidade que não é a sua e ser o ilustre desconhecido apresentado
por algumas laudas de currículo.
A primeira sensação que me
toma é a de que todo encontro é uma ilha em um oceano de desencontros. Toda
atividade formativa, quando realizada fora da comunidade onde o ministrante atua
– e já passei por essa situação inúmeras vezes –, expressa em sua gênese a
minúscula probabilidade de que esse encontro se repita, e esse que vai, carrega
sempre consigo o desejo de retornar e a certeza da improbabilidade.
Essa é a marca inaugural
deixada em mim com a primeira experiência no SESC Dramaturgias. Como o projeto
agora propõe o retorno do ministrante, depois de mais ou menos um mês, para um
novo encontro de 16h, a sensação da partida foi particularmente diferente de
todos os experimentos formativos que me propus realizar durante os últimos
vinte anos. Poder retornar, prontamente, para perceber ruídos, poder acompanhar
se efetivamente se verifica alguma contribuição significativa na formação do
participante, poder receber impressões presenciais dos problemas, me fez
transitar pelos 362km que separam Caxias de São Luís, com um singelo
contentamento substituindo a escamoteada angústia, pois sei que voltarei.
Aquele olhar de dúvida que
não percebi terá uma segunda chance. Aquela certeza de entendimento que se
esvai em uma prática mais aprofundada terá uma segunda chance. Aquela
confidência de incompreensão que foi calada terá uma segunda chance. Aquela atenção
que não dei, por descuido, terá uma segunda chance.
Claro que muitas vezes
retornei à mesma cidade depois de visitá-la com algum projeto artístico, e criei
laços profundos que se sustentam até hoje – inclusive em Caxias, onde
apresentamos os dois últimos espetáculos da Pequena Companhia de Teatro –, mas
em todos esses casos as motivações do retorno foram fortuitas, afetivas, desavisadas.
Aqui, não. O projeto tem o cuidado formal e a delicadeza de garantir esse
privilégio para oficinados e oficineiros, sem que eles tenham que contar com a
sorte de que esse oceano de desencontros se abra para que passe um novo
encontro.
Começou agora. Mas, a primeira
marca já está cravada na pele deste pelejador teatral, forjado a cada encontro,
a cada abraço, a cada papo, a cada troca, a cada partida, a cada retorno...
Agradeço ao SESC por essa singela marca. E para os vinte e quatro consortes que
participaram da oficina, e tanto discutiram sobre gêneros literários, perdoem o
excesso de lirismo que tomou conta desta narrativa. Nos vemos em breve!
6 comentários:
Grato em participar da oficina. Sempre via registros dela pelo facebook, e nunca imaginei participar dela um dia. Que venham mais supresas assim nessa vida!
Grato em participar da oficina. Sempre via registros dela pelo facebook, e nunca imaginei participar dela um dia. Que venham mais supresas assim nessa vida!
Bacana, Marcelo, eu vivi ano passado uma experiência de troca muito intensa e bacana em Cuiabá, também num atividade promovida pelo Sesc no âmbito da Aldeia Guaná. Abraço grande e boa jornada a você e sua trupe.
Avante desbravador! Instigante sempre suas palavras e registros!
Retorno a acompanhar tua aventuras! Que seja um rasgo cada encontro! Evoé!
Quantas visitas ilustres! Obrigado, Beth, Luciana, Flávia, Loquazes! De fato, a experiência tem sido enriquecedora! Já estou em Vitória/ES, e tudo caminha para que seja outra jornada proveitosa... Vão acompanhando, e somando-se às reflexões! Abraço!
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