domingo, 8 de novembro de 2015

O mundo é o palco do encontro


Semana passada acompanhei um dia e meio de programação do festival “O Mundo Inteiro é um Palco”, promovido pelo estimado grupo Clowns de Shakespeare.

A oficina “Estratégias para a circulação nacional”, ministrada pelo querido Marcelo Bones, a cena curta inspirada no meu texto “Distorções de um dia interminável”, encenada pelo delicioso Grupo Estação de Teatro, o espetáculo “Desaparecidos”, do Grupo Estandarte de Teatro, a reunião do “Grupo de pensamento teatral”, recepcionada pelo prófugo amigo Fernando Yamamoto e capitaneada pelo próprio Bones – reunindo significativos nomes do teatro de grupos do Brasil, e uma profunda e fecunda conversa sobre dramaturgia, com meu fiel assassino César Ferrairo.  Uma overdose de conteúdo, em dezesseis horas de permanência em Natal/RN, promovida pelo encontro.

Há anos defendo o encontro. Uso a minha casa como instrumento de encontro. Abrimos nossa sede para propiciar o encontro. Lavo, passo e cozinho para promover um encontro. Só entendo a vida e a arte através das verdades confessas no encontro. Contudo, mesmo sabendo da importância do encontro, percebo que achamo-nos desencontrados.

Com a ilusão do encontro virtual a contemporaneidade opera uma proeza nefasta, e não percebemos que estamos passando anos sem ver um amigo. A intimidade gerada virtualmente ilude nosso sentido de afastamento, e nos imaginamos juntos, porém, separados. Ao me apropriar da rotina oferecida pelo outro através das redes sociais – sabendo o que comeu, o que vestiu, o que deixou de ler, o que não assistiu –, me entendo encontrado, sem saber que aquele prato que ele ostenta pode ser o pedido de socorro para a fome que passa.

Por que, no século do individualismo, defendo o encontro? Porque o teatro se fundamenta nele, e ceifada a importância do encontro entre humanos, o que será da minha arte? Do nosso teatro? Da sua plateia? Advogo em causa própria. Foi o contubérnio com gente de teatro que me fez ser teatreiro. Encontro. Ele anarquiza e vence o sono, a fome, o frio, a sede.... Quantas noites sem dormir por causa de grandes encontros? Quanto frio amenizado pelo abraço do encontro?

O teatro é a arte do encontro, e a primeira barreia que ele sofre hoje é convencer o espectador a participar desse encontro. Sem sair de casa, o indivíduo não precisa encontrar com ninguém para assistir um filme, comer uma pizza, comprar um quadro, ler um livro, jogar golfe com outro indivíduo que mora em Paris, mas, precisa tirar a bunda do sofá para ver teatro. Precisa.

O encontro que o teatro promove é único, autêntico, inusitado e visceral. Uma experiência cada vez mais pertinente, e paradoxalmente distante, na vida contemporânea. Se o indivíduo desse o primeiro passo além da fronteira do sofá, se depararia com um universo presencial tão pujante que jamais tornaria a abandonar as sensações propiciadas por um espetáculo de teatro. Acredito nisso, verdadeiramente.

Segunda começa a X Semana do Teatro no Maranhão. Um bom motivo para largar o controle remoto e vir se encontrar com esse povo que faz teatro. No nosso caso, em duas oportunidades: “Velhos caem do céu como canivetes”, terça, 18h30, e quarta, 20h30, na sede da Pequena Companhia de Teatro. A gente se encontra.

2 comentários:

Anônimo disse...

Assisti ao ultimo espetáculo de vocês. Muito bom! Creio que a causa da falta de encontros, como sempre, é mais complexa que a "ilusão do encontro virtual". O que ocorre na internet não é causa, é efeito. As pessoas, em grande parte, não desejam encontros. Ou se desejam, preferem aqueles em que seja mais fácil se livrar do outro.

Marcelo Flecha disse...

(Gargalhadas) Boa, Lindevania! Apareça mais!