Semana passada acompanhei um dia e meio
de programação do festival “O Mundo Inteiro é um Palco”, promovido pelo estimado
grupo Clowns de Shakespeare.
A oficina “Estratégias para a circulação
nacional”, ministrada pelo querido Marcelo Bones, a cena curta inspirada no meu
texto “Distorções de um dia interminável”, encenada pelo delicioso Grupo
Estação de Teatro, o espetáculo “Desaparecidos”, do Grupo Estandarte de Teatro,
a reunião do “Grupo de pensamento teatral”, recepcionada pelo prófugo amigo
Fernando Yamamoto e capitaneada pelo próprio Bones – reunindo significativos
nomes do teatro de grupos do Brasil, e uma profunda e fecunda conversa sobre
dramaturgia, com meu fiel assassino César Ferrairo. Uma overdose de conteúdo, em dezesseis horas
de permanência em Natal/RN, promovida pelo encontro.
Há anos defendo o encontro. Uso a minha
casa como instrumento de encontro. Abrimos nossa sede para propiciar o
encontro. Lavo, passo e cozinho para promover um encontro. Só entendo a vida e
a arte através das verdades confessas no encontro. Contudo, mesmo sabendo da
importância do encontro, percebo que achamo-nos desencontrados.
Com a ilusão do encontro virtual a
contemporaneidade opera uma proeza nefasta, e não percebemos que estamos
passando anos sem ver um amigo. A intimidade gerada virtualmente ilude nosso
sentido de afastamento, e nos imaginamos juntos, porém, separados. Ao me apropriar
da rotina oferecida pelo outro através das redes sociais – sabendo o que comeu,
o que vestiu, o que deixou de ler, o que não assistiu –, me entendo encontrado,
sem saber que aquele prato que ele ostenta pode ser o pedido de socorro para a
fome que passa.
Por que, no século do individualismo,
defendo o encontro? Porque o teatro se fundamenta nele, e ceifada a importância
do encontro entre humanos, o que será da minha arte? Do nosso teatro? Da sua
plateia? Advogo em causa própria. Foi o contubérnio com gente de teatro que me
fez ser teatreiro. Encontro. Ele anarquiza e vence o sono, a fome, o frio, a
sede.... Quantas noites sem dormir por causa de grandes encontros? Quanto frio
amenizado pelo abraço do encontro?
O teatro é a arte do encontro, e a
primeira barreia que ele sofre hoje é convencer o espectador a participar desse
encontro. Sem sair de casa, o indivíduo não precisa encontrar com ninguém para assistir
um filme, comer uma pizza, comprar um quadro, ler um livro, jogar golfe com
outro indivíduo que mora em Paris, mas, precisa tirar a bunda do sofá para ver
teatro. Precisa.
O encontro que o teatro promove é único,
autêntico, inusitado e visceral. Uma experiência cada vez mais pertinente, e paradoxalmente
distante, na vida contemporânea. Se o indivíduo desse o primeiro passo além da
fronteira do sofá, se depararia com um universo presencial tão pujante que jamais
tornaria a abandonar as sensações propiciadas por um espetáculo de teatro.
Acredito nisso, verdadeiramente.
Segunda começa a X Semana do Teatro no
Maranhão. Um bom motivo para largar o controle remoto e vir se encontrar com esse
povo que faz teatro. No nosso caso, em duas oportunidades: “Velhos caem do céu
como canivetes”, terça, 18h30, e quarta, 20h30, na sede da Pequena Companhia de
Teatro. A gente se encontra.
2 comentários:
Assisti ao ultimo espetáculo de vocês. Muito bom! Creio que a causa da falta de encontros, como sempre, é mais complexa que a "ilusão do encontro virtual". O que ocorre na internet não é causa, é efeito. As pessoas, em grande parte, não desejam encontros. Ou se desejam, preferem aqueles em que seja mais fácil se livrar do outro.
(Gargalhadas) Boa, Lindevania! Apareça mais!
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