O blog tem sido
a conexão do meu pensamento com o exterior, a minha relação com o mundo outro
que o meu mundo mesmo de sempre. Este instrumento conecta os conhecidos íntimos
e os poucos amigos com alguma opinião minha mais organizada, um pensamento meu mais
extravagante, uma reflexão um pouco mais desenvolvida, e me brinda com a
saborosa interlocução dos mais atenciosos e delicados, com seus comentários
escassos e provocativos. Pessoalmente, apenas dois ou três amigos íntimos me visitam para trocar uma ideia nesta masmorra construída por Katia
para me isolar do mundo, e que atende pela alcunha de Residência Lopes Flecha
para momentos privados, e de Pequena Companhia de Teatro para temas de ofício.
Sorte a minha, porque nem de gente eu gosto.
Por outro lado,
tenho recebido convites que reforçaram o que exercito no blog, quando convidado
para uma sorte de encontros, aulas, palestras, mesas redondas e retangulares.
Essa prática tem me provocado imensamente, e servido para me relacionar de
maneira mais presencial com o pensamento teatral e seus provocadores, que em
grande parte, são queridos e generosos amigos. As mais recentes jornadas de pensamento
foram no FestLuso – Festival de Teatro Lusófono, em Teresina/PI, e no Festival
O Mundo Inteiro é um Palco, em Natal/RN. Não pude ir para o Festival de Teatro Velha
Joana, em Primavera do Leste/MT, mas pagarei a dívida na próxima edição. Todos
esses encontros acabam se tornando espaços para reverberar as reflexões que já
faço aqui.
Estou enrolando
para ver se você percebe que estou há dois domingos sem postar, pois, preciso
dessa constatação para fundamentar a pergunta que perpassará o desenvolvimento
desta postagem. A sensação de alívio de passar quinze dias sem escrever não
abranda minha culpa, sem saber direito com quem firmei este compromisso. Como
todo e qualquer fato insignificante gera aqui uma inútil reflexão, foi
inevitável que o silêncio das teclas durante duas semanas me provocasse a pergunta
que se reitera com certa frequência durante os últimos seis anos em que decidi
compartilhar minhas opiniões, seja virtual ou pessoalmente: qual o motivo
disso? E as outras: o que valora um pensamento ao ponto de torná-lo útil ao
público? O que sobrevive de uma reflexão, a não ser a vaidade do autor de sentir-se
tão importante ao ponto de achar que sua ideia merece alçar horizontes além do
seu banheiro? Por que a autoafirmação contemporânea passa por expormos nossa
opinião publicamente sobre qualquer assunto, polêmica, notícia, sem nem saber
ao certo quem é o nosso interlocutor? Por que tememos tanto a nossa
insignificância, e evitamos nos confrontar com o fato de que nossa opinião não
tem a menor relevância perante a magnitude da crueldade dos assuntos que
assolam e carcomem nossa sociedade?
Não sei. Os fóruns
específicos, como os encontros e mesas que citei acima, ainda me parecem menos
estéreis, e consigo voltar de cada um deles com a sensação de ter contribuído para
coisa alguma, de estar em contato com a opinião de muitos que respeito, mas, sobretudo,
das gargalhadas entre os pares, das ironias ao constatar nossa pretensão de
achar que estamos mudando algo. Já as reflexões virtuais, essas onde somos
seduzidos a falar de tudo e todos, ainda me despertam do sono – nada me tira o
sono; por isso me esforço há anos para utilizar o teatro como epicentro
provocador do meu pensamento e das consequentes reflexões.
Tenho percebido –
é apenas uma suspeita – que no meu caso se estabelece uma necessidade de dizer,
e está diretamente relacionada com o fazer teatral da Pequena Companhia de Teatro.
Meu caminho de expressão desse dizer sempre foi o teatro. Como nós montamos, em
média, um espetáculo a cada três anos e meio, a lacuna deixada pelo tempo de
silêncio atentou meu juízo, levando-o a assentar minhas ponderações em outros
veículos, e o blog, os encontros e as escassas visitas canalizaram essas
elucubrações. Como a ideia agora é tentar reduzir esse tempo, fazer um esforço
para montar um espetáculo a cada ano e meio ou dois anos, pela urgência de
dizeres que o momento atual exige, eu me pergunto: essas reflexões devem
minguar? Deveriam? Se o artista se expressa a partir da sua obra, é necessária
a exposição do seu pensamento através de outros meios? Ou seria o momento de
repensar a frase do prólogo de Oscar Wilde para o Retrato de Dorian Gray,
quando diz que “revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte”? Não
sei. Hoje o dia foi de perguntas. Espero não estar falando com as paredes,
pois, nesse caso, bastaria entrar no banheiro.
5 comentários:
Fui sua parede, porém absorvi algo. Rsrsrs. Abraço
Saudades :*
Saudades :*
Passa quinze dias sem escrever, e aí me vem com esse migué???????? Finalmente acabou a inesgotável fonte de assuntos pra tergiversar online???? KKKKKKKKKKK!!!! Tamo precisando tomar uma cachacinha pra dar uma renovada no estoque! Saudades, camarada! Me acostumei mal de ficar te encontrando todo mês!!!!
Na verdade, é a chegada do recesso do fim de ano... Vai dando uma preguiça... Mas o bom papo seria um estimulante infalível! Dei uma viciada, tambem! Vamos tentar aumentar a frequência ano que vem, Fernando! Saudades!
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