Essa situação, mais anedótica que incômoda,
se ramifica com feroz alcance, ao ponto de constranger amigas docentes que,
egressas do curso de Licenciatura em Teatro da UFMA, se depararam com a
inocente sentença provinda de parentes e amigos: agora você já pode ir pra
Globo, né?
A confusão formada, produto da
visibilidade a qualquer preço, faz com que Renato Gaúcho e Dalton Trevisan se
encontrem no mesmo balaio, correndo o risco de atribuírem-lhe maior fortuna
crítica ao primeiro por ser possuidor de uma exposição mais acentuada. O que
difere um do outro é que o vampiro de Curitiba não toma conhecimento disso, e o
ex-atleta usa o conhecimento disso para forçar o seu reconhecimento. Sutil
diferença.
Cabe à classe artística fazer um
exercício para que o fenômeno da celebrização do artista não prospere, fazendo
com que a arte volte aos holofotes e os artistas voltem para seus estúdios e
estudos, deixando claro que o ganha pão da celebridade é a exposição e o ganha
pão do artista é a sua obra.
Claro que, em alguns casos, a superexposição
é inevitável e alguns grandes artistas provaram em vida essa notoriedade, mas,
outros, submersos nas entranhas das suas elucubrações, morreram esquecidos porque
sua genialidade estava acima da compreensão dos seus contemporâneos – não digo
que estes últimos, também, não desejassem reconhecimento, mas asseguro que
pouco se importariam com a fama.
Foi exatamente a confusão entre fama e
reconhecimento que fez surgir essa recente corrida desenfreada para a luz, que
turva o olhar do cidadão fazendo-o misturar a fama de quem emplacou um vídeo tosco
dançando na internet com o reconhecimento de um grande bailarino.
Um artista pode ser reconhecido e
respeitado em todo o país e não necessariamente dar cabida a essa famosidade
predatória de paparazzi, gourmetizações,
casamentos, e milhões. A bem da verdade, o conceito de fama eufórica vem mais
assustando que cooptando os operários da arte que buscam, nas suas linguagens,
a revisão do seu papel na antropologia cultural, apesar de falharem no momento
de democratizar seus conteúdos, mantendo o povo distante da possibilidade de
compreensão das diferentes realidades artísticas e seu lugar nas páginas da
história.
Como consequência, o público ao que me
refiro neste escrito, entende por fama o ápice da carreira – mesmo que tenha
sido adquirida matando os pais, esquartejando a namorada ou alimentando seu cãozinho
com foie gras – sem entender que o
reconhecimento se dá através da valoração atribuída à trajetória de um agente
que contribuiu de alguma maneira para a transformação do seu entorno.
Um grande passo seria dado se
conseguíssemos, ao menos, fazer com que a Dona Antônia da padaria entendesse
que uma Licenciada em Teatro quer ser uma ótima professora e não a mais nova célebre
desconhecida da semana.
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