quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sobre ser ator e amigo do encenador

Tive alguns diretores na minha vida, nesta ordem: Mauro Soh, Graça Ferraz, Gilberto Freire, Antonio Abujamra e Marcelo Flecha. Do primeiro, achavam que nós éramos irmãos. Da segunda, não nos falamos mais. As línguas dizem que ela me achou um chato. O terceiro, tínhamos uma relação afetivo-amorosa segundo toda a cidade de Imperatriz. No censo próximo passado responderam ao questionário sobre uma certa relação. Abujamra me perguntou uma vez: "Meganov, eu sou o melhor diretor que vc teve?". Respondi sem pestanejar: "- Nem morto!. Agora, Marcelo Flecha.

Atores são humanos e falhos, e mudam de acordo com a configuração dos astros, com a moda (piada isso), com o seu processo. Mudam cabelo, barba, corpo, alma. Diretores também, mas não no ritmo dos atores.

Minha relação, com os diretores, ideal, será a de aproximação total, de comunhão com a estética, com a vida. Precisa ser amigo, até para absorver críticas, questionamentos, um bom diálogo... Com Marcelo Flecha tive dois processos de montagem: Entrelaços e agora com Pai & Filho. 

Em Entrelaços, uma certa apreensão e um temor de decepcioná-lo. Estava há tempos sem ser dirigido, sem alguém para dialogar comigo na cena. Então, me contive um pouco e deixei rolar, fiquei mais amável, digamos assim (risos) comigo, principalmente.

Depois, Pai & Filho. Fiquei mais seguro, e isso não foi tão bom nem tão ruim. Como leite morno. Sem açúcar ou adoçante. Gosto do sabor de coisas mornas. Não sou um ator morno. Não sou um ator mediano. Nâo sou um ótimo ator. Sou ator. Simples e complexo assim.

Eu me angustio com muitas coisas, e uma delas é sempre estar insatisfeito com o resultado do trabalho. Sempre acho que posso/poderia ser melhor. Há uma insegurança mais pela figura do próprio encenador. Parece-me que, quando o encenador sabe o que quer, o ator fica mais exposto às suas falências. Sinto-me meio falho em algumas coisas, e para isso o vídeo é terrível. Marcelo sabe como é ator. Ele se aproxima um pouco disso.

Acho que preciso ser mais ator do que sou
(foto de Tharson Lopes)

Hoje, minha insegurança está em permanecer na Companhia sem, contudo, me preocupar com projetos particulares. Como ser um ator profissional se não está permanentemente em cena? Quero estar em temporada eterna. Assim, como estou, sinto-me incompleto e só. Distante do palco (não questiono a temporalidade, não agora), distante de quem amo, distante dos amigos. Construir a eternidade na vida não equivale a segundos de prazer no processo de encenação.

E assim, construo mais uma lacuna para ser preenchida. Ontem, entreguei um projeto de residência em artes cênicas pela Funarte. Crise à vista?

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