Na última quinta-feira encerramos o 1º
encontro do SESC Dramaturgias, em Maceió/AL, depois de ter passado por
Caxias/MA e Vitória/ES. Foram 16h de atividade em cada uma das cidades,
instrumentalizando o participante para a produção de escrita dramatúrgica, a
partir da profunda análise de gêneros literários, do mergulho nas
características do gênero dramático, da democratização do processo de
transposição de gêneros da Pequena Companhia de Teatro, e da problematização
sobre a preponderância da narrativização no teatro contemporâneo.
Coincidentemente, já havia
passado com espetáculos e oficinas nas três cidades que visitei; isso me
proporcionou o confronto das realidades, produções e problemas, em um
intervalo aproximado de cinco anos, com exceção de Caxias, que visitei com
maior frequência. É difícil não observar que, pese aos esforços pontuais de
iniciativas que resistem, os problemas perduram, e meia década depois, assim
como a realidade ludovicense, não posso afirmar que houve avanços
significativos entre o que havia e o que hoje está posto. Nas discussões que
perpassaram todas as horas de atividade, foram recorrentes as queixas quanto à
minguada produção teatral, a desestruturação de políticas públicas culturais, a
dificuldade de conseguir financiamento artístico, a carência de oferta de
atividades formativas, e a recorrência de se enxergar o SESC como um ator
importante mas não suficiente para sanar as demandas emergenciais de uma classe
teatral que tende a definhar ainda mais com a nova ordem estabelecida
nacionalmente no que se refere a arte: o desmonte.
Ainda assim, foi
gratificante perceber que os que ali estavam para dialogar, cerca de cinquenta
dedicados interlocutores, conservavam a força oriunda da resistência cultural –
condição presente no DNA de qualquer artista que seja forjado em um país que
desconsidera, permanentemente, o poder de transformação sociopolítica da
cultura. Esses queridos companheiros de jornada dramatúrgica mantiveram acesa
a chama do diálogo, e provocaram seus conhecimentos, ao permitir-se horas de intenso
estudo, sem negligenciar o necessário estado de atenção frente ao mundo que nos
cerca.
Após esse nosso primeiro
momento, onde foram facilitadas as informações e técnicas necessárias para o
avanço da atividade, todos os participantes encontram-se agora no processo de
escritura de uma peça teatral a partir de uma obra de outro gênero literário; e
a oficina pretende que, ao fim, todos os participantes tenham desenvolvido um
texto de curta, média ou longa extensão. No decorrer dessa produção, vou
acompanhando virtualmente o desenvolvimento de cada um dos projetos
dramatúrgicos, verificando os caminhos e os descaminhos que se apresentarem
durante a trajetória. Isso continuará até o nosso próximo encontro, pois, como
versei aqui, o SESC Dramaturgias prevê o retorno do oficineiro à cidade
visitada. Sendo assim, outras 16h, nos três municípios, pretendem possibilitar
a prática com a presença do facilitador, onde acompanharei a feitura e finalização
de cada um dos textos, dirimindo ruídos que tenham
perdurando durante o primeiro encontro.
O projeto terá sequência
nesta segunda-feira, quando parto para Caxias/MA, primeira cidade que visitei
com a oficina de escrita dramatúrgica. Com a metade que me cabe do SESC
Dramaturgias concluído, posso dizer que toda ação de cunho formativo tem
marcante repercussão na comunidade artística onde é realizada, pois aciona
dizeres e desejos muitas vezes escondidos em lugares recônditos da alma humana,
e que, quando provocados, se apresentam com a potência, prontidão e espanto
matriciais para a criação artística. Tomara que tudo seja, permaneça, aconteça,
recomece, resista...
4 comentários:
Somos seus consortes! Adorei essa palavra.
Espero estar com sorte, e vocês tenham trabalhado bastante!
Resistir e produzir podem ser palavras sinônimas nesse contexto.
Exato! A produção é o nosso principal caminho de resistência!
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