A atualidade nos revela um sintoma
constrangedor: a falta de tempo para o outro. Ensimesmados, apaixonados pelo
nosso umbigo, não temos mais paciência com o outro. Fui ao show de André Lucap, mas quem estava lá
interessado em ouvi-lo? Bruno Azevedo esteve no Jô, porém, além dos parabéns,
quem se deteve para ler sua obra? Eu mesmo, distribuí gratuitamente trezentos
livros meus e jamais perguntei a nenhum dos “felizardos” se já o lera, para
evitar o constrangimento (risos). Se a peça de teatro for interativa, espere
para ver o show dos que vão direto para a primeira fila, esperando ser a bola
da vez. Hoje, o espectador, o leitor, o ouvinte, quer mais atenção do que a
própria obra que deveria fruir. Queremos visibilidade. Não ouvimos mais os
outros. Os diálogos são monólogos camuflados. Quando uma discussão termina, mal
sabemos do que o outro falava, mas temos na ponta da língua cada uma das nossas
geniais respostas. Tudo é festa. Tudo é besta. Tudo é fresta. Tudo é funesta tentativa
de chamar a atenção. Gritando, o miserável (oprimido pela esmagadora vida
cotidiana de trabalhar, comer e dormir) quer dizer: eu também estou aqui!
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3 comentários:
se alguém quiser ouvir na calma de seu computador pessoal...
www.soundcloud.com/andrelucap
Gracías!
O isolamento dos nosos artistas é um fato estranho, já que São Luís é um ovo. A província devora suas crias. Um problema é a divulgação, dependente dos meios de comunicação oficiais. Fora que faltam críticos sérios - com conhecimento de causa - na imprensa local. Aqui o que passa por jornalismo cultural é o que Luiza achou na feira. Opinião não há. E os que não prendem o rabo ao sistema precisam correr por fora para divulgar seus trabalhos, é roça.
... e o vinho aqui em casa vai ter que ficar para a volta, boa pauta para uma conversa.
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