sábado, 2 de outubro de 2010

Teatro na tela

Lembram do meu comentário – recorrente em postagens recentes – de não ter visto ultimamente nenhum espetáculo que me encantasse? (Peço que entendam a ironia da pergunta, já que, para “lembrarem”, alguém tem que “ter lido” e, nesse caso, mudo a pessoa do verbo e ressuscito o leitor de Canterville: é para ele que escrevo.) Pois vi. Dos à Deux, da companhia homônima de Andre Curti e Artur Ribeiro. Eles se dedicam a construir um espetáculo inspiração em Esperando Godot, através do teatro gestual, utilizando apenas duas palavras: “povrável” e provável. Magnífico. O mais curioso é que – assim como havia acontecido com o Vau da Sarapalha nos idos anos noventa – vi o espetáculo em vídeo, pelo SESCTV, o que me leva ao assunto desta postagem.

Sempre fui reticente ao registro em vídeo de espetáculos teatrais. Inicialmente acho que o teatro – muito além do seu discurso – é uma experiência física, energética e sensorial preparada para aqueles que se predispuseram a comparecer. A atmosfera é intransponível. O efeito presencial é insubstituível. Nada pode se comparar à sensação de estar em uma plateia de teatro – talvez um estádio de futebol. Mas se Dos à Deux não houvesse sido filmado eu jamais o assistiria, tendo em vista que a companhia está radicada em Paris desde sua origem. Jamais talvez seja exagero, mas, enfim.

Outra argumentação, que me tornava avesso ao registro, era quanto à perda da qualidade do espetáculo filmado e como ela reduzia as consequências artísticas da proposta. Então me pergunto: e neste caso? Respondo: talvez a qualidade artística de uma proposta, quando esta se torna verdadeiramente uma obra de arte, seja incorruptível. Se a obra é “maravilhosa”, o vídeo, no mínimo, pode torná-la “muito boa”, e, nesse caso, o lucro ainda é do espectador.

Não digo com isso que mudei de ideia. Digo apenas que sou um ser vivo, e, como tal, estou em declinante transformação: pele arrugando, cabelos embranquecendo e uma que outra ideia insistindo em se apresentar para revisão.

Um comentário:

XICO CRUZ disse...

Acho também Marcelo que nos tempos de hoje, temos da tecnologia avançada é importante o teatro ir se restruturando cada vez mais em ternos tecnologicos, hoje a galera que vai teatro usa ipode, ifone, mp o cacete e por aí vai... Ver teatro no video é o mínino que pode acontecer nessas épocas robóticas.