Hoje presto uma homenagem a
você, minha cara leitora, meu caro leitor. Dos meus dez anos de Pequena
Companhia de Teatro, seis foram ocupados escrevendo neste blog, em um
permanente adestramento do pensamento para tentar estabelecer um diálogo
reflexivo, escrevendo sobre teatro e todo o seu entorno, o mundo, pois, para
mim, o mundo gira em torno dele.
Portanto, hoje abandono
minha permanente lamúria quanto à sua indiferença, minha constante chantagem
por uma leitura, minha persistente insistência na sua presença, para dar lugar
ao fato que escondo, por mero mecanismo de defesa, pois, sou apenas um fabulador que faz da sua
escritura uma tentativa de aproximar um pensamento quanto aos caminhos que
podemos seguir para sentirmos úteis fazendo algo de inútil nesta vida de
exigente rendimento.
Comecei escrevendo para
ninguém; outrora, para quase ninguém; logo, para alguns; mais tarde, para
poucos; depois, para vários; e hoje escrevo para algumas centenas e, dependendo
da postagem, milhares. Sim, essa informação que escondo permanentemente de
você, para que não me abandone, hoje é uma realidade que quero externar e lhe
dedicar.
É difícil prestar esta
homenagem sem revelar minha surpresa ao ver a quantidade de gente que, no
decorrer dos anos, se aproximou para estender seu olhar e amenizar as angústias
que este parco escritor carrega na lida com um mundo repleto de injustiças,
desigualdades, mazelas e intempéries. Perceber que mais e mais pessoas estão
atentas às agruras de uma sociedade precária de autocrítica me fez acreditar
cada vez mais na potência do diálogo e na necessidade de questionar tudo e
todos, para que das questões surjam mais conceitos e menos iluminuras.
Em certa medida, íntima e
cálida, você é parte do meu pensamento, parte do meu ser, parte do meu existir,
parte da minha teimosa fortuna de jamais desistir. Você está aí e eu não sei se
lhe conheço, mas você me conhece na mais profunda intimidade e me ampara com a
generosidade de um irmão, de uma amiga, de um compadre, de uma companheira,
extraindo de mim um compromisso inadiável, um diálogo inimaginável, um
franqueamento incurável.
Por isso, minha homenagem.
Jamais desista de mim, minha cara leitora, meu caro leitor. Jamais abandone a
esperança de tornar o diálogo a arma para combater as mazelas do mundo, as
faltas sociais, os descompassos da vida. Você é a minha esperança de que ainda
existe espaço para a reflexão, para o pensamento, para o questionamento, para o
velado desconforto atual de debater ideias.
A homenagem não apresenta
uma justificativa palpável. Não é uma data específica, nem é o dia que iniciei
este exercício; não há marca no calendário, não estou morrendo (espero), nem
vou parar de escrever. Não há nada que pontue esta homenagem, a não ser o
reconhecimento do quão importante você se tornou no decorrer dos anos, e no
quanto eu, por mero exercício de sobrevivência criativa e literária, insisti em
ocultar, imaginando que talvez um dia, sem aviso prévio ou motivo justificável,
você fosse desaparecer. Obrigado. Por mais infiel, irresponsável, traidor, displicente
e preguiçoso, você jamais me abandonou.
2 comentários:
Grato senhor, por dividir o pão, a maçã, o fogo, a ideia é o suor.
A gratidão é minha, não fosse por vocês, isto não existiria... ou sim? E você não respondeu o meu recado!
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