Semana passada
estive em Mossoró palestrando sobre gestão teatral e as estratégias necessárias
para encarar tempos de crise, um encontro informal e caloroso com as queridas
companhias A Máscara e Pão Doce. O objetivo era tratar a ideia de crise no
sentido amplo, abordando crises financeiras, de relacionamento, de gestão, de
identidade, etc. Aqui concentrarei minha atenção na dita crise econômica que
tanto espaventa.
Nunca me
agradou a mistura entre arte e mercado, roda de negócios, comercialização,
metas, coaching, produto, lucro, e toda a parafernália mercadológica que é
apresentada como obrigatória para o sucesso de uma companhia teatral. Costumo
tratar esses mandamentos de maneira distanciada e informal, para não me
descobrir, no futuro, um tecnocrata das artes, pançudo e mal pago. Contudo,
entendo que vivemos em um mundo onde a indiferença a esses fatores pode ser
assustadoramente nociva para o futuro de uma companhia que sobrevive
exclusivamente de teatro, como é o caso da Pequena Companhia.
Em tempos
difíceis, o que diferencia o teatro de pesquisa de todas as outras atividades
do mundo, é que ele sempre esteve e estará em crise econômica. Ele não sabe o
que é vida além da permanente dificuldade de sobreviver do seu fazer, portanto,
permanece também imune às subidas e descidas de dólar, bolsa, produto interno
bruto, taxa de juros etc. O que rege a vida teatral é a subida e descida do
pano.
Essa condição
deve servir para fortalece uma visão estratégia do grupo de teatro, e tentar
perceber a trajetória a longo prazo, arremessar o pensamento ao futuro,
imaginar os quadros mais negativos possíveis, e usar a criatividade artística
como instrumento gerador de soluções além do óbvio.
Não existe uma
regra; penso que cada coletivo deve fazer um diagnóstico preciso da sua
situação e, a partir daí, elencar as mais estapafúrdias ideias que dialoguem
com seus desejos e dizeres, para formar um banco de possibilidades a serem
avaliadas, estudadas, testadas e aplicadas em tempos progressivos e momentos
cruciais.
Quando digo
estapafúrdias não brinco: de que maneira o espetáculo Velhos caem do céu como canivetes pode ensinar o público chinês a falar português? Em que tipo de
leilão pode se leiloar o cenário do espetáculo que já morreu? Como invadir, com
um espetáculo, um festival de teatro que não fomos selecionados? Como convencer
o mercado a não tratar a arte como mercadoria?
A ideia parte
do mesmo princípio que uso para conceber uma nova encenação; pensar além do
óbvio, não temer o ridículo, não desistir prematuramente, assustar-se com a
própria ideia, evitar o engessamento, sacudir a certeza, respeitar o desalento,
resistir. Claro que tudo isso quase nunca dá certo, entretanto, como não cobro
pelo conselho, tampouco pago pelo fracasso.
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