Penso
que as marcas de expressão que carrego no rosto formam o mapa da minha
trajetória. Aprecio cada ruga, cada cicatriz, cada mancha, porque dizem de um
tempo vivido, de momentos perpetuados, de passos dados em busca do presente. O Ser Humano, do espetáculo Velhos caem do céu como canivetes, também carrega as
suas marcas no rosto, contudo, o mapa traçado é compreendido de desalento,
frustrações, dores, desilusões – riscos na pele que revelam a alma. Diferentemente
de Pai & Filho – quando o espetáculo apresentava duas personagens mais
arquetípicas, e os antônimos opressor & oprimido, vítima & algoz, eram
marcantes e delineavam a trajetória dos seres em questão – o novo espetáculo caminha
para apresentar personagens mais sutis. A permanente indefinição da origem do
Ser Alado desconstrói a imagem arquetípica angelical e oferece maiores nuances.
Anjo? Ave? Sonho? Homem? Demônio? Delírio? Esse ser com asas guarda consigo o
mistério da própria existência. Cabe a um mísero ser humano decifrar o enigma,
trambalear no ardil construído pelo voador, sem deixar-se atordoar. Ou seria
apenas um delírio místico? Um desejo mítico? Se a fome é a pior das dores, de
um ser fragilizado por ela tudo pode se esperar. Essa estrutura dramatológica
viabiliza uma investigação criativa mais particularizada das personagens e
oferece para os atores um arsenal mais delicado de instrumentos para a construção
dos seres. Nesse astucioso momento do processo nos encontramos hoje. Costurando
a teia que organiza estas personagens para que alcem voos íntimos, complexos
e duradouros.
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