A sede da Pequena Companhia de Teatro
é um bem privado de usufruto público. Como tal, apresenta ações concretas para
a construção de uma política cultural pública que deveria ser responsabilidade
do estado. Em 2014, por aqui passaram mais de mil pessoas, entre espectadores,
visitantes e participantes de oficinas teatrais e literárias, debates, aula-espetáculo,
seminário, reuniões, jantares; todas atividades de acesso gratuito. Para a
manutenção dessas ações, que se estendeu durante todo o ano, o poder público
investiu menos de três mil reais – valor oriundo da esfera federal. Sabemos que
se o espaço fosse um bem público, o valor gasto para a manutenção das mesmas
atividades seria estratosférico. O aporte previsto para manter as mesmas
atividades em 2015 é de zero real, ainda assim, elas acontecerão, com maior ou
menor frequência, dependendo do desejo do interlocutor – espectador atento ou
discente ávido. A omissão do estado na construção de politicas públicas
eficientes onera o cidadão, que acaba exercendo uma função que deveria ser
exclusividade do poder público. Dou um exemplo: nosso eixo curatorial, guiado
pela própria produção artística da companhia, oferece um recorte do fazer
teatral ancorado na pesquisa. Além de companhias locais que dialoguem com esse
recorte, em 2015 provavelmente passarão por aqui o Coletivo Alfenim, A Cia. A
Mascara de Teatro, O Grupo Magiluth, a Cia Tabu, etc. Se você quiser fruir
desse recorte, você sabe onde encontrar. Ao oferecer um espaço e um calendário
para uma forma específica de fazer teatral, a Pequena Companhia de Teatro está
criticando a falta de uma política cultural pública eficiente e colaborando
para a formação do cidadão capaz de reivindicá-la. Todas as nossas ações são
políticas. Oferecer formação é uma forma de revolucionar; o discurso teatral é
uma forma de protesto; democratizar o acesso a um bem cultural é uma forma de
reivindicação; viver de teatro é uma forma de se posicionar politicamente – você
não lembra, mas já tratei disso aqui. O
curioso é que a ausência do estado – falo agora das esferas municipal e
estadual – não se dá pela falta de apoio, e sim, no total desconhecimento da
existência dessas ações. Os governos municipal e estadual não fazem a menor
ideia do que seja uma pequena companhia de teatro. Nunca souberam. Por isso
creio que alguns gritos são mudos. Já que somos invisíveis, nossa reivindicação
se dá através da ação; fazendo, ininterruptamente, aos trancos e barrancos, como
nos últimos dez anos. Quem sabe, um dia, o poder enxergue, e faça seu trabalho,
educando. A educação é a única forma de outorgar o poder ao povo.
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4 comentários:
Acabo de ler. Somos o que somos! Sigamos em frente. A luta é arda e nunca acaba.
Nosso lema é persistencia!
Que nossa fé nunca acabe!
Vida Longa a Pequena Cia. !!!
Pequena Companhia, totalmente de acordo. A fome é grande em todos os lugares, mas quando o povo do teatro em São Paulo reclama muito (e certamente com razão ) digo que é preciso olhar além do umbigo. Não para 'nivelar por baixo' (a resposta pronta), mas para termos ideia dos contrastes. São Paulo tem Lei do fomento, Lei Zé Renato, tem uns tantos Proacs, prêmios e até alguns incentivos privados. É claro que a demanda também é gigante, mas posto na ponta do lápis não deixa de ser uma situação bem mais confortável se comparada ao resto do país. E mesmo assim é pouco. Porque como vocês dizem, é preciso tratar todas as esferas úteis do bem público como coisas de interesse público, inclusive a arte, que como sabemos tem a sua própria forma de ser útil, mesmo quando aparentemente inútil. O fato é que ainda hoje quem abocanha os recursos públicos são os produtores privados que trabalham quase que exclusivamente para o benefício privado, para o usufruto de classe da criação artística. A Lei Rouanet tende muito a isso (não é só isso, claro, mas tende a isso). E para os Governos locais fomento à arte e à cultura é supérfluo. Porque o caos é grande, a ignorância é tamanha e a insensibilidade idem. Alimento para o espírito é Igreja evangélica. Ainda mais nessa linha, de um alimento que aqui e ali pode gerar revolta. Inflar a alma do povo pra quê?
É preciso ir junto, Pequena companhia, encontrar sobretudo outros parceiros 'invisíveis' pra mostrar a invisibilidade, a inexistência das gestões locais no capítulo do fomento aos bens simbólicos, que - eles não sabem ou não querem saber - também são essenciais à vida, assim como escola e hospital. Tem um exercício de convencimento api como tarefa. Dos governos e quem sabe dos próprios artistas (auto convencimento de que realmente se trata de algo indispensável). E nesse caso olhar também para dentro de casa e se perguntar, como quem idealiza: o que significa uma arte pública (no sentido de subvencionada pelo dinheiro público)? Como não ficar refém da ideia de uma arte 'oficial'? Como manter independência estética e política diante disso? Bom, mas creio que pra vocês, como pra incontáveis grupos incríveis Brasil afora, as respostas já estão dadas antes que a pergunta, pelas condições óbvias do problema, tenha sido feita.
Sorte e boa luta.
Kil Abreu.
Rute disse: "E as vezes essa postura de formação, e de acesso franco ao teatro (não só no sentido do ingresso) é uma posição bem mais política do que os ecos de quem vai pra rua (e nao falo só do teatro). Por um lado, é revoltante que os grupos precisem fazer, à duras penas, o que deveria ser feito pelo poder público. Mas por outro lado, é a deixa pra um diálogo que eu (que sou sonhadora) acredito que pode mudar esse cenário."
Acho que o povo vai ter que, da platéia, a cada espetáculo, ir tomando o poder à força.
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