o
teatro sempre teve na memória uma de suas maiores aliadas, tanto no
aspecto mais perceptível, que é, a cada récita, recuperar as
marcas e o texto que foram exercitados na temporada de ensaios, como
também sendo mecanismo de construção das personagens que
dissimularão a realidade na ficção.
na
construção desse processo, o efêmero – força motriz do teatro –
insiste em fazer com que cada apresentação seja única, pois com
muitas variáveis – espaço de apresentação, temperatura, estado
de saúde dos atores, humores, ser uma arte presencial –, não se é
possível repetir as mesmas sensações em todas as apresentações,
tanto na perspectiva de quem atua quanto na de quem especta.
como
os métodos e procedimentos adotados pelos grupos de teatro em suas
montagens são variados, variada também é como a memória é
acionada ou exigida pelos envolvidos.
na
pequena companhia de teatro, utiliza-se de um único procedimento
metodológico para treinamento de seus atores e composição de
personagens para seus espetáculos. busca, no decorrer de sua
existência, compor uma estética que privilegie a dramaturgia do
ator. com isso, distancia-se de um teatro de estética naturalista e
se aproxima de um teatro que busca no “extracotidiano” (burnier,
2001; barba, 1995; ferracini, 2001) uma alternativa de potencializar
o trabalho do ator. nesse aspecto, a memória já se efetiva numa
outra abordagem. enquanto que no teatro que se diz naturalista a
“memória emotiva” (stanislávski, 2001) auxilia o ator na
composição de seus estados e intenções de fala, pelo viés da
interpretação, na pequena companhia a “memória individual”
(halbwachs, 1999) e a “identidade” (bauman, 2005; silva, 2000) de
seus membros é quem dará a substância necessária ao ator para
“representar” (burnier, 2001; barba, 1995; ferracini, 2001) e ao
encenador para, efetivamente, em sua formas singulares de ver,
perceber e sentir o mundo, viabilizar a cena.
essas
sensações são possíveis a partir da percepção do “ser-no-mundo”
(saramago, 2012), que é, ao mesmo tempo, gerador de significados e
significante, pois que a escrita do ator se estabelece mediante as
ações do corpo na construção de representações, a partir do que
experienciou, se filiou, se pertenceu e deixou-se pertencer. como
cada ator tem suas singularidades e sua história individual de vida,
e como esse teatro não é um teatro interpretativo, mas sim
representativo, cada ator compõe a partir de seus referenciais
existentes no corpo e na sua história. nesse tipo de teatro,
desconsidera-se o physique
du
rôle,
pois se representa algo à sua maneira, e de forma extracotidiana.
a
memória estabelece-se também, na pequena companhia de teatro,
através de registros áudio-visuais. um amontoado de fotos, vídeos,
escritos, croquis, material gráfico, depoimentos, anotações,
recortes de jornal, projetos elaborados, figurinos, elementos de
cena, que tendem ao esquecimento quando não são revisitados, mas
contam a história coletiva de um grupo de quatro amigos e que está
registrado; memórias que contam uma história não oficial do teatro
de grupo de pesquisa em drama no maranhão.
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