Amanhã parto para Caxias/MA.
Fui convidado para participar do SESC Dramaturgias, um dos principais projetos
de pensamento e difusão das plurais dramaturgias pesquisadas atualmente. Visitarei
ainda neste primeiro semestre as cidades de Vitória/ES e Maceió/AL, com a
oficina Do narrativo ao dramático: a transposição de gêneros como instrumento de confecção de dramaturgia, metodologia criada pela Pequena Companhia de
Teatro para a produção de dramaturgia quando o conteúdo de dizeres para a
encenação teatral encontra-se disponível em um texto que não é do gênero
dramático, seja ele de qualquer outro gênero literário ou textual.
O projeto me é caro, pois,
ao expandir o conceito de dramaturgia, vai de encontro ao pensamento do Teatro Polidramático que a Pequena vem desenvolvendo há alguns anos, e que se sustenta
na ideia de que todo aquele organismo cênico que for capaz de construir uma
narrativa poderá ser instrumento de dramaturgia, seja ela basilar ou
estruturalmente auxiliar a uma dramaturgia principal.
O diferencial expressivo
deste projeto em relação a outros que a Pequena Companhia participou ou promoveu,
é se tratar de uma atividade formativa com carga horária extensa, de
32 horas/aula. Esse alargamento do tempo de troca retumbará significativamente
no aprofundamento de todo e qualquer conteúdo que os diferentes artistas
convidados do SESC Dramaturgias proponham, possibilitando uma colheita muito
mais pujante que a conseguida com atividades de menor carga horária. Ainda, o
participante que se propõe ao intercâmbio, tem a oportunidade de acentuar o
estudo e intensificar a prática metodológica da vez, confrontando experiências
anteriores e expandindo sua vivência.
Outra virtude é que o
projeto prevê dois encontros de 16h, com um intervalo de várias semanas entre
um e outro. Essa ideia me é singularmente provocativa, pois promove um tempo de
maturação do conteúdo e de prática real para o artista que participa da
oficina, oferecendo o tempo e a empiria necessária para os contraditos, as
ressalvas, as antíteses; colocando o facilitador frente a frente com possíveis
falências reveladas no encontro anterior – diferentemente de atividades de tiro único, quando o
participante fica sem a possibilidade de esclarecer dúvidas provocadas pela
tentativa de aplicar o conteúdo sem o acompanhamento necessário de que o
preconiza. O conceito exige robustez do oficineiro, sendo que é confrontado com
qualquer descaminho que suas proposições não tenham previsto, possibilitando a
permanente revisão, tão necessária para a plena consolidação de qualquer
postulação.
O SESC Dramaturgias foca
investigação em escrita dramatúrgica, dramaturgia do ator, da dança, do circo,
da iluminação, afora leituras em cena; e o convite que me foi feito concentrará
seu conteúdo na escrita dramatúrgica através da transposição de gêneros
literários, experiência que alguns leitores deste blog já vivenciaram em
diferentes momentos do nosso calendário de atividades formativas. O que
diferirá de experiências anteriores – além do tempo que oportunizará um
aprofundamento muito mais significativo – é que somo à atividade a
provocação/problematização que tenho feito em palestras e convites para
conversas e mesas redondas, assentada na postagem recente que fiz aqui, sobre o
excesso de narrativização do teatro contemporâneo.
Como primeiro maranhense a
participar do projeto como facilitador, em todos esses anos de SESC
Dramaturgias, entendo que o diálogo fortalecerá a capilarização de uma série de
escritas cênicas que estão sendo desenvolvidas no Maranhão, e que, por
periféricas geograficamente, não conseguem transpor as barreiras impostas pelas
regiões detentoras da agenda cultural do país – repare você, arguciosa leitora,
astuto leitor, que falo apenas de agenda cultural, pois, a cultura brasileira é
tão plural e rica que não admite centros. Mais uma vez o SESC assume um papel
capital em favor da descentralização do pensamento, da democratização dos
múltiplos fazeres, do intercâmbio nacional e do abrandamento dos eixos
hegemônicos.
Claro que o que aqui escrevo
são meras impressões do porvir, porque amanhã apenas inicio minha jornada de
encontros, aprendizados, desafios, provocações, registros, conversas, trocas,
revezes, discussões e estudos. A única certeza é que você poderá acompanhar o
desenvolvimento da empreitada no mesmo endereço de sempre – um blog que acumula
541 textos, 1.309 comentários e 7 anos de extensa inutilidade.
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