Dormia.
Enquanto dormia pensava. Estou em Cuiabá. Não no sonho, realmente estou na
capital do Mato Grosso. Estamos. Na noite anterior haviamos visto o espetáculo
Cabaré, da Cia. de Teatro Faces, de Primavera do Leste. Pensava na pluralidade e
nas diferenças do nosso teatro. Do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul
fazemos teatro de maneiras tão diversas e tão distantes que é difícil
compreender e organizar tamanhas diferenças em um único país. Sem perceber,
vemos espetáculos de outros estados com distanciamento e sem a menor sensação
de pertencimento. Esse teatro é nosso, é brasileiro. O teatro feito no Pará ou
no Paraná me pertence, é meu, diz do meu país, de um país continental que mal
percebe a sua grandeza. É isso que estão lendo: ufanismo puro. Porém, na
maioria das vezes, olhamos para muitas produções de outras regiões com desprezo,
desdém e preconceito, obstruindo a possibilidade de compreender que fazem parte
de nós, de um total brasileiro de somas, de um ser maior e antropologicamente
construído de partes. É claro que não há uma unidade, nem deveria. Somos a somatória
de nossas diferenças e não estamos imunes. Vemos o que somos, e se vemos com
um olhar imperfeito, revelamos toda a nossa imperfeição.
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5 comentários:
Meu irmão, é inevitável perceber que a partir (principalmente) das postagens "modernices" e "saudosismo", o meu amado amigo está mergulhado cada vez mais em pensamentos que não estão voltados tão somente para a lida do fazer, mas também os reflexos e reflexões a partir disso tudo e do além mais. Da poesia do pensamento me rendo por completo. Do riso, o prazer diante da dor do pensar. Do pensar, também sobre, uma satisfação de ler/ver/ouvir o tão precioso outro. Há na última postagem, prenúncio poéticos "dos canivetes" que virão, e brasileiramente confesso que a sua explícita declaração de pertencimento (não pensava que chegasse a tanto - o que não é nenhum desmérito), me faz pensar em quê e em qual país pertenço eu. Panos e mangas a serem discutidas e esgarçadas na próximas noites de julho, rsrsrsrsrs... saudades aos trubilhões.
Meu irmão! Seu comentário me comoveu profundamente, e espero que as noites de julho cheguem logo para podermos matar a saudade dos papos intermináveis, ameaçados pelo clarão do dia que nos avisa que é hora de dormir... Abraço no coração!
Não sei medir o quanto eu admiro e gosto de você. Você é um dos homens maiores que já conheci,pela forma de pensar,agir e infiltrar na alma humana nos mais escondidos recanto.O seu pensamento durante essa turnê,que me orgulha tanto,virá com muitas formas e jeitos do fazer TEATRAL.E nós só temos aganhar.Beijos ....SAUDADES...CHOROS e MUITA INVEJA...BUÀ,buá,buá.......
Minha querida amiga, eu só lamento que a vida não nos permita estar perto por mais tempo, sua presença é sempre um aprendizado, morro de saudades!
Marcelo, essa sensação de que fazemos parte de um todo está cada vez mais distante. Esse pertencimento ao mundo foi absorvido por um termo: a globalização. Passam a idéia de que estamos juntos, mas, na verdade, cada qual está isolado com seu monitor. No maranhão, o efeito desta, digamos, doença, é mais sintomático. Vivemos em uma ilha pequena, miúda, na qual a distância entre as pessoas é enorme. Quando entramos no mérito do teatro, o efeito desse distaciamento (nem um pingo brechtiano, e sim, neocapitalista) é fatal, pois a cena sempre é coletiva e o que varia é apenas o grau de passividade entre os autores, executores e o público.
Nesse intuíto, para que fiquemos mais próximos, aproveito a ocasiçao para deixar o meu blog:
igorcaffe.blogspot.com
no qual a pequena companhia já é (mesmo sem a devida permissão) um parceiro.
abraço!
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