A Pequena Companhia de Teatro está
perto de completar dez anos de existência – eu existo, teatralmente, há quase
trinta. Estamos em exercício artístico permanente desde a sua fundação. Durante
essa década não recebemos nenhum tipo de apoio, patrocínio, olhar, aceno ou o
que quer que seja oriundo de políticas públicas culturais do governo estadual.
Por isso, penso que é o estado que tem que me provar que alguma coisa mudou.
Nosso esforço continua se focando na tentativa de conseguir mecanismos para
produzir cultura e democratizá-la para o maior número de pessoas possível.
Acredito que esse seja um posicionamento político importante. O meu silêncio em
relação às movimentações reivindicatórias teatrais recentes está assentado
nesses fatos. Vejo com carinho o movimento, e acho a ação de um valor
inestimável, só não me vejo em condições de auxiliar de alguma maneira, tendo
em vista que meus apelos vêm sendo ignorados há quase trinta anos, desde o
movimento teatral do interior, no final dos anos oitenta. Entendam que se em
momentos uso a primeira pessoa do singular, é porque o que aqui manifesto não
representa a voz da Pequena Companhia de Teatro, e sim, minha opinião. Lembro
com ternura, no início da década de noventa, um dos tantos encontros – esse
ocorreu em uma mesa de bar com o então secretário de cultura do estado –, onde
nosso mais arrojado projeto e desejo era que uma vez por semestre pelo menos um
espetáculo da cidade de Balsas pudesse visitar Imperatriz e vice-versa – na
época, os dois municípios do interior com um polo cultural mais organizado. Nem
preciso relatar o resultado concreto desse encontro, mas posso contar que a
“circulação” aconteceu, independentemente da presença do poder público. Como se
pode imaginar, isso cansa, mas, fazer teatro, não. É o que continuo fazendo. Se
em algum momento alguém conseguir provar que o poder da minha voz tem alguma
serventia, voltarei aos berros como o mais entusiasmado manifestante. Contudo,
certo da minha invisibilidade, permaneço fazendo teatro. Claro que os amigos
mais próximos, e alguns generosos admiradores, vão ressaltar a nossa valia e
blá-blá-blá, mas, acreditem, sei do que estou falando: somos invisíveis. Alguns
companheiros, envelhecidos como eu, podem sentir e saber do que estou falando,
mas, a grande maioria lerá este posicionamento como acomodação, estagnação,
enfado. Minha resposta continua sendo a mesma, eu me mantenho,
ininterruptamente, fazendo teatro. Isso é um posicionamento político. E, sim,
estou velho. Cansado de me ocupar com tudo o que não se refere à prática
artístico-teatral, inclusive reivindicar o óbvio. Contudo, não vi, recentemente
no Maranhão, discurso político mais explícito que o espetáculo “Velhos caem do
céu como canivetes”. Para quem acha que não serve de nada, sugiro aguardar os
próximos cinquenta anos, pois, não se pode pretender que as coisas mudem com um
aceno. Acredito que, se nesses trinta anos, eu tivesse feito muito mais teatro
do que fiz, e democratizado esse fazer para um número muito maior de pessoas,
quem estaria reivindicando por ele seria o povo e não a classe. Agora, caros
leitores, é apenas minha opinião e não creio convencer ninguém. Portanto, não
me exijam a participação em polêmicas virtuais porque, também, estou velho para
isso. Para aprofundamento dialético recebo interlocutores em domicílio, sempre regado
a um bom vinho. Posso ser invisível, todavia, sou de carne e osso.
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7 comentários:
O meu único desejo é que um leitor futurista, ao visitar o sítio arqueológico da Pequena, não se depare com essa texto e diga "olhem, companheiros, esse texto escrito há tantos anos continua atualíssimo! vejam como ele diz que somos invisíveis e continuamos..."
É meu único desejo. E sei que é querer demais.
A esperança é a última que morre, contudo, querida Rute, a esperança é inversamente proporcional à idade. Portanto, você tem mais esperança do que eu.
Prezado Marcelo.
Aguarde-me para breve para tomar esse vinho e descomemorar a política publica de cultura do Piauí e do Maranhão.
Caríssimo Pellé! Com você é o único momento que descomemorar vale a pena! Te aguardo!
Posso ir para dormir no sofá. É o que melhor faço na casa alheia. Um abraço. Dou um pulo aí essa semana ainda. Bjo
Invisível é o vento, mas ele agita as coisas. Sigam firmes e fortes agitando o marasmo, arejando o nosso ambiente artístico. :)
Obrigado, Sandro!
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