De 22 a 28 de agosto passado
acompanhei a totalidade do FestLuso – Festival de Teatro Lusófono, em
Teresina/PI, e participei da 5ª edição do NORTEA – Núcleo de Laboratórios
Teatrais do Nordeste como expositor na mesa redonda “Teatro brasileiro de
expressão nordestina: realidades, desafios e perspectivas”, além de dialogar
através de demonstrações técnicas, encontro de diretores lusófonos, colóquios,
conferências etc. Foi uma semana intensa, provocativa, afetiva.
A querida leitora, o caro
leitor, sabem que toda experiência artística me provoca reflexões. No caso,
lanço o olhar sobre os festivais, seus objetivos, desafios e padeceres, a
partir de um exemplo singular, um encontro que se propõe a reunir todos os
países de língua lusófona através do teatro – no caso da edição 2016, Brasil
(Piauí, Bahia, Ceará e Rio de Janeiro), Portugal, Cabo Verde, Angola,
Moçambique e São Tomé e Príncipe.
A primeira angústia emerge
do enlace da realidade do FestLuso com a grande maioria dos festivais de teatro
brasileiros: a falta de apoio continuado, tornando a edição seguinte uma mescla
de sonho, desafio e abnegação. Com raríssimas exceções, todo festival
brasileiro que se finda vive o dilema de não fazer ideia de como promoverá o
vindouro, fator de comprometimento agudo no que tange à qualidade da
programação, ao recorte curatorial, aos provocadores convidados, e a todo o
entretecido que forma um festival de qualidade. É fácil colocar o olhar crítico
durante, quando não se conhece o período de pré-produção dispensado possível,
tendo em vista que algumas experiências chegam ao lançamento com promessas
políticas e conta vazia.
Outro apontamento é quanto
ao principal equipamento teatral da cidade, o Teatro 4 de Setembro, palco
central da mostra lusófona e que, por coincidência, nos recebeu na semana
anterior para a apresentação de Velhos caem do céu como canivetes, pelo SESC
Amazônia das Artes. É urgente remediar o problema acústico provocado pela
instalação de um número inimaginável de spliters em substituição à central de
ar-condicionado anterior. Se a casa já não era de uma acústica impecável –
apresentamos “Ramanda e Rudá”, em 1999 – agora transformou-se em um sumidouro
de vozes, e nada que seja dito no palco consegue se ouvir se você estiver a
partir da quinta fileira da plateia.
Observados esses dois
problemas que perpassaram toda a mostra, ressalvo alguns pontos que valem a
reflexão crítica, e me provocam como convidado e permanente colaborador deste
querido festival. Quanto à necessidade de haver um recorte curatorial
específico – neste ano versou sobre a negritude e suas ramificações – o
comentário atento de Jorge Choairy ao ouvir meus relatos deu o tom da
provocação: o ser lusófono já não é um recorte significativo como para somar
recortes específicos? É uma questão que penso que valha ser analisada, sob pena de
inviabilizar uma produção potente.
Certamente, a diferença mais
significativa em relação às edições anteriores que acompanhei, foi a realização
do NORTEA, deslocada sua 5ª edição do FILTE Bahia – Festival
Latino-americano de Teatro da Bahia para o FestLuso. Se nos anos anteriores era reservada
uma manhã para o encontro de diretores lusófonos, este ano todo o período
matutino do festival dedicou importante espaço para a problematização do
teatro, seu fazer e dizeres. Um diálogo intenso foi travado durante toda a
jornada, oxigenando a mostra e ampliando seu alcance reflexivo. Penso que uma
maior presença deveria ser cobrada dos grupos participantes em todas as
atividades formativas e reflexivas, como contrapartida ao esforço da
organização em viabilizar o intercâmbio. Essa participação auxiliaria no
mapeamento dos grupos, suas estruturas e formas de manutenção artística.
Quanto à mostra propriamente
dita, o recorte lusofônico promove um desnivelamento qualitativo significativo,
fazendo o espectador transitar por estéticas e linguagens atípicas, ora seja
por contingenciamento econômico evidente, ora pela peculiaridade da
construção desenvolvida naquele país. No geral, percebe-se que há um esforço
conjunto, por parte da produção e dos grupos convidados, para conseguir manter
de pé uma proposta tão autêntica e tão na contramão do mercado cultural; e estendê-la
para todo o estado, pois a mostra se ramifica por outros municípios do Piauí,
alargando o alcance dos recursos públicos envolvidos.
Foi uma experiência deliciosa
e exaustiva (me propus acompanhar todos os espetáculos da mostra e todas as
atividades reflexivas, tornando a rotina diária uma jornada que começava às 9h e
terminava às 3h.), e em cada momento, em cada canto, em cada diálogo a certeza
da potência que encontros artísticos dessa natureza têm para ajudar a
confrontar momentos tão duros como os que estamos enfrentando atualmente. Os afetos
envolvidos também me tornam suspeito, mas quero acreditar que, ao enfrentar um
desafio tão instigante quanto o FestLuso oferece, todos os envolvidos –
organizadores, artistas e voluntários – estão empenhados em superar-se, ano após
ano, na busca de produzir o melhor festival possível para a comunidade piauiense.
6 comentários:
Grande Flecha! Obrigado pelos dias de convivência. Abraço
Foi uma prazer, Alexandre! E prazer maior te conhecer, amigo!
Disse tudo e muito mais Fecha, obrigados pela presença e pelas reflexões e assim vamos construindo um Festluso para todos.
Obrigado querido Flecha.
Obrigado querido Flecha.
Salve, meu querido amigo Pellé! É gratificante perceber sua atenção aos diferentes olhares, e a forma como você os processa em benefício do FestLuso! É um honra para mim poder contribuir de alguma forma para o amadurecimento de um projeto tão importante para o teatro brasileiro. Você sabe que pode contar comigo sempre! Aguardo sua prometida visita! E eu é que agradeço, Castro!
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