Em 2012, durante a nossa
circulação pelo Palco Giratório, assistimos ao espetáculo Cabaré, do Teatro Faces,
de Primavera do Leste/MT, e debatemos com eles a encenação – prática do projeto
de circulação do SESC após as apresentações. Na ocasião, também encontrávamos o
querido amigo Sandro Lucose, elo entre a longínqua apresentação e a
nossa proposta de ocupar o município mato-grossense com todas as nossas
atividades durante a semana que hoje se encerra.
O teatro tem dessas coisas:
um espetáculo, uma conversa, um amigo em comum, um contato feito cinco anos atrás,
reverberam nas trajetórias dos grupos e possibilitam encontros inesperados como
o que estamos vivendo aqui, graças ao patrocínio da Petrobras, através do
Programa Petrobras Distribuidora de Cultura.
Quando a Pequena Companhia de Teatro pensou o termo Teatralidades foi na perspectiva de extrapolar a ideia de circulação e tentar estabelecer um conceito de permanência, convivência, entrançamento e intercâmbio com a comunidade que nos hospeda, e o primeiro passo dessa ideia encontrou eco em 2015, quando da ocupação do Centro Cultural Banco do Nordeste, em Sousa.
Quando a Pequena Companhia de Teatro pensou o termo Teatralidades foi na perspectiva de extrapolar a ideia de circulação e tentar estabelecer um conceito de permanência, convivência, entrançamento e intercâmbio com a comunidade que nos hospeda, e o primeiro passo dessa ideia encontrou eco em 2015, quando da ocupação do Centro Cultural Banco do Nordeste, em Sousa.
Agora, com o auspício da
Petrobras, a experiência se estende a outras três cidades brasileiras, quando
nos instalamos durante uma semana no município e tentamos entender ao máximo
sua gente, as agruras, desejos, conquistas e frustrações.
Claro que nossa observação
está relacionada principalmente à forma como o teatro está capilarizado na
comunidade, de que maneira está inserido no cotidiano da cidade, como se
confrontam a obrigação do poder público de construir cidadania e a necessidade
de responder ao mercado; tentar entender em qual pé está assentada a relação
teatro & cidadão.
O que se vive aqui em
Primavera é uma experiência incomum. Escola de teatro, grupos, centro cultural, secretário da área teatral com profundo conhecimento
teórico e prático, alunos de teatro com bolsa de estudo, professores de teatro
oriundos da escola contratados para lecionar, crianças brincando de teatro,
artistas vivendo de teatro, teatro em árvore, teatro em caminhão cegonha,
teatro de sombra, teatro na praça, teatro de graça; e o mais surpreendente,
tudo isso em um município de pouco mais de cinquenta mil habitantes.
Claro que a primeira
pergunta que emerge dessa pancada criativa é: como isso é possível? Um diagnóstico
mais aprofundado exigiria muito mais do que uma semana, porém, a primeira
resposta que encabeça todas as outras é: vontade política. Vontade política de
abraçar boas ideias. Vontade política de identificar e apoiar projetos interessantes.
Vontade política de criar condições para o desenvolvimento das artes. Vontade
política de contratar seu secretariado por mérito. Vontade política de não se
tornar um refém do voto. Vontade política de desenvolver uma gestão programada
para todo o mandato, e não para o último ano. Vontade política de ser um
servidor; ressalvando que, para servir, precisa-se de vontade – infausto
paradoxo.
Em resumo, não há nada mais
nocivo para a sociedade do que ver seus gestores alastrando sua melancólica falta
de vontade e sua aguda preguiça intelectual.
4 comentários:
Uma direita no queixo da preguiça política, Marcelo. Certeiro, como sempre.
Obrigado, Rosa! Adoro vê-la por aqui!
Primavera nos denuncia mesmo.
De onde vem tanta energia para cultivar essa nossa vontade de preguiça?
Como conseguimos ser tão articulados em fazer procriar uma política estacionária?
Quantos arranjos éticos fazemos para sustentar nossa docilidade estética?
a Primavera é o reflorescimento da flora terrestre.
e do teatro também. regem as boas vontades e deixem florir cultura e arte.
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