O mundo está ficando chato. Não fume,
não beba, não goze antes. Não jogue lixo no chão, não jogue lixo no lixo
errado, não reutilize o lixo se não for cadastrado, não produza lixo – e o que
eu faço com a minha casca de banana? Às vezes me dá aquela vontadezinha de jogá-la
no contrapé do transeunte para poder sorrir com a queda, mas não posso admitir
esse desejo nem no mais profundo pensamento, sob pena de tornar-me o verme mais
desprezível da terra.
O politicamente correto está ficando
reto demais. Quadrado demais. Fechado demais. Político demais. Sou obrigado a
acreditar que minha casca de banana vai destruir o mundo; e eu acredito, e eu
apanho a casca, e eu a jogo no lixo, e eu ajudo o infeliz a levantar depois da
queda, e eu xingo com ele o infeliz que jogou a casca, e eu padeço, imóvel,
diante de tanta perfeição.
Clandestinidade, rebelde, transgressão,
mentiroso, mau humor, subversivo, invejoso, gordo, raiva, são palavras
proibidas, renegadas, extirpadas do dicionário cortês; e eu acho todas elas
dignas, mas não posso achar.... é feio. Ninguém mais no mundo sente raiva a não
ser eu? Sou o único mentiroso da terra? Todas as pessoas do planeta acordam com
um sorriso no rosto? Você nunca sente inveja sem ter que dar uma coloração
esbranquiçada para ela?
Pobre do belo se não existisse o feio,
pobre do reto se não existisse o torto, pobre do simpático se não existisse o
chato, pobre do feliz se não existisse o amargo, pobre do certo se não
existisse o errado. O convite é para errar mais. Provar da imperfeição de que
somos feitos, lidar com nossos defeitos, tolerar os dos outros, e imaginar quão
chata se tornará a vida se todos forem perfeitos como você.
Erre mais, sofra mais, coma mais,
desobedeça mais. Seja incompetente, preguiçoso, irresponsável, asno, vagabundo,
cachaceiro. Arrisque-se para além da plataforma de correção que a
contemporaneidade nos impõe e conheça o desespero provocado pelo abismo. Voe
para além das placas de “Não perturbe”, “Não mexa”, “Não avance”, “Não fume”,
“Pare”; se perceba errando para poder consertar. O erro pode ser o seu maior
patrimônio.
Deixe a perfeição para seu pai, seu
marido, seu vizinho, seu amigo, eles são mestres nisso. Concentre-se no lodaçal
que o erro tem para lhe oferecer e se lambuze nele. A sociedade precisa de você
enterrado na lama para poder apontar seus indicadores e atingir a redenção a
partir da recriminação dos seus vícios, seus gestos, seus pensamentos, seus
desejos, seus anseios, seus temores.
Na sociedade do corpo perfeito, das
virtudes virtuais, da opinião polida, da verdade absoluta, deixe-se engordar um
pouquinho para que a culpa nossa de toda segunda-feira venha lhe salvar.
Resolva mudar, para pior. Se o melhor for o pasteurizado, o padronizado, o modelado,
o moderado, piore um pouco a cada dia para melhorar a nossa reta realidade.
E o principal: não façam nem o que eu
digo nem o que eu faço, pois sou uma ficção.
8 comentários:
Já fingi que não li, rs. Bjo
(Risos) seu fingido!
É o que mesmo, tudo isso?
Um grito de desordem. Um convite ao caos.
Então vamos! Quero me lambuzar! Chega de ser certinha... Valha endoidei! Marcelo e suas lições, simplesmente amo! Kkkkkkkkkkkkkkk
Arriscar? Estou arriscando mais... Não sei mais viver sem riscos, tentar, tentar outra vez... Estou feliz! E você é culpado por meus dias melhores.... Sua discípula.... Sempre!
Luciana!! Você é minha heroína! Se eu me jogar eu sei que você me salva!! Saudades!!
vamos deixar de blá,blá blá... comecemos o ensaio. ação!
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