Hoje eu queria escrever para os que
têm fome. Os desprovidos. Os sem celular, sem internet, sem pizza de domingo,
sem TV, cabo, parabólica, para-raios. Hoje queria escrever para os sem teatro,
sem cinema, sem circo, sem som, sem poema. Os sem teto, sem casa, sem palhoça,
sem barraca. Os sem fazenda, tenda, vivenda, vidraça. Hoje queria escrever para
os sem voz. Os mudos que gritam para ouvidos moucos. Hoje queria escrever para
os que não sabem ler, e ler, para cada um deles o que agora escrevo.
Analfabetos, destituídos, despidos. Sem roupa, sem shampoo, sem shopping, sem
chá de boldo, sem cartões de débito, sem crédito, crediário, balneário. Os sem
carro sem carroça sem Carrefour. Hoje queria escrever para os sós, os
solitários, os abandonados, os largados, os excluídos, os invisíveis. Os
anoréxicos compulsórios, os jejuadores de nascença. Os sem berço, os sem bolso.
Os sem estirpe, linhagem, origem. Os sem nome, sobrenome, codinome. Escrever
para os que só têm algo quando sobra. Os sem bandeira, os sem panela, os sem
domingo, os sem feriado, os sem férias, os sem feira. Os sem beijo de boa noite,
os sem caminha limpinha e quente, os sem dentes. Os sem passado, sem presente,
sem futuro. Os sem pão duro. Escrever para os pobres, os miseráveis, os
indigentes. Os sem saúde, sem samba, sem túmulo. Os sem mundo. Hoje queria escrever
para eles, mesmo sabendo que nenhum lerá esta postagem.
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6 comentários:
Wow!
Marcelo Flecha sempre surpreendendo!
Eu li.... Me enquadro num ou noutro llistado. E quem não está? Quem disse que não será lido Marcelo Astucioso Flecha? Kkkkkkkkk. Xerim de alecrim
Escreveu
Anônimo, quanto tempo! Obrigado Lu! Esse rdtxt suspeito que seja o André... Vou arriscar um beijo para os três.
Marcelo Messiânico Flecha. Geni curtiu isso :)
(Risos) "Geni" foi ótimo!
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