Em Buenos Aires, na década de noventa,
tive a oportunidade de conhecer o bar El Chino. Local emblemático, onde se ouvia tango cantado ao vivo e sem amplificação
por cantores que frequentavam o bar. Lugar genuíno, não havia sido preparado
para o turismo, não pretendia ser cult, contudo, possuía uma atmosfera mágica,
com dezenas de quadros superpostos e empoeirados, que faziam da visita uma
experiência única. Com direito a cachorro debaixo da mesa e tango dançado em cima do balcão depois de recolhidos os quitutes, foi uma das mais
significativas experiências que tive na vida. Com a morte do proprietário – el chino – o espaço desapareceu e, na
década passada, foi reaberto por um amigo, já sem a mística e com o aparato
preparado para ser consumido por gringos. Quem viveu, viveu, quem não viveu,
não viverá.
Assim é a vida, assim é o teatro.
Efêmeros. Essa impalpabilidade é angustiante e provocadora. Fazer teatro é se
oferecer à passagem do tempo e ao esquecimento. Hoje está amanhã não mais.
Construir uma obra significativa poderá, no máximo, provocar alguns relatos, ficar
no imaginário por um tempo ou servir como objeto de pesquisa, porém, essa
trajetória, nunca será fixada na matéria, na concretude da pedra – lembrando
que não considero o registro de teatro em vídeo uma opção capaz de capturar autenticamente
a obra e sua ambiência. Fazer teatro é compreender a fugacidade da vida. Fazer
teatro é saborear a caminhada sabendo que quando a cortina se fecha tudo acaba.
Fazer teatro é entender o fim. Cinema, artes plásticas, arquitetura, música, literatura,
são artes permanentes. Presunçosas. Perpetuam-se em livros, discos, película,
prédios, quadros. Um contrassenso para com a efemeridade da existência. Somente
o teatro é passageiro e insignificante como a vida. Quem viu, viu, quem não
viu, não verá.
4 comentários:
Oi meus amigos, resolvi criar um blog, é o Blog do Cruz, nele postarei meus versos poéticos e também coisas sobre meu trabalho com o teatro. Visitem lá. Um Bj.
Sorte a tua :] Bjo, grande.
Arte suicida...
Autofágica.
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