Um provérbio africano atribuído a Eduardo
Galeano, ou vice-versa – não tenho fonte segura que garanta a origem da
sentença –, sintetiza o pensamento da Pequena Companhia de Teatro desde sua
fundação: Mucha gente pequeña, em lugares
pequeños, haciendo cosas pequeñas, pueden cambiar el mundo. É nisso que acreditamos. É nisso que
acredito. Nunca imaginei, esperei, pretendi ou sonhei que nossas ações
encontrassem eco e reverberação imediata, muito menos que contribuíssem para
qualquer tipo de transformação em curto prazo. Sou um homem que sempre investiu
no longo prazo, mesmo sem deixar filhos biológicos para herdar qualquer tipo de
transformação defendida por mim. O sonho de construir um mundo melhor nunca se
relacionou com o melhor futuro para os meus; sempre pensei nos meus, nos teus,
nos nossos, e sempre acreditei que a vida com teatro seria melhor para todos. Melhor
no sentido existencial, não no sentido midiático da felicidade a qualquer
preço, do desespero do ter, da exposição do ser, da aparência do estar, da
salvação do crer; seria melhor porque o teatro confunde as certezas, acachapa a
soberba, refuta o conformismo, sabota a impaciência. Numa sociedade atrofiada
pela celebração da frivolidade, o teatro é a pequena pedra no sapato, que faz
manquejar o dono do andar mais elegante, porém, nunca estará entre as
estatísticas das atividades que influenciam o mundo, nem será capa, chamada,
destaque, assunto. A influência do teatro é uma questão antropológica: você não
a percebe, não a celebra, ela está. O que aqui escrevo não é uma declaração de
princípios, é apenas a aclaração do por que a pequenez defendida pelo provérbio
me é tão cara. São as pequenas coisas que movimentam meu entusiasmo teatral: a
peculiar atmosfera da sala, o olhar virginal do espectador, as batidas de
Molière, a rudeza do encontro cara a cara e a consumação da arte sem edição.
Pequenas e intensas coisas. A imensidão dos grandes projetos quase sempre
naufraga na própria pretensão. O teatro é uma dessas pequenas coisas que podem
mudar o mundo, fazê-lo refletir e refleti-lo para que se veja. As ações
pequenas comem pelas beiradas, sabendo que não se atinge o centro sem passar
pela periferia. Eu falo por mim, a Pequena Companhia de Teatro fala através das
suas ações e, claro, através do próprio nome: Pequena. Foi pensando nisso que Katia,
Jorge e eu a denominamos em uma tarde à beira-mar. Depois de passados dez anos,
não consigo encontrar nome mais acertado para a nossa empreitada.
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7 comentários:
É o raciocínio que tenho como professora de teatro, Marcelo. O raciocínio que Paulo Freire e Peter Brook também sustentam. Sei que soa romântico as vezes, soa utópico e até ingênuo... Mas eu ainda prefiro acreditar que as mudanças que realmente geram uma transformação efetiva, residem nas miudezas. Vida longa à Pequena, que a seu modo, é grande. Abraço da tiradora de onda, que não brincou, pq hoje o assunto foi sério. Hahaha :*
O mundo anda muito megalômano, Rute, e eu, sem paciência para esse mundo. Seus comentários, independentemente do tom, amenizam minha ranhetice. Abraço!
não vou comentar, xau
não vou comentar, xau
Para não comentar, comentou duas vezes, André.
"...Sou um homem que sempre investiu no longo prazo, mesmo sem deixar filhos biológicos para herdar qualquer tipo de transformação defendida por mim. O sonho de construir um mundo melhor nunca se relacionou com o melhor futuro para os meus; sempre pensei nos meus, nos teus, nos nossos, e sempre acreditei que a vida com teatro seria melhor para todos. Melhor no sentido existencial, não no sentido midiático da felicidade a qualquer preço, do desespero do ter, da exposição do ser, da aparência do estar, da salvação do crer; seria melhor porque o teatro confunde as certezas, acachapa a soberba, refuta o conformismo, sabota a impaciência. Numa sociedade atrofiada pela celebração da frivolidade, o teatro é a pequena pedra no sapato, que faz manquejar o dono do andar mais elegante, porém, nunca estará entre as estatísticas das atividades que influenciam o mundo, nem será capa, chamada, destaque, assunto. A influência do teatro é uma questão antropológica: você não a percebe, não a celebra, ela está...."
estou transcrevendo pois o pensamento da pequena é a pura essência do fazer teatral.Concordo com em numero,gênero e grau dos meus, dos nossos,dos teus e que o teatro é,foi e será sempre o meio de transformação do meio onde vivemos.Nunca será citado como formas,métodos...etc.Ele faz,transforma e dita as normas sem ferir algo ou alguém.Essa é a nossa forma de mudanças.Beijosssss.Te amo.Vamos nos encontrar em breve.
Saudades, Tony! Não vejo a hora!
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