domingo, 26 de setembro de 2010

O miolo da estória


Lauande e a Literatura Viva

Sábado, dia 18, fui ver o último espetáculo solo de Lauande Aires. É sempre bom ver nossos amigos em cena, principalmente quando a encenação é contundente. Não vou aqui fazer nenhuma crítica aprofundada, não é meu ofício, mas quero registrar minhas impressões. Gostei muito. Vi em cena uma ator íntegro, consciente e bem preparado. A narrativa me envolveu e cheguei a me emocionar em vários momentos. Também dei boas risadas. Os únicos pontos que me fizeram distanciar da cena foram a iluminação – não me agradou, as transições – há algo nelas que não dão a fluidez necessária para o desenrolar da ação, e a traquitana da cena final – tem tudo para ser bela, mas precisa ser melhor resolvida. No mais, é lindo, comovente, lúdico, coerente e – em tempos de discursos vazios – político, sem ser panfletário; ainda que eu não incorra no equívoco de achar que o “ser panfletário” seja um defeito. O solo também serve para reforçar meu parecer sobre a cena teatral maranhense em relação à produção Brasil afora. Estamos fazendo. Quão todos. Nem pior nem melhor. Competentemente quanto.

2 comentários:

XICO CRUZ disse...

já vi Lauandes em cena e é um ator de primeira linha, adoro o trabalho dele.

Rosa Ewerton Jara disse...

João não é miolo de pote, muito menos conversa pra boi dormir. João é prosa das boas, pra deixar a gente acordado, atento da primeira à última palavra, esperando o desenrolar da vida desse homem do povo, um de nós, torcendo, chorando e se emocionando com ele. Lauande Aires, com o popular nas veias (sua busca de sempre), nos oferece um personagem humano, desse tipo com o qual você pode topar a qualquer hora na rua. João, com seus questionamentos a respeito da vida e dos rumos que ela lhe abre, com seus horizontes parcos, que se acabam quando acaba a obra (João é da construção civil, como o próprio pai do autor). João, que é artista e que almeja mais com isso. É miolo, quer ser amo (como o próprio autor na sua trajetória artística). O monólogo é quando o ator vira amo?! Toma e sacode o maracá da sua própria sorte?!É um ato de coragem!
Lauande, nota-se, preparou seu corpo para conceber João. Pode ir além. Lança mão de músicas, composições próprias, cujos arranjos e execução podem, ainda ser enriquecidos. Ouso dizer que a música percussiva cairia melhor à natureza do espetáculo. Lauande, sempre coerente, não abre mão do seu discurso político, nem deixa de lado a poesia e o bom-humor para abordar temas delicados.Agora é fazer rodar o espetáculo, que a madureza lhe dará mais vigor e arredondamento. Evoé, Lauande Aires! Que as estradas te sejam leves, ator!